Funaro afirma ter operado esquema de propina nos fundos de pensão da Cedae, dos Correios e da Petrobras
O GLOBO ON-LINE
12/9/17
12/9/17
Doleiro
relatou divisão de propina entre Cunha e Garotinho na Prece e suborno em CPI
RIO - Dois anexos da delação premiada do doleiro Lúcio Funaro são dedicados a
fundos de pensão e envolvem diretamente as previdências complementares dos Correios (Postalis)
e da Cedae (Prece). No caso da estatal de águas e esgostos do Rio, o delator
narra a participação do ex-deputado Eduardo Cunha e dos ex-governadores Rosinha
e Anthony Garotinho na divisão de propinas.
O colaborador revelou ainda um acerto de R$ 9 milhões para evitar a convocação
e citação do expresidente da Petros Wagner Pinheiro na CPI dos Fundos de
Pensão, em 2015. Segundo ele, os valores foram acertados entre o deputado
Sérgio de Souza (PMDB-PR), relator da comissão, um dos advogados de Cunha à
época, Marcos Joaquim Gonçalvez, e o investidor Arthur Pinheiro Machado, quem
teria feito a oferta.
Pinheiro acabou não sendo convocado para depor e muito menos indiciado no
relatório final da CPI. Apesar da 'taxa de sucesso' do esquema, Funaro isenta
Cunha de ter recebido propina nesse episódio.
A assessoria do deputado Sérgio de Souza afirmou que ele estava em reunião, e
portanto, ainda não se pronunciou. Já o advogado Marcos Joaquim Gonçalvez não
foi localizado.
O esquema na Prece, de acordo com Funaro, teve início em 2002, graças à
ingerência que Cunha tinha no fundo de pensão da Cedae a partir do governo de
Rosinha Garotinho. O doleiro afirma que propôs a Cunha ajudá-lo com recursos na
campanha para Câmara dos Deputados em 2002 em troca de poder operar os
investimentos da Prece no mercado financeiro.
Em junho, O GLOBO mostrou que desde 2002 Cunha já usava influência política
para nomear gestores do fundo e lucrar com papeis podres no mercado a partir de
convênio com a Caixa, em parceria com Funaro. Depois de 2006, o esquema se
sofisticou e ficou conhecido dentro da estatal como “escola do crime”.
Funaro afirma em seu acordo de colaboração que operou na Prece durante toda a
gestão de Rosinha (2003-2006), sempre com a participação de terceiros para
receber taxas de administração, de onde obtinha os lucros. Rosinha e Garotinho,
de acordo com o delator, tinham ciência do pagamento de propina a partir
aplicações da Prece e que Garotinho operava o caixa 2 da ex-governadora.
Entre os papéis operados por ele são citados a Rio Bravo Investimentos e o CDB
do Banco Rural, mas que as empresas detentoras desses fundos não tinham
conhecimento de que parte da comissão paga a ele seria repassada como propina a
políticos, sempre via caixa dois.
Ele afirma ter feito por pelo menos quatro vezes repasses para Garotinho por
meio de uma pessoa chamada "Sérgio", funcionário do ex-governador,
sempre na cidade de Campos. Em apenas uma ocasião, o dinheiro foi pedido para
um candidato a prefeito de Campos e para outro em São Paulo.
A prestação de contas era feita a Eduardo Cunha, de acordo com Funaro,
quinzenalmente, "em reuniões que definiam a porcentagem de cada um, e em
seguida os valores eram depositados na conta corrente já existente entre os
dois.
POSTALIS
"O Funaro está desafiado por mim a mostrar qualquer documento ou conta que
prove as mentiras que afirmou", disse a ex-governadora Rosinha Garotinho,
em nota.
Os fundos de pensão são um tipo de investimento no qual o trabalhador contribui
com uma parte do salário para ter uma renda maior na hora de se aposentar. Com
patrimônio bilionário, injetam o dinheiro em aplicações e projetos em busca de
retorno financeiro. Sob influência de políticos, negócios arriscados podem
resultar em prejuízos e colocar em risco a aposentadoria extra de milhares de
trabalhadores. Postalis Já os fundos de pensão dos Correios, o Postalis, entrou
mais tarde no esquema do operador, em 2010, facilitado pelo empresário e
lobista Ricardo Luiz Peixoto Leal, cuja função era distribuir a propina para o
expresidente e ex-diretor da estatal Alexej Predtechensky e Adilson Florêncio
da Costa.
Predtechensky e Florêncio da Costa não foram localizados. Funaro afirma que
realizou operações no Postalis com CCB da empresa de água e esgoto de Santa
Catarina (Casan), CDB do Banco BVA e venda de debêntures do Grupo Peixoto de
Castro.
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