Polícia Federal
indicia ex-chefe de fundo dos Correios
FOLHA ON-LINE
10/4/2016
10/4/2016
A Polícia Federal indiciou o
ex-presidente do Postalis Alexej Predtechensky, conhecido como Russo, o
operador do mercado financeiro Fabrizio Dulcetti Neves e outros cinco por
suspeita de fraude de R$ 400 milhões em operações financeiras do fundo de
pensão dos funcionários dos Correios.
Até 2015, a PF calculava o rombo em
R$ 180 milhões, mas as investigações apontaram novas fraudes que dobraram o
valor. O desvio acontecia em compras de ações superfaturadas e pagamento de
taxas indevidas.
Os indiciados foram enquadrados por
gestão fraudulenta e apropriação de dinheiro, entre outros. Para a PF, Russo e
Neves eram os cabeças do esquema.
A investigação começou em 2012
quando o Finra (Financial Industry Regulatory Authority, sigla em inglês),
órgão autorregulador do mercado financeiro americano, enviou ao Brasil
informações sobre transações financeiras suspeitas feitas em Miami por uma
administradora de valores de São Paulo.
A fraude consistia na compra de
títulos do mercado de capitais por uma corretora americana, que os revendia por
um valor superfaturado para empresas sediadas em paraísos fiscais ligadas aos
investigados.
Em seguida, os títulos eram
adquiridos pelo Postalis com preço ainda mais elevado, chegando a ficar 60%
acima do real valor de mercado. Também eram feitas operações em grandes
quantidades para gerar taxas para as corretoras.
O destino final do dinheiro, segundo
a Polícia Federal, era o bolso dos operadores e do ex-presidente do Postalis.
"As operações davam prejuízo ao
Postalis. Depois, o dinheiro era desviado por meio de offshores em paraísos
fiscais e, posteriormente, era apropriado pelos operadores do esquema",
diz o delegado Milton Fornazari Junior, responsável pela investigação.
As operações deram a dimensão do
enriquecimento dos indiciados, segundo a PF. A polícia cumpriu mandado numa
mansão de Russo às margens do Lago Paranoá, endereço nobre de Brasília.
Dulcetti mora numa casa em Miami e tem um apartamento de 1.000 m² no Morumbi.
Vítimas
Os prejuízos do Postalis vão parar
na conta dos 71 mil funcionários da ativa e 30 mil aposentados dos Correios.
Como o plano que paga as
aposentadorias do fundo tem deficit de R$ 5 bilhões, o Postalis aprovou taxar
em 17,9%, a partir de maio e com vigência prevista para 23 anos, a previdência
dos beneficiários para reduzir o rombo.
O carteiro Francisco das Chagas
Ribeiro, de 59 anos, aposentou-se há um ano, depois de 21 anos entregando
correspondências em São Paulo. Na ativa, com os benefícios, ganhava por mês
cerca de R$ 3.000. Atualmente seus vencimentos não passam dos R$ 2.000, sendo
que R$ 300 deles são da previdência do Postalis.
"Eu já ganho pouco, não posso
perder mais. É um absurdo eu ter que pagar pelo que esses caras fizeram",
diz.
Outro lado
O Postalis disse que "tem ação
judicial contra os administradores e gestores do fundo no Brasil" e que o
fundo tem todo o interesse de que os fatos sejam esclarecidos.
José Luis Oliveira Lima, advogado de
Alexej Predtechensky, disse que o indiciamento do seu cliente é descabido e sem
qualquer embasamento. Ele diz que seu cliente não praticou irregularidade
enquanto esteve na presidência do Postalis e que, ao ter acesso ao relatório da
PF, apresentará petição contestando os fundamentos da decisão. A defesa de Fabrizio
Dulcetti Neves não atendeu aos telefonemas da Folha.
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