Alcolumbre: Congresso apoia reforma, mas não aprovaria venda dos Correios
Exame
25 jun 2019
25 jun 2019
O presidente do Congresso, senador Davi
Alcolumbre (DEM-AP), calcula que os votos para aprovar a reforma da Previdência
estão garantidos na Câmara e no Senado e que o processo todo deve ser concluído
após o recesso parlamentar.
A expectativa é que a Câmara finalize a sua
parte antes das férias de julho, que começam dia 18. O Senado retoma a
discussão em agosto e deve encerrar a votação em 60 dias. O senador diz ser
“perto de zero” a chance de a Casa interromper o recesso para discutir o tema.
“A Câmara já tem os 308 votos. No Senado, tem ampla maioria”, apostou
Alcolumbre em jantar promovido nesta segunda-feira, 24, pelo jornal digital
Poder360. O jornal O Estado de S. Paulo participou do encontro como convidado.
Alcolumbre disse que o trecho da reforma que
aumenta a alíquota dos bancos deve ser mantido no Senado. “Banqueiro ganha
muito”, justificou. O relator da proposta na comissão especial, deputado Samuel
Moreira (PSDB-SP), teve de recorrer à alta de tributos dos bancos para
compensar perdas com outras alterações no projeto. A conta adicional aos bancos
prevê a elevação de 15% para 20% da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL), o que vai engordar os cofres do governo em R$ 5 bilhões por ano.
O senador ressaltou que a aprovação da
reforma não será resultado da articulação política do governo, mas do consenso
de que a medida é necessária para a retomada do crescimento econômico. Tanto
que sua aposta é que, após a votação, o governo terá dificuldades para aprovar
sua agenda. “No Senado, eu conto quatro votos do PSL pró-governo”, afirmou.
Na presença do secretário Salim Mattar,
responsável pelas privatizações dentro da pasta da Economia, Alcolumbre citou
que a venda dos Correios, por exemplo, é um dos
temas que “dificilmente” passa no Congresso. Na semana passada, Bolsonaro
demitiu o presidente dos Correios por trabalhar contra seu
projeto de privatização da empresa.
A retaliação ao governo é uma resposta à
forma como o Planalto trata o Congresso. Alcolumbre diz que deputados e
senadores não podem ser acusados de “toma lá, dá cá” por pedirem recursos para
a construção de uma praça ou um hospital em suas bases eleitorais. Enquanto o
governo não descobrir como quer se relacionar com o Congresso, afirma ele, o
cada um por si vai se manter. “Nesse modelo, a gente não sabe quantos votos o
governo tem”, disse o senador.
O Parlamento também não aceita, afirmou
Alcolumbre, que membros do Executivo, incluindo o presidente Jair Bolsonaro,
usem as redes sociais para criminalizar o Congresso. “Todo dia tem uma novidade
e me pedem para que eu faça uma nota rebatendo. Se cancelarem cinco pacotes de
dados de Twitter, a política melhora”, ironizou.
Alcolumbre comentou ainda sobre a última
crítica de Bolsonaro aos parlamentares ao dizer que o Congresso quer
transformá-lo numa “Rainha da Inglaterra” por aprovar um projeto que trata da
indicação para agências reguladoras. “Não entenderam o projeto”, rebateu
Alcolumbre.
O presidente do Congresso antecipou que, se
Bolsonaro vetar o projeto, vai pôr o veto em discussão na mesma semana. Quando
perguntado: vão derrubar? Alcolumbre respondeu: “Não tem como prever”. O Estado
revelou que o Congresso já derrubou três vetos do presidente em cinco meses de
gestão. Um recorde.
Nesse cabo-de-guerra, “o Congresso será cada
vez mais autônomo”, garantiu Alcolumbre. Ele explicou que a agenda conjunta e
prioritária é essencialmente econômica. Inclui a reforma tributária, “que irá
apenas aproveitar alguns pontos da proposta do governo”, o pacto federativo, a
autonomia do Banco Central, a cessão onerosa e a reforma política.
Esta última, uma provocação ao presidente
Bolsonaro, que tem afirmado que disputará a reeleição se o Congresso não
aprovar as mudanças na lei eleitoral. Não há disposição do Congresso, porém, de
acabar com a reeleição já para 2022 – a medida afetaria os próprios
congressistas.
A prioridade após a Previdência, porém, não é
a reforma política. Afinados, Alcolumbre e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), decidiram criar uma comissão conjunta para tratar da reforma
tributária. O colegiado tem a missão de acompanhar a discussão para acelerar o
processo de votação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário