CPI aponta fraude
de R$ 3 bilhões em fundos de pensão de estatais
O ESTADO DE S. PAULO
11/4/2016
11/4/2016
Comissão deve pedir indiciamento de
até 200 pessoas envolvidas em operações com os fundos do BB, Caixa, Petrobrás e
Correios
BRASÍLIA - A CPI dos Fundos de
Pensão, cujo relatório será apresentado nesta segunda-feira, indiciará até 200
pessoas envolvidas em esquemas fraudulentos que deram prejuízo de mais de R$ 3
bilhões a quatro das maiores entidades de previdência complementar do País. A
comissão analisou mais detalhadamente 15 casos e que apontaram fraude e má
gestão dos investimentos feitos pelos dirigentes da Previ (dos funcionários do
Banco do Brasil), da Petros (Petrobrás), Funcef (Caixa Econômica Federal) e do
Postalis (Correios).
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto, já condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da
Lava Jato, “dificilmente não será indiciado”, afirmou o deputado Sérgio Souza
(PMDB-PR), relator da CPI dos Fundos de Pensão. Vaccari é apontado como
integrante de um acerto de propina na Petros.
Na lista de pedidos de indiciamento
ao Ministério Público Federal também estará Alexej Predtechensky, conhecido
como Russo e ligado ao PMDB. À frente do Postalis, ele teria fechado contratos
com consultorias que apoiaram aplicações suspeitas de conflitos de interesse
porque seus executivos atuavam tanto no fundo de pensão como nos planos
adquiridos.
Souza disse ontem à noite que
pretendia definir até a manhã de hoje os critérios dos pedidos de indiciamento
para não penalizar dirigentes que apenas participaram de reuniões, mas não
tomaram decisões que resultaram em prejuízo aos fundos.
A sociedade dos fundos na Sete
Brasil, empresa criada para fornecer as sondas do pré-sal à Petrobrás, também
foi analisada pela CPI, que concluiu que as condutas dos dirigentes dos fundos
foram incompatíveis com uma “gestão responsável”. Segundo o relatório ao qual o
Estado teve acesso, a Petros e a Funcef decidiram, por “influência política”,
aportar bilionários valores no FIP Sondas (que detém 95% da Sete; os outros 5%
são da Petrobrás) “sem observar a prudência exigida, assumindo elevados riscos
que colocavam em evidente perigo o dinheiro dos beneficiários daquelas
fundações”. A Previ também é sócia, mas tem uma participação minoritária.
POSTALIS
O relatório faz também recomendações
à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Tribunal de Contas da União (TCU) e
à Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) de melhoria do
controle sobre os fundos de pensão patrocinados por estatais. O texto do relatório,
que deve ser concluído com mais de 700 páginas, ainda propõe alterações na
governança dessas entidades, como a criação de um comitê de investimento e de
auditoria interna.
O relator também institui o voto de
veto para permitir que patrocinadores e participantes tenham poder de impedir
que investimentos que julguem temerários sejam levados adiante. Como o veto
poderá ser usado por qualquer um dos membros da diretoria, o deputado Souza
disse que haverá uma equivalência de poder entre os indicados pelo governo -
como representantes das empresas patrocinadoras - e os eleitos pelos
participantes. “Os fundos de pensão, a partir da CPI, serão muito diferentes do
que são hoje. As pessoas não estão fazendo as mesmas loucuras de antes. A
comissão já produziu um resultado”, afirmou Souza.
Déficit bilionário. No ano passado,
o rombo dos fundos de pensão alcançou R$ 77,8 bilhões, segundo levantamento da
Previc, xerife do setor. O aumento em relação a 2014 foi de 151%. Dez planos
concentram 80% do déficit de todo o sistema, sendo que nove deles são
patrocinados por empresas estatais, das quais oito são federais. Os três
maiores fundos do País - Previ, Petros e Funcef - respondem por mais de 60% do
rombo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário