Relatórios da
Operação Greenfield ligam PT a desvios em fundos
Diário de Pernambuco
07/09/2016
07/09/2016
Relatórios da Polícia Federal e do
Ministério Público na Operação Greenfield, que apura investimentos que causaram
prejuízos a quatro fundos de pensão de estatais, ligam o Partido do Trabalhadores
a irregularidades na escolha das aplicações. De acordo com os investigadores,
havia um “núcleo político” com “clara ascendência” sobre diretores dos fundos.
Na segunda-feira, a 10ª Vara Federal de Brasília ordenou a prisão de cinco
ex-dirigentes de fundos, além de ordens de busca e apreensão e condução
coercitiva de empresários e executivos que mantinham negócios com a Previ, a
Petros, a Funcef e o Postalis, que pagam aposentadorias complementares para
empregados do Banco do Brasil, da Petrobras, da Caixa Econômica Federal e dos Correios,
respectivamente. Os investigadores devem aprofundar, em novas fases da
operação, a participação de políticos no esquema.
Segundo a polícia e o Ministério Público, o
núcleo empresarial de uma organização criminosa fazia reuniões com diretores e
presidentes das entidades de previdência “em conjunto — suspeita-se — com
autoridades políticas que tinham clara ascendência sobre os diretores dos
fundos de pensão que são indicados pelas entidades patrocinadoras”.
O Partido dos Trabalhadores, que comandou o
país de 2003 até maio passado, é mencionado abertamente no relatório. Num dos
trechos, os policiais e procuradores colocam em dúvidas doações eleitorais
feitas pelo grupo J&F, ligado à JBS Friboi, e o investimento em um empreendimento
da holding, a Eldorado Celulose. “Há suspeitas ainda sobre os motivos que
levaram a Funcef (assim como a Petros) a investir, por meio do FIP Florestal,
na Eldorado Brasil Celulose S.A., bem como a aceitar a superavaliação de seus
ativos”, destaca um dos relatórios. “Sabe-se que a mencionada empresa é
controlada pelo grupo J&F (que detém 47,2% de seu capital), grupo este que
é um dos principais doadores de campanha do Partido dos Trabalhadores. Logo,
investimento de fundos de pensão federais na Eldorado Brasil Celulose S.A. pode
ser resultado da pressão de grupo econômico politicamente dominante.”
Pressões
Os relatórios não mencionam nominalmente o
PMDB, que comandou o Postalis por determinado período. No entanto, o
ex-presidente do fundo Alexej Predtechensky, ligado ao partido, foi alvo de
mandado de busca e apreensão e condução coercitiva em seus endereços em
Brasília na segunda-feira. Na Funcef, os ex-presidentes Guilherme Lacerda e
Carlos Caser são da cota do PT, assim como os ex-dirigentes da Previ Sérgio
Rosa, e da Petros Wagner Pinheiro. Os dois partidos não prestaram
esclarecimentos ao Correio ontem.
Em vários trechos dos pedidos de prisão,
condução coercitiva e buscas, a polícia e a procuradoria mencionam a existência
de pressões e lobbies para a realização de determinados investimentos que não
produziram o resultado esperado. “Assim como nos casos dos investimentos antes
narrados, nesse caso concreto, também se suspeita de que pressões políticas e
lobbies realizados por grupos econômicos próximos ao governo federal tenham
pressionado a diretoria e os conselhos deliberativos dos fundos de pensão para
a realização desse investimento”, insistem.
A proximidade com o ex-ministro José Dirceu
e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto é apontada como suspeita para
Guilherme Lacerda, ex-dirigente da Funcef detido pela PF: “É importante
verificar as relações desse investigado com o possível núcleo político da
organização criminosa que deve ser investigada na Operação Greenfield”. Para os
investigadores, Vaccari “possivelmente” intercedeu para que o fundo ligado à
Caixa investisse em empreendimentos da empreiteira OAS.
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