Como estamos numa luta desigual, em que a mídia reproduz informações distorcidas provenientes de órgãos do governo federal a respeito dos Correios e a própria empresa não se defende, emudecida por um direção subserviente e comprometida com o desmonte da organização, a ADCAP passará a oferecer por esse canal seu posicionamento sobre matérias que tratarem dos Correios.
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PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS
O jornal O Estado de São Paulo trouxe nesta quinta-feira (22/10/2020) um artigo de Celso Ming intitulado “Privatização dos Correios”, que traz algumas informações e afirmações que comentaremos a seguir.
“A pandemia produziu uma explosão de demanda por serviços de entrega. Mas, em vez de ocupar esse largo espaço de mercado, os Correios no Brasil acumulam ineficiência, reclamações por extravio, por atrasos e por danos nas encomendas.”
Comentário da ADCAP: Na verdade a explosão de demanda do comércio eletrônico alcançou não só as empresas de entrega privadas, que têm crescido bastante, mas também os Correios, que viram sua curva de postagens inclinar-se substancialmente. Com relação aos qualificativos de ineficiência, reclamações por extravio, atrasos e danos nas encomendas, ponderamos que, dada a escala monumental do tráfego postal brasileiro e os desafios logísticos envolvidos em cobrir o país todo, de ponta a ponta, incluindo agora os efeitos da própria pandemia, a qualidade geral do serviço postal brasileiro não se distancia muito do que é praticado nos países mais desenvolvidos e que, por isso, dispõem de condições bem mais favoráveis para desenvolver seu trabalho. Há, porém, realmente espaço para melhorias, especialmente no que se refere à adequada alocação de pessoal nas unidades operacionais da Empresa, algo descuidado pela atual direção.
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“Os Correios precisam de grandes investimentos para a modernização de sua estrutura, hoje fortemente sucateada. Mais do que a repisada incompetência de sua administração, é a falta crônica de recursos do Tesouro para dar conta dos investimentos para a modernização que empurra os Correios para os capitais privados e para a desestatização, projeto antigo, mas nunca enfrentado com determinação.”
Comentário da ADCAP: Na verdade, os Correios são o que se costuma chamar no mercado de “vaca leiteira”, ou seja, aquele tipo de empreendimento que já realizou o investimento necessário em infraestrutura e que agora só precisa de manutenção. Evidentemente, o porte da Empresa demanda investimentos consideráveis mesmo que apenas para manutenção. Recentemente, por exemplo, os Correios renovaram sua frota, com a aquisição, no mercado nacional, de mais de 7.000 veículos. Assim, não só a empresa não se encontra sucateada, mas também não tem dependido e não precisa depender de recursos do Tesouro para se modernizar e desenvolver. Para a empresa decolar de vez, basta colocar na direção pessoal competente e pedir ao governo, especialmente ao Ministério da Economia, que deixe a empresa trabalhar, não congele tarifas em período eleitoral e nem retire dividendos em excesso, mas apenas os 25% regulamentares.
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“Foi o aprofundamento da crise da empresa e o empenho do setor privado em ocupar nichos novos que parecem ter tornado inevitável esse novo passo. Até agora não foram reveladas as diretrizes do projeto, se a empresa seria privatizada por inteiro de uma vez ou se fatiada por região, como aconteceu com a Telebrás. Nem como ficaria a situação dos seus funcionários. Proposta de criação do Banco Postal não avançou. Mas o projeto já enfrenta enormes resistências, a começar pela da corporação dos seus funcionários, que temem perder as tetas do Estado.”
Comentários da ADCAP: Nos últimos três anos os Correios registraram lucros superiores aos auferidos pela imensa maioria das empresas privadas brasileiras, apesar de a Empresa não existir para isso, mas sim para assegurar a prestação de um serviço público. Foram mais de R$ 800 milhões acumulados nesses três anos. Em 2020, em plena pandemia, os Correios já acumularam R$ 770 milhões de lucros, algo completamente fora da curva da realidade brasileira e mundial, explicado pelo boom do comércio eletrônico. Não há, portanto, uma “crise em aprofundamento”. Na verdade, uma análise comparativa dos Correios com outras organizações públicas e mesmo privadas mostra uma vitalidade incrível, inacreditável mesmo, diante dos ataques que a organização tem recebido a sua reputação por parte de autoridades do próprio governo. Um exemplo de resiliência organizacional a ser estudado.
Quanto à resistência dos funcionários, a conclusão rasa do articulista é muito injusta, pois, embora os trabalhadores se preocupem legitimamente com seus empregos, têm procurado demonstrar para a sociedade, com argumentos e dados, que uma eventual privatização dos Correios não será boa para a sociedade, como não foi em Portugal, onde a população está nas ruas pedindo a reestatização de seu correio. Além disso, os trabalhadores dos Correios merecem respeito, por desenvolverem um trabalho digno e importante para a sociedade, que produz receitas por si só, sem depender das alegadas “tetas do Estado”.
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“O principal critério para nortear a definição não deveria ser nem corporativo nem ideológico. Deveria ser o interesse público ou, mais particularmente, a procura da eficácia de um serviço essencial para a população, num momento em que o mundo passa por uma revolução tecnológica e o comércio eletrônico ganha enorme impulso.”
Comentário da ADCAP: Concordamos com a afirmação do articulista. O interesse público precisa vir sempre em primeiro lugar, acima de razões ideológicas ou corporativas. No caso dos Correios, temos um quadro em que, embora o serviço oferecido à população possa ter um ou outro flanco a ser cuidado com melhorias, o serviço postal está disponível de maneira universal, em todos os municípios brasileiros, de maneira sustentável, sem depender de recursos públicos para ser prestado, com tarifas módicas. A carta brasileira tem uma das menores tarifas postais do mundo, apesar de o país ser o 5º maior em extensão territorial.
Os Correios deveriam ser vistos como uma conquista, uma vitória dos brasileiros e não como um problema. Com informação qualificada, a sociedade perceberá isso.
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Os brasileiros merecem receber melhores informações e os devidos contrapontos ao discurso falacioso do governo. A ADCAP estará atenta às matérias que tratem dos Correios e divulgará amplamente sua opinião e suas observações a respeito.
Direção Nacional da ADCAP.
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