"Marcos Alves, vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), argumenta que "dificilmente as empresas de 'marketplace' [shopping digital] gostariam de desfocar seu negócio para assumir os encargos de um operador postal, com compromissos de universalização". Para ele, esse varejistas não deveriam ser expostos "indevidamente" na discussão, que é "intempestiva", já que os estudos de privatização começaram há pouco."
Grupos evitam falar em privatização dos Correios
Ações do Magazine Luiza tiveram queda após o ministro das Comunicações citar a empresa como interessada na aquisição
Valor
18/09/2020
A fala do ministro das Comunicações, Fabio Faria (PSD), de que o Magazine Luiza, a Amazon, a DHL e FedEx têm interesse em comprar os Correios surpreendeu o setor de logística.
"O importante é que já tem cinco players interessados. O Magalu é um deles, a Amazon, a DHL e FedEx. Já tem pessoas, grupos interessados na aquisição dos Correios, então isso é importante, porque não teremos um processo de privatização vazio", disse Faria em uma transmissão nas redes sociais na noite de quarta-feira, sem revelar a quinta interessada. Fontes do setor logístico ouvidas pelo Valor disseram não ter informação sobre isso.
Consultado, o Magazine Luiza, que é um dos maiores clientes da estatal, disse que não comentaria. A Amazon afirmou que "não comenta rumores ou especulações". O tom foi similar ao da DHL. "Não comentamos sobre especulações de mercado e potenciais fusões e aquisições". A empresa completou que, no momento, não tem planos de crescer seu negócio postal por meio de privatizações e de outros serviços postais estrangeiros. Já a FedEx disse que monitora o mercado por oportunidades, mas que não comenta especulações acerca da estratégia de negócio.
Na B3, a ação do Magazine Luiza fechou em queda de 2,30%, a R$ 87,12. Foi um dos maiores giros financeiros do Ibovespa, de R$ 1 bilhão, e ficou pouco acima dos R$ 822 milhões do papel no pregão anterior. O valor não é distante da média do ano, de cerca de R$ 800 milhões, e é até superado pelo volume de segunda-feira, de R$ 1,12 bilhão.
"É superembrionário. De qualquer forma, notícias como essa geram impacto no mercado", diz Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos. Já o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter, afirma que a fala deixou os investidores atentos, mas não se pode atribuir a queda do papel da varejista a isso. "A notícia é um tanto curiosa, mas falta muita informação. O que me veio na hora à cabeça foi a frase do Trajano de não se surpreender com as aquisições". Esterter se refere à fala do presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, em teleconferência sobre o segundo trimestre: "Não se surpreendam com o negócio que podemos comprar".
Mas os dois analistas de ações destacam que o pregão foi de oscilação para varejo, com o mercado externo fraco pesando. A B2W, por exemplo, fechou em queda de 1,21%, para R$ 97,31, e a Lojas Americanas caiu 2,36%, a R$ 30,15. A Via Varejo recuou menos: 0,22% para R$ 18,12.
Em entrevista ao Valor no mês passado, ao ser questionado sobre a greve dos Correios, Trajano afirmou que a estatal é importante, mas que a varejista depende cada vez menos dela. A empresa tem usado cada vez mais a Logbee, sua empresa de logística e distribuição, que opera com 4 mil mini e microtransportadoras.
Marcos Alves, vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), argumenta que "dificilmente as empresas de 'marketplace' [shopping digital] gostariam de desfocar seu negócio para assumir os encargos de um operador postal, com compromissos de universalização". Para ele, esse varejistas não deveriam ser expostos "indevidamente" na discussão, que é "intempestiva", já que os estudos de privatização começaram há pouco.
Ação do Magazine Luiza fecha com forte queda, após frase de ministro sobre Correios
Money Times
17/09/2020
As ações do Magazine Luiza (MGLU3) operam em forte queda nesta quinta-feira (17), refletindo a cautela dos investidores, quanto ao possível interesse da varejista em participar do leilão de privatização dos Correios. Os fecharam o dia em queda de 2,32%, negociados por R$ 87,10.
O Ibovespa encerrou o dia em alta de 0,42% e marcava 100.097 pontos.
No pior momento do pregão até agora, as ações da empresa caíram para R$ 86,85, o que representa um recuo de 2,6% sobre os R$ 89,17 com que fecharam ontem (16). Na máxima do dia, a ação alcançou R$ 89,30, uma ligeira alta de 0,14%.
Como se sabe, ontem, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, afirmou, em uma live nas redes sociais, que o Magazine Luiza é uma das empresas interessadas na privatização dos Correios. Segundo ele, pelo menos cinco companhias já manifestaram interesse. Além da varejista, Faria citou a Amazon, a FedEx e a DHL.
Faz sentido?
Procurado pelo Money Times, o Magazine Luiza informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentará as declarações do ministro. Hoje cedo, a incredulidade do mercado foi representada pelo silêncio dos analistas sobre a notícia.
Dos relatórios de abertura de mercado, apenas a Guide Investimentos tocou rapidamente no assunto.
Para a gestora, o interesse do Magazine Luiza nos Correios "faz sentido", já que o avanço do varejo online acirra a disputa por bom atendimento, o que significa encurtar o prazo de entrega das mercadorias, tornando-se mais atraente e confiável para os consumidores.
A julgar pela queda das ações hoje, os investidores não estão convencidos disso.
Eventual disputa por Correios entre Magalu, Amazon e outras companhias promete ser acirrada, apontam analistas
Após fala de ministro sobre possível venda e interessados na estatal, analistas apontam que processo será longo - mas que compra faz sentido para empresas
InfoMoney
17/09/2020
Na noite da última quarta-feira (16), a fala de Fábio Faria, ministro de Comunicações do governo, pegou boa parte do mercado de surpresa.
Durante live, o ministro sinalizou uma possível privatização dos Correios – em greve desde agosto. Mas, mais do que isso, ele citou os nomes de possíveis interessadas. Faria afirmou que 5 companhias estariam no páreo pela companhia, trazendo o nome de quatro delas: o Magazine Luiza (MGLU3), a Amazon (AMZO34) e as empresas de logística DHL e a FedEx.
Para a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, para o Magazine Luiza, a aquisição dos Correios certamente teria um impacto transformacional na sua tese de investimentos.
Na mesma linha, Luis Sales, analista da Guide Investimentos, apontou que a presença do Magalu entre os interessados condiz com sua estratégia de reduzir seus prazos de entrega. A companhia, por sua vez, informou que não comentará a fala do ministro.
Faria destacou ainda a greve dos funcionários dos Correios como um dos direcionadores para a privatização da companhia uma vez que, como uma empresa privada, o mesmo não ocorreria.
"Acho que isso (a greve) foi muito ruim pra eles, porque é um momento em que todos precisam dar o melhor de si", apontou.
Já a Associação dos Funcionários dos Correios, Adcap, criticou em nota o plano de privatização, que chamou de "iniciativa lesa-Pátria que o governo tenta levar adiante de vender os Correios a qualquer custo" e que a venda da estatal seria um "negócio da China" para qualquer comprador.
Para a Levante, a recente greve dos funcionários dos Correios pode ter sido uma "espécie de gotad'água" para diversos agentes da sociedade ainda indecisos sobre o tema, em especial à ala mais cética/avessa às privatizações, o que pode diminuir a resistência de setores da sociedade à privatização.
"Neste tipo de trâmite, a testagem da comunicação e o apoio da população é algo bastante relevante e, neste caso, tudo indica que existe uma possibilidade real da estatal ser mesmo privatizada", avalia a equipe de análise da casa de research.
Os analistas apontam ainda que, em geral, a notícia seria positiva como um todo para o ambiente de negócios no Brasil, pois a privatização dos Correios significaria um importante avanço na agenda econômica do governo e alguma redução do "custo Brasil", em especial para alguns setores que dependem da infraestrutura de entregas e logística.
"Acreditamos que a aprovação da privatização dos Correios traria um impacto positivo no mercado devido a queda no 'prêmio de risco' que os investidores requerem para investir no Brasil", ressaltam.
Por outro lado, eles apontam que a concretização do negócio está bastante distante e a disputa pelo ativo, caso ocorra, deve ser bastante acirrada e contar com mais concorrentes além dos quatro citados.
"O Mercado Livre (MELI34) certamente deve ser um possível interessado, o que transformaria a disputa pelos Correios uma 'briga de gente grande'", afirmam. A Guide Investimentos também ressalta que a intenção de cinco empresas na privatização dos Correios mostra que o processo não seria vazio.
Reduzindo prazos
Magalu e Amazon aparecem como algumas das gigantes que travam uma corrida para reduzir os prazos de entrega de seus produtos e conquistar mais clientes. No início deste mês, a Amazon inaugurou um novo centro de distribuição em Cajamar (SP) enquanto que, segundo o jornal O Globo, o aumento das vendas em alguns estados como no Rio de Janeiro estimularam a decisão do Magalu de abrir um centro de distribuição no estado ainda em 2020 e lojas físicas a partir de 2021.
Durante a sua fala na véspera, Faria apontou que o Congresso Nacional deve decidir como funcionaria o controle acionário e as obrigações da empresa que vier a comprar os Correios no processo de privatização. "Tem empresas interessadas em ocupar esse espaço, e elas sabem que você recebe o bônus e o ônus também, mas é uma empresa saudável."
Ele ainda afirmou ter pedido que o tema ficasse sob sua responsabilidade e que conversará com líderes do Congresso e os presidentes da Câmara e do Senado para articular a tramitação do projeto. Por lá, devem ocorrer debates acerca de alguns temas polêmicos, como a universalização de serviços (entregas em locais distantes dos grandes centros urbanos a preços razoáveis, serviço que pela lógica econômica é pouco atrativo).
Assim, engana-se quem espera que o processo seja célere, ainda mais levando em conta a complexidade da companhia. A Levante apontou, antes da abertura do pregão, que a notícia não deveria fazer preço na ação.
Por sinal, os ativos MGLU3 caem mais de 2%, em linha inclusive com as empresas de tecnologia no exterior. Amazon, Apple e Mercado Livre registram baixas entre 2% e 3% na Nasdaq no pregão, em um mês marcado por queda dos ativos do setor após as fortes altas pela percepção de que as companhias de tecnologia saíram como as "grandes vencedoras" durante a pandemia (veja mais clicando aqui). Contudo, as perspectivas para o setor seguem positivas.
Apesar da baixa superior a 6% em setembro, os papéis MGLU3 seguem como a maior alta do índice em 2020, com ganhos superiores a 82%. Agora, a possível disputa pelos Correios será um novo fator a ser monitorado de perto, mesmo que o desfecho ainda pareça longe de acontecer.
Direção Nacional da ADCAP.
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