Aumento de roubo de cargas leva transportadoras a cobrarem 'taxa de emergência' no Rio
G1
09/05/2017
09/05/2017
Para
cobrir os elevados custos com segurança e minimizar os prejuízos com o roubo de
cargas, transportadoras que atuam no Rio de Janeiro passaram a cobrar uma taxa
extra das empresas que contratam os seus serviços. Batizada de Taxa de
Emergência Excepcional (Emex), foi instituída exclusivamente na capital
fluminense que vive grave crise na segurança e vê os índices deste tipo de
crime dispararem: aumento de 180% em quatro anos.
A Emex foi instituída no Rio em março. Segundo a Associação Nacional do
Transporte de Cargas e Logística (NTC), a taxa é prevista para “regiões que se
encontram em estado de beligerância”. Prevê a cobrança de R$ 10 por fração de
100 kg de carga, mais um percentual do valor da carga que varia de 0,3% a 1,0%.
Segundo o vice-presidente da NTC, Urubatan Hellou, a Emex aumenta, em média,
cerca de 1,5% o valor de cada produto transportado.
O percentual se soma à Taxa de Gerenciamento de Risco (Gris), que já é embutida
em todo o país para cobrir os custos com a segurança. “A Gris é padrão, cobrada
em todos os estados, e é usada para cobrir os custos com seguro de carga,
escolta, entre outros. Ela já é cobrada há muito tempo”, destacou Hellou.
“Considerando o estado de guerra em que se encontra o Rio de Janeiro, não
restou outra alternativa que não cobrar uma taxa excepcional”, destaca Hellou.
Um roubo a cada 70 minutos
Segundo estimativas da NTC, somente as grandes transportadoras que atuam na
cidade registram, em média, entre cinco a dez tentativas de roubo por dia, das
quais cerca de 40% são efetivadas, ou seja, o roubo é concluído. Já um
levantamento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) indica que
a cada uma hora e dez minutos um roubo de cargas é registrado no
estado.Conforme dados oficiais do Instituto de Segurança Pública do Rio de
Janeiro (ISP), somente nos dois primeiros meses deste ano foram feitos 1.145
registros, o que representa um aumento de 180% deste tipo de crime nos últimos
quatro anos.
A NTC ressalva, no entanto, que os dados oficiais sobre o roubo de cargas
possam ser subestimadas. Isso porque, segundo a entidade, muitas empresas
deixam de registrar ocorrência policial.
Risco de entregas serem suspensa
Um estudo feito em 2015 pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico
(ABCOMM) mostrou que quase 60% das lojas virtuais consultadas apontaram
problemas graves para entrega de produtos no Rio de Janeiro. A Bahia, que ficou
em segundo lugar no ranking, foi citada por pouco mais de 20% das lojas.
De acordo com o vice-presidente da ABCOMM, Rodrigo Bandeira Santos, desde que o
estudo foi realizado a situação piorou ainda mais no estado. Os maiores
problemas enfrentados pelas lojas no Rio, segundo ele, se devem às questões de
segurança pública.
“Você tem uma escalada da violência que encolhe as áreas onde ontem você
conseguia fazer entregas. Essas áreas são encolhidas diariamente. Esse aumento
de áreas restritas tem feito com que algumas transportadores comecem a estudar
a possibilidade de não atender mais a praça do Rio de Janeiro”, afirmou Santos.
A informação foi confirmada pelo Sindicato das Empresas do Transporte
Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicargas). Segundo o
diretor de segurança da entidade, Coronel Venâncio Alves de Moura, várias
transportadores de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais e Mato Grosso já não
querem mais fazer entregas no Rio.
“Os motoristas de outros estados estão aterrorizados com esse problema. Alguns
já passaram até por situações de cárcere privado e, por isso, estão se
recusando a fazer entregas no Rio”, afirmou o coronel Moura. Ele alertou ainda
que “a tendência é das pequenas empresas fecharem as portas”.
O alerta é reforçado pela NTC.
“Daqui a pouco vai começar a faltar remédios nas farmácias do Rio”, afirmou
Urubatan Hellou, destacando que mesmo com a cobrança da Emex algumas
transportadoras estão recusando o transporte de cargas no Rio.
Segundo as entidades representativas do setor ouvidas pelo G1, por conta da
escalada da violência as seguradoras estão se recusando a renovar as apólices
de seguro. Quando o fazem, estabelecem a franquia equivalente a 50% do valor da
carga, inviabilizando às transportadoras assumirem o risco do contrato.
“Se o governo quer retomar a atividade econômica, tem que solucionar essa
situação”, declarou o representante do Sindcargas.
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