Investigação sobre
fundos é desdobrada
Valor
20 fevereiro 2017
20 fevereiro 2017
A Operação Greenfield, investigação
desencadeada no ano passado em Brasília sobre possíveis fraudes cometidas por
gestores de fundos de pensão, foi desdobrada e o Ministério Público Federal
(MPF) no Rio de Janeiro deverá deflagrar ainda neste primeiro semestre várias
operações derivadas sobre investimentos realizados pelos fundos estatais.
Também participam das investigações
procuradores do MPF em Brasília e de São Paulo, além de técnicos da
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) e Tribunal de Contas da União (TCU).
Um dos processos adiantados no Rio é o que
analisa investimentos dos fundos de pensão Petros e do Postalis no grupo
Galileo, que controlava duas faculdades no Estado. A ação entrará na fase de
interrogatórios de testemunhas de acusação e defesa, que estão sendo marcados
pela juíza Adriana Costa, da 5ª Vara Federal Criminal do Rio.
A Petros comprou R$ 81 milhões em debêntures
emitidas pelo Grupo Galileo e a Postalis outros R$ 23 milhões. Na denúncia, o
MPF estima que as duas fundações tiveram prejuízo com o negócio de R$ 89
milhões, em valores atualizados. Os recursos foram disponibilizados para a
Universidade Gama Filho quando a entidade já apresentava problemas financeiros,
tantos que acabou sendo fechada. O dinheiro deveria ter sido usado para
recuperar a universidade. Como garantia, foram oferecidas as mensalidades
futuras que seriam pagas por alunos dos cursos de medicina, mas a faculdade foi
descredenciada pelo MEC e entrou em falência.
Procurada, a Petros não se manifestou e o
Postalis informou que os desembolsos para aquisição das debêntures do Grupo
Galileo ocorreram em maio e em outubro de 2011, ou seja, "anos antes do
descredenciamento das universidades", que aconteceu em 2014. Disse que
possuiu debêntures no valor nominal de R$ 81,4 milhões da Galileo. E informa
que já recebeu R$ 44,6 milhões relativos aos recursos investidos, remunerados
conforme definido no contrato.
"O pagamento vinha ocorrendo em dia,
conforme o fluxo pactuado e com rentabilidade acima da meta atuarial até
dezembro de 2013", diz a nota enviada ao Valor pelo Postalis. O texto
informa, ainda, que solicitou o vencimento antecipado das parcelas, provisionou
R$ 65,6 milhões, reconheceu contabilmente a possível perda, "e tomou as
demais medidas judiciais cabíveis".
Outra investigação em curso no Rio também
envolve investimentos da Petros e Postalis no Fundo de Investimento em Direitos
Creditórios Trendbank Banco de Fomento Multisetorial (FIDC Trendbank). A
investigação aponta que entre os créditos adquiridos pelo FIDC Trendbank
estavam créditos entre coligadas e empresas de fachada. Em alguns casos não
houve o envio físico dos títulos que representavam os créditos.
Nesse grupo, surgiu um personagem já
conhecido pela força-tarefa da Lava-Jato no Paraná e no Rio: o doleiro Adir
Assad, condenado a nove anos de prisão por corrupção e lavagem na Petrobras
pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba e também
processado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio.
As empresas ligadas a Assad, entre elas a
Rock Star Produções Comércio e Serviços, respondiam por quase 25% da carteira
do FIDC Trendbank segundo levantamento feito pelo Brasil Plural, contratado por
cotistas para gerir o fundo.
Com tantos problemas, o valor inicial das
cotas do FDIC Trendbank caiu 96% entre dezembro de 2010 e 2014. A Postalis
investiu R$ 50 milhões que valiam R$ 1,6 milhão em dezembro de 2014, época em
que os números foram apresentados na CPI dos Fundos de Pensão. Na Petros, os R$
23 milhões investidos valiam R$ 766 mil no mesmo período.
Em comunicado de novembro de 2014, a Petros
informou que recebeu R$ 8,8 milhões do total investido. Procurada, a Petros
preferiu não comentar, já a Postalis informou que desse investimento, recebeu
até momento R$ 22,1 milhões.
Em resposta ao Valor, o fundo dos Correios também
afirmou que até dezembro de 2013 o pagamento vinha ocorrendo mensalmente
"no prazo e com a rentabilidade pactuada" e que atualmente o Trendbank
está em fase de recuperação de créditos junto a seus devedores. "Em julho
de 2015, houve a troca do administrador do fundo, o qual tem coordenado as
ações de recuperação dos créditos", disse a Postalis. (Por Claudia
Schüffner, Valor Econômico)
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