terça-feira, 28 de março de 2017

Trabalhadores pagam por prejuízos, corrupção e má gestão em estatais

Correio Braziliense
28/03/2017

Os prejuízos acumulados pelas empresas estatais nos últimos anos serão pagos com a demissão de milhares de empregados. Os sucessivos casos de corrupção, o loteamento político de cargos e investimentos desastrosos em projetos sem rentabilidade serão cobertos com a redução de gastos com pessoal. Nos Correios, por exemplo, os executivos já estudam dispensar até 25 mil trabalhadores para fechar as contas no azul em 2017, após acumular um rombo de R$ 4 bilhões nos últimos dois anos. A possibilidade foi antecipada pelo Correio, em janeiro, quando a Vice-Presidência de Recursos Humanos solicitou um parecer ao Departamento Jurídico sobre a possibilidade de demissão motivada.Empregados de empresas públicas não podem ser demitidos sem justa causa; é necessário que haja motivação. Além disso, é necessário apresentar os critérios para os cortes de pessoal e verificar se os serviços prestados não serão afetados. Pela tese defendida pelo Departamento Jurídico dos  Correios, a dispensa seria motivada por questões técnicas, econômicas e financeiras.

Conforme o memorando enviado pela Vice-Presidência de RH, a medida seria adotada caso as ações em curso não sejam suficientes para equilibrar as contas da estatal. O parecer ainda leva em conta dados apresentados pela Vice-Presidência de Finanças e Controle Interno, que mostram um crescimento de R$ 3 bilhões, em 2006, para R$ 7,5 bilhões, em 2015, na folha de pagamento da empresa. Com isso, as despesas com pessoal saltaram de 49% para 62% dos gastos totais da estatal. No mesmo período, o número de empregados passou de 107 mil para 118 mil. Mas o “tráfego de objetos” caiu de 8,6 bilhões para 8,2 bilhões. Além disso, o nível de produtividade diminuiu de 80 para 70 objetos por trabalhador.

No caso na Telebras, os problemas são ainda maiores. A estatal, ressuscitada pelo governo Dilma Rousseff, fechou 2016 com patrimônio negativo R$ 500,1 milhões, mais que o dobro dos R$ 218,8 bilhões registrado no ano anterior. Foi um aumento de 128,5% num buraco que não se sabe onde vai parar. O patrimônio negativo da Telebras cresce por causa dos consecutivos prejuízos acumulados, que saltaram, no ano passado, de R$ 498,7 milhões para R$ 769,6 milhões.

Os gastos com pessoal cresceram 39,5% entre 2015 e 2016, com a fatura pulando de R$ 50,7 milhões para R$ 70,8 milhões. No total, as despesas operacionais da Telebras subiram 18% no ano passado, totalizando R$ 195,2 milhões — sem qualquer justificativa plausível para uma empresa que havia sido praticamente fechada. No ano passado, o prejuízo foi de R$ 270,9 milhões contra R$ 235,6 milhões em 2015.

Demora

A lista de empresas no vermelho deve ser ainda maior, mas a demora na divulgação das informações mantém os dados escondidos. Segundo o Ministério do Planejamento, as estatais têm até 30 de maio para enviar à pasta os demonstrativos financeiros do ano passado. Antes disso, é impossível saber quantas das 152 companhias federais tiveram prejuízo ou não.

Outra empresa que se mantém deficitária é a Petrobras, vítima do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. A petroleira teve prejuízo líquido de R$ 14,8 bilhões em 2016, o terceiro consecutivo. Apesar dos números ruins, a companhia reduziu o endividamento em 20%. A dívida líquida, no fim de 2016, estava em R$ 314,12 bilhões, ante R$ 392 bilhões em 2015. Em dólares, o total de débitos recuou 4%, passando de US$ 100,4 bilhões para US$ 96,38 bilhões.

O presidente da Petrobras, Pedro Parente, reconduzido ontem ao cargo até março de 2019, afirmou no começo do ano que a empresa manterá disciplina e acompanhamento mensal de resultados para melhorar o balanço, mas sem reduzir a meta de produção. Segundo ele, o objetivo é reduzir os custos operacionais em 18% em relação ao previsto no cenário básico, além de implantar novos sistemas de gestão. A estatal está concluindo o segundo programa de demissão voluntária, totalizando a  adesão de 19 mil colaboradores, o equivalente a 20% do quadro de funcionários diretos da companhia.

Fundos no vermelho

Os fundos de pensão registraram deficit de R$ 71,7 bilhões em 2016, informou a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). Pelo menos 80 fundações tiveram resultado negativo em 205 planos de benefícios, uma queda em relação a 2015, quando 92 delas apresentaram rombo de R$ 76,7 bilhões. A Abrapp destacou que 88% do deficit do ano passado se refere ao resultado de 10 planos de benefícios. Por outro lado, o número de fundações com superavit passou de 127, em 2015, para 138, em 2016. O resultado positivo delas subiu de R$ 13,9 bilhões para R$ 18,2 bilhões.

Troca de comando na Vale

O executivo Fábio Schvartsman, atual presidente da Klabin, será o novo presidente da Vale a partir de maio, substituindo Murilo Ferreira. Graduado e pós-graduado em Engenharia de Produção pela Universidade de São Paulo e pós-graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Schvartsman chegou ao comando da Labinasal em fevereiro de 2011, após passar boa parte da vida profissional no grupo Ultra, onde foi responsável pela abertura de capital da holding. Ele foi selecionado pela empresa de recrutamento Spencer Stuart e recebeu o aval dos presidentes do Banco do Brasil, Paulo Rogério Caffarelli, e do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, além do presidente da República, Michel Temer.

Prejuízos acumulados

Rombos sucessivos de estatais prejudicam esforço do governo para recuperar contas públicas
Telebras
» Entre 2015 e 2016, o rombo na Telebras mais que dobrou. O patrimônio líquido negativo saltou de R$ 218,8 milhões para R$ 500,1 milhões, uma piora de 128,5%
» O prejuízo acumulado saltou de R$ 498,7 milhões para R$ 769,6 milhões
» O gasto com pessoal cresceu 39,5%, passou de R$ 50,7 milhões para R$ 70,8 milhões
Correios
» A empresa acumulou rombo de R$ 4 bilhões nos últimos dois anos e estuda dispensar até 25 mil empregados por meio da demissão motivada
» Pela tese defendida pelo Departamento Jurídico da estatal, essa dispensa seria motivada por questões técnicas, econômicas e financeiras
» Será necessário apresentar previamente os critérios para os cortes de pessoal e se os serviços prestados não serão afetados
Petrobras
» A Petrobras teve prejuízo líquido de
R$ 14,8 bilhões em 2016, o terceiro ano consecutivo de resultados negativos
» Em 2015, a estatal registrou prejuízo recorde de R$ 34,8 bilhões e em 2014, as perdas somaram R$ 21,6 bilhões

» Em comunicado, após a divulgação do balanço, a Petrobras atribuiu o novo prejuízo à reavaliação “de ativos e de investimentos, no total de R$ 20,9 bilhões”.

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