Domando o polvo
O ESTADO DE S. PAULO
29/4/17
Secretário do Planejamento diz que estrutura de estatais tem de ser enxugada
Fernando Dantas*
O polvo é gigante. São 154 empresas, com 530,9 mil empregados e ativos totais e
patrimônio líquido de, respectivamente, R$ 4,7 trilhões e R$ 500 bilhões em
2015. O orçamento de investimentos e custeio para 2017 é de R$ 1,3 trilhão.
Esse é o mundo das estatais brasileiras, onde despontam gigantes como
Petrobrás, Banco do Brasil e Eletrobrás.
A dívida total era de R$ 448 bilhões em setembro de 2016, a maior parte da
Petrobrás (R$ 385 bilhões em dezembro de 2016). O resultado dos grupos Banco do
Brasil, Caixa, BNDES, Petrobrás e Eletrobrás, o grosso do sistema produtivo
estatal brasileiro, saiu de um prejuízo de R$ 22,5 bilhões em 2015 para um
lucro de R$ 9 bilhões em 2016.
Fernando Antônio Ribeiro Soares, à frente da Secretaria de Coordenação e
Governança das Empresas Estatais (Sest), do Ministério do Planejamento, não
pestaneja ao afirmar que a estrutura de estatais do Brasil é grande demais, em
todos os sentidos, e precisa ser enxugada.
Ele apresenta o cardápio de alternativas que já estão sendo implantadas ou estudadas,
como concessões, autorizações, abertura de capital, fusões, aquisições,
incorporações, cisões, privatizações e liquidações.
Quando Soares assumiu a coordenação das estatais, em maio do ano passado, ainda
foi à frente do departamento (Dest) que logo em seguida, com suporte de Dyogo
Oliveira, ministro do Planejamento, foi promovido à Secretaria. Em seguida,
foram aprovados a Lei 13.303, de Responsabilidade das Estatais, que Oliveira e
Soares apoiaram, e o decreto 8.945, que regulamenta a lei, coordenado pela
Sest.
Entre suas novas atribuições, a Sest participa da modelagem das diversas
operações para enxugar e racionalizar o conjunto de empresas, solicita e
acompanha planos de ação para melhoria da gestão e da eficiência e monitora
planos previdenciários e de saúde.
Com a lei 13.303, foi estabelecida uma série de restrições e condições para
seleção de administradores e conselheiros, como não ter exercido atividade
política nem pertencer a sindicatos e ter experiência no setor público ou
privado na área de atuação da estatal. A blindagem tem furos, segundo algumas
análises, mas pelo menos buscou dificultar as nomeações políticas.
A lei também determina que as estatais elaborem uma carta anual com a
explicitação de objetivos de política públicas “em atendimento ao interesse
coletivo ou ao imperativo de segurança nacional que justificou a autorização
para suas respectivas criações”.
Para Soares, esse artigo “estabelece o limite de atuação do Estado na economia
enquanto empresário”. Na sua visão, excetuando as questões de segurança, essa
presença só se justifica quando há “falhas de mercado” que, inclusive, podem
ser temporárias.
Concretamente, ele defende que as estatais tenham foco e se voltem para o seu
“core business”, o negócio que melhor sabem fazer. Assim, a Petrobrás deve se
concentrar na exploração, produção e refino, e sair da petroquímica e dos
fertilizantes. Na Eletrobrás, a prioridade é a geração, e a estatal vai
privatizar seis distribuidoras (já vendeu a Celg D, de Goiás, para a italiana Enel).
Nos Correios, o caminho é aumentar a rentabilidade com
parcerias estratégicas com o setor privado, usando a grande capilaridade da
rede de agências.
Soares menciona que, nas negociações salariais de estatais ou grupos de
estatais das quais o governo pôde participar (algumas acompanham categorias do
setor privado ou são decididas judicialmente), em 2015 houve 21 reajustes pelo
IPCA, 16 abaixo do IPCA e um caso de ganho real; em 2016, foram 23 reajustes
abaixo do IPCA, 12 pelo IPCA e nenhum com ganho real.
“Isso não é ‘maldade’, mas sim uma contribuição para o ajuste fiscal que as
estatais têm de dar, para construirmos condições de crescimento econômico
sustentável – meu mantra é que toda estatal tem que ser sustentável”, conclui.
*Colunista do broadcast e consultor do ibre/fgv
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