O rombo da Petros
Estadão/Editorial
07 Dezembro 2015
07 Dezembro 2015
O rombo atuarial de R$ 20 bilhões do
fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás (Petros) estimado por integrantes
do conselho fiscal, embora imenso, é apenas o mais recente detectado nas
instituições de previdência complementar vinculadas a empresas estatais.
Se confirmado o valor, que a direção
do fundo não reconhece oficialmente, a Petros será uma das principais
responsáveis pelo déficit acumulado por todos os fundos de pensão, que no
primeiro semestre alcançou R$ 46 bilhões, segundo a Superintendência Nacional
de Previdência Complementar (Previc), responsável pela regulamentação e
fiscalização das entidades privadas de previdência complementar, nome oficial
desses fundos.
Pelo menos dois fundos vinculados a
estatais – o Postalis, dos empregados dos Correios, e a Funcef, dos
funcionários da Caixa Econômica Federal – acumularam déficits atuariais
superiores a 10% do patrimônio por três exercícios seguidos. Pelas regras que
vigoraram até há pouco, esse quadro exigiria a execução de um programa de
cobertura do rombo, com o aumento das contribuições da empresa patrocinadora e
dos participantes do fundo. Há alguns meses, o Postalis iniciou um programa de
ajuste, contestado na Justiça por participantes.
Mas o regulamento destinado a
assegurar a solvência dos fundos foi abrandado por resolução aprovada no mês
passado pelo Conselho Nacional de Previdência Complementar, com a eliminação da
regra de três anos consecutivos de déficit. A nova regra considera como limite
para o déficit, em porcentagem, o prazo médio de pagamento dos benefícios
(medido em anos), do qual são deduzidos quatro anos. Além disso, o plano de
recuperação deverá cobrir apenas o que exceder o limite de tolerância.
A mudança deu aos gestores dos
fundos de pensão maior liberdade financeira, pois aliviou as exigências de
cobertura de déficits eventuais, mas não reduziu a dimensão do problema das
entidades de previdência vinculadas às estatais. O caso da Petros, retratado em
reportagem de Murilo Rodrigues Alves publicada pelo Estado, é talvez o mais
preocupante, por suas dimensões e pela profunda crise que a empresa
patrocinadora enfrenta.
Como o de outros fundos de estatais,
o problema financeiro da Petros é antigo. Integrantes de seu conselho fiscal –
formado por representantes dos empregados – ouvidos pelo jornal disseram que há
12 anos o órgão fiscalizador vem recomendando a rejeição do balanço anual da
Petros, que, no entanto, é sistematicamente aprovado pelo conselho deliberativo
da entidade, no qual a Petrobrás detém maioria por meio do voto de qualidade,
exercido pelo presidente por ela indicado.
Não parece mero acaso o fato de o
período em que o conselho fiscal diz recomendar a rejeição do balanço da Petros
ser muito próximo ao que o PT ocupa a Presidência da República. Também não é
mero acaso que, nesse mesmo período, entidades de previdência complementar
vinculadas a outras empresas estatais federais passaram a apresentar
desequilíbrio atuarial, isto é, a não dispor hoje de recursos que seriam
necessários para assegurar o pagamento dos benefícios futuros.
Além
de ter submetido a gestão dos principais fundos das estatais – o maior dos
quais é a Previ, vinculada ao Banco do Brasil – a acertos políticopartidários,
com a nomeação de pessoas indicadas pela base governista para os cargos de
direção, o governo forçou esses fundos a aplicar em projetos de seu próprio
interesse, como diferentes programas vinculados à infraestrutura. Como
raramente o interesse do Palácio do Planalto coincidiu com o dos participantes,
muitas aplicações dos fundos renderam menos do que as feitas por instituições
privadas geridas por critérios de mercado. Em alguns casos, além de má gestão,
foram detectados casos de corrupção e de fraudes. A crise econômica tornou
óbvias as consequências desse modelo petista de gestão, como no caso da Petros.
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