O escândalo dos
fundos de pensão
O editorial do jornal Gazeta do Povo de 19/04/2015 tem um título que merece despertar a atenção de todos. São milhões de pessoas com suas aposentadorias em risco, por conta de situações que constituem verdadeiros escândalos.
A ADCAP espera que
as instituições percebam logo a gravidade do quadro estabelecido e adotem as
medidas necessárias para corrigir tudo isso.
Na opinião da
ADCAP, há razões mais que suficientes para a constituição de CPI e para a
adoção de outras medidas voltadas à correção de rumos nesse tema.
Direção Nacional da ADCAP.
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Gazeta
do povo
EDITORIAL
O escândalo dos fundos de pensão
A ameaça de insolvência em que se encontram fundos como
o Postalis, dos Correios, e Funcef, da Caixa, deve-se não apenas a gestões
negligentes, imprudentes ou imperitas, mas também à má-fé
19/04/2015 – 00h01
São
imensas as frestas abertas da corrupção no Brasil. Poucos ou até mesmo
inexistentes são os setores infensos à ação de malfeitores ávidos em avançar
sobre o patrimônio público, ora em benefício do patrimônio pessoal, ora
direcionando-o para políticos ou partidos que, em troca de vantagens, os protegem.
São chocantes os exemplos que, neste sentido, nos foram oferecidos pelo
mensalão e agora, mais recentemente, pelo petrolão – casos em que se conluiaram
servidores públicos de alto escalão, grandes empreiteiras, parlamentares e
siglas políticas, todos envolvidos num mesmo objetivo, o de apoderar-se de
dinheiro alheio para obter lucros escusos.
Em
meio à repercussão centralizada naqueles dois maiores e mais conhecidos
escândalos, por frestas pouco menores – mas não menos importantes do ponto de
vista da moralidade – esvaem-se também recursos de pequenos contribuintes que
recolhem parcelas de seus salários na esperança de garantir futura
aposentadoria. A corrupção também pega em cheio alguns dos mais ricos fundos de
pensão de estatais federais, como se revela nos casos do Postalis e do Funcef,
respectivamente dos servidores dos Correios e da Caixa Econômica. Não escapam
da mesma sanha o Petros (da Petrobras) e o Previ (Banco do Brasil).
A crise dos fundos é assunto de interesse coletivo e precisa ser
investigada a fundo
A ligá-los há uma primeira coincidência: são todos administrados por gestores indicados pelo PT, PMDB e outros partidos. Uma segunda coincidência: todos se tornaram deficitários e incapazes de garantir a perpetuidade da seguridade prometida aos seus milhares de associados. E terceira: a ameaça de insolvência em que se encontram deve-se não apenas a gestões negligentes, imprudentes ou imperitas, mas também à má-fé. A ponto de se cometer fraudes documentais em que tintas corretoras de uso escolar foram utilizadas para adulterar cifras e cifrões.
O
Postalis apresenta rombo de R$ 5,7 bilhões e, para tapá-lo, sua diretoria
pretende recorrer ao mais usual artifício: obrigar aqueles que em nada
contribuíram para o descalabro a pagar a conta mediante desconto, por longos 15
anos, de 26% de seus salários. O “furo” no Funcef é também superior a R$ 5,5
bilhões e o remédio encontrado para cobri-lo é semelhante, isto é, aumentar por
12 anos a alíquota de contribuição previdenciária dos empregados. Claro que nos
dois casos as entidades de representação dos servidores movem medidas judiciais
para que eles não sejam punidos com o corte de um quarto de seus salários.
Como
os fundos de pensão movimentam cifras gigantescas, em boa parte oriundas
diretamente também dos cofres públicos, sua crise administrativa e moral passa
a ser assunto de interesse coletivo e que precisa ser investigada a fundo. Daí
a iniciativa de alguns senadores de partidos de oposição visando à criação da
CPI dos Fundos, mas o governo – por razões óbvias, mas nunca declaradas – se
esforça para impedi-la. Já conseguiu, por exemplo, que a bancada do PSB
retirasse suas assinaturas de um requerimento de instalação e articula outras
medidas para enterrá-la de vez, embora a oposição siga tentando: na
sexta-feira, dia 17, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima, disse ter as
assinaturas necessárias para protocolar o pedido, e vai fazê-lo na próxima
quarta-feira, dia 22.
Podemos
nos espantar com a atitude do governo de querer empurrar para debaixo do tapete
a necessária investigação dos fundos? Não. Pelo contrário, a sabotagem apenas
expõe à luz do dia a hipocrisia de quem afirma que se deve ao atual governo o
combate rigoroso à corrupção no país. Na verdade, não se deve ao governo, mas a
instituições do Estado que, com independência, têm sido assertivas na tarefa de
selar algumas das incontáveis frestas – como o que vêm fazendo, no caso
emblemático da Operação Lava Jato, o Ministério Público Federal, a Polícia
Federal e o Judiciário.
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