STF autoriza investigação sobre Renan e esquema no fundo dos Correios
Correios do Estado
28 AGO 2017
28 AGO 2017
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo
Tribunal Federal (STF), acolheu pedido da Procuradoria Geral da República (PGR)
e autorizou abertura de inquérito para investigar o suposto envolvimento do
senador Renan Calheiros (PMDB-AL) com um esquema de corrupção que agia no fundo
de pensão dos funcionários dos Correios, o Postalis. Barroso deu
60 dias para a Polícia Federal (PF) investigar o caso.
A assessoria de Renan Calheiros afirmou que
as suspeitas levantadas contra o senador do PMDB são "uma história requentada"
e mais uma acusação "sem provas" do procurador-geral da República,
Rodrigo Janot.
"O ministro Teori [Zavascki, ex-relator da Lava Jato no STF] devolveu uma denúncia contra mim considerando-a inepta, e outra já foi arquivada. Essa também será porque nunca tive lobista ou operador.
Nunca autorizei que falassem em meu nome em
nenhum lugar, muito menos na Postalis", ressaltou Renan por meio de sua
assessoria.
O parlamentar peemedebista é acusado de
ligação com um esquema de compra de papéis de empresas de fachada que seriam
administradas por Milton Lyra, apontado como operador político de senadores do
PMDB e, segundo a PGR, "muito ligado ao senador Renan Calheiros".
Ex-presidente do Senado, Renan já é alvo de
denúncia na Lava Jato por suspeita de envolvimento com irregularidades na
Petrobras e na Transpetro, subsidiária da estatal do petróleo. Ao todo, ele
responde a 17 inquéritos no Supremo, sendo 13 na Lava Jato.
Renan também é réu em uma ação penal no STF
por suspeita de desvio de dinheiro público. O peemedebista é acusado de prestar
informações falsas ao Senado, em 2007, ao tentar comprovar ter recursos
suficientes para pagar a pensão de uma filha que teve com a jornalista Mônica
Veloso. À época, havia a suspeita de que a despesa era paga por um lobista da
construtora Mendes Júnior.
No despacho no qual autorizou o Ministério
Público a investigar as acusações contra o senador alagoano, Barroso afirmou
que algumas das operações feitas por Milton Lyra no Postalis consistiam na
criação de empresas com o objetivo de emitir debêntures que seriam
integralmente adquiridas pelo fundo de pensão dos servidores dos Correios.
De acordo com o ministro do STF, as
investigações preliminares apontam que Milton Lyra e um sócio dele, Arthur
Machado, chegaram a captar R$ 570 milhões do Postalis em investimentos que,
como afirma o Ministério Público, “nunca saíram do papel".
Inicialmente, a investigação do Postalis
estava sob a relatoria do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na
Suprema Corte. No entanto, o próprio Fachin pediu que o caso fosse
redistribuído para outro magistrado do tribunal, alegando que a suspeita não
tinha relação direta com o esquema de corrupção que atuava na Petrobras.
Diante do pedido de Fachin, a presidente do
STF, ministra Cármen Lúcia, determinou a realização de um sorteio para definir
um novo relator. O sistema eletrônico do tribunal, então, encaminhou o pedido
de abertura de inquérito para o gabinete de Barroso.
Delatores
Segundo a Procuradoria Geral da República, ao
menos, dois delatores da Lava Jato relataram a suposta influência de Renan
Calheiros sobre o fundo de pensão dos funcionários dos Correios.
Ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado,
o senador cassado Delcídio do Amaral afirmou aos investigadores, em sua delação
premiada, que Milton Lyra era o operador de diversos políticos do PMDB e que
tinha influência no Postalis.
Ainda conforme Delcídio, Lyra era "um
dos poucos interlocutores" de Renan. O ex-senador disse à PGR que o
parlamentar de Alagoas é "muito cuidadoso em suas articulações" e
nelas sempre "se serve de terceiras pessoas".Em seu despacho, Luís
Roberto Barroso também destacou que o doleiro Alberto Youssef, outro delator da
Lava Jato, também confirmou aos procuradores da República a influência que
Renan exercia no Postalis.
O
doleiro disse ao Ministério Público que ele próprio chegou a vender debêntures
para outros fundos de pensão, mas, quando quis oferecê-las para o Postalis,
teria “ouvido dizer no mercado” que teria de conversar com o senador do PMDB.
Segundo o doleiro, esse teria sido o motivo pelo qual ele tentava agendar uma
reunião com o peemedebista na semana em que foi preso, em março de 2014.
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