Delação de Lúcio Funaro aponta relação entre Cabral e Sadala
VALOR ECONÔMICO
24/9/17
A
delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, o operador financeiro do ex-deputado
Eduardo Cunha, forneceu aos investigadores da Operação Lava-Jato a pista que
faltava para entender a relevância do empresário mineiro Georges Sadala Rihan,
o "Gê", no esquema comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral. De
acordo com o delator, Gê foi um dos favorecidos com o rombo milionário na
Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Cedae, na gestão de Cabral
(2007-2014).
Até então, o sinal mais concreto da influência de Sadala no esquema Cabral era
a foto em que ele aparece de guardanapo na cabeça, ao lado de outros parceiros
do ex-governador, no episódio em Paris que ficou conhecido como "dança dos
guardanapos". Gê, além de amigo do ex-governador, aparece em pelo menos
dois negócios com o governo Cabral: o serviço "Poupatempo", explorado
pela GelPar, da qual era um dos sócios, e o sistema de crédito consignado aos
funcionários públicos, na condição de representante do banco BMG.
No termo de depoimento de número 8 do Apenso 23 da delação, Funaro cita o nome
de Sadala como um dos operadores que entraram no esquema de montar operações
fraudulentas contra os fundos de previdência complementar (Prece e Postalis,
dos funcionários dos Correios) dos quais participavam,
de acordo com sua colaboração, o ex-deputado Eduardo Cunha e os ex-governadores
Rosinha e Anthony Garotinho na divisão de propinas. Frequentador da pizza da
casa de Cabral no condomínio Portobello, em Mangaratiba, onde também tinha
casa, Sadala usou de sua amizade com o ex-governador para abocanhar negócios
com interlocutores e secretarias do governo estadual.
Obtidas com um fotógrafo que cobriu a festa na França, fotos exclusivas da
festa dos guardanapos no Champs-Elysées, logo após Cabral receber a Medalha
Légion d'Honneur do governo francês, revelam na pista de dança o grau de
intimidade entre os dois.
Sadala se somou ao grupo de Cabral a partir da campanha de 2006, também por
meio do ex-secretário de governo Wilson Carlos, e era reverenciado pela maneira
leal com que se relacionava com o ex- governador. Sadala conheceu Wilson por
intermédio do tio, que participava de uma roda de pôquer semanal, com o
exsecretário, na Barra da Tijuca. Com os negócios do grupo indo de vento em
popa, Sadala foi habitué de viagens feitas por Cabral ao exterior. Gabava-se de
ser o único proprietário do grupo a ter uma casa que ocupava dois lotes de
terreno de frente para o mar na Praia de São Braz, no Condomínio Portobello.
A amizade entre Sadala e Cabral também aproximou suas mulheres, a advogada
paranaense Ana Paula Campos, e a então primeira-dama Adriana Ancelmo,
respectivamente. Elas aparecem sorridentes no dia da festança em Paris --
oferecida por um empresário português que tinha interesses no mercado de
saneamento do Rio --, mostrando a sola dos sapatos Christian Louboutin, após a
animada noite puxada pelo "trenzinho" liderado pelo empresário
na companhia dos ex-secretários Sérgio Côrtes e Wilson Carlos.
Na campanha de 2006, Sadala proporcionou a Cabral um serviço de correios
privado para entrega de material publicitário que ajudou a consolidar a imagem
de "político austero" do então candidato ao Palácio das Laranjeiras.
A relação de amizade com políticos se estende ainda ao senador Aécio Neves
(PSDB-MG), padrinho de casamento de Sadala com Ana Paula Campos -- em dezembro
de 2007, na Igreja da Candelária -, com sua ex- mulher Adriana Falcão.
Além da concessão do Poupa Tempo do Rio, o empresário também obteve a de Minas,
e ainda comandou a Lavoro, empresa que comprava dívidas que as empreiteiras
tinham a receber do governo. Foi com a Lavoro que, de acordo com Funaro, Sadala
operou investimentos que resultaram em prejuízo para Prece. Procurado, Sadala
não foi localizado.
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