Como estamos numa luta desigual, em que a mídia reproduz informações distorcidas provenientes de órgãos do governo federal a respeito dos Correios e a própria empresa não se defende, emudecida por um direção subserviente e comprometida com o desmonte da organização, a ADCAP passará a oferecer por esse canal seu posicionamento sobre matérias que tratarem dos Correios.
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RESULTADOS DOS CORREIOS
A guerra contra
a reputação dos Correios, perpetrada por órgãos e autoridades do governo
federal, em associação com grupos empresariais que controlam bancos e
concorrentes da empresa, continua demandando que apresentemos nova edição do
“Desmontando Fake News”, desta feita novamente com relação à matéria trazida
pela revista Exame, em 28/10/2020.
A
matéria da revista, que pode ser lida AQUI, começa mencionando um “estudo exclusivo”
realizado por técnicos do SIEST – Sistema de Informações das Estatais. De
início, já se pode argumentar que, se houve um estudo exclusivo feito por órgão
do governo federal para uma publicação específica, isso precisaria ser
investigado, pois demonstra conduta inadmissível e eticamente condenável. No
caso específico, isso fica ainda mais grave quando se percebe que se trata de
uma publicação que pertence a um Banco que já teve o Ministro da Economia como
um de seus sócios e que tem ligações com um grupo que controla um concorrente relevante
dos Correios.
A
publicação segue falando em “impasses dos Correios, que tem sido objeto de
inquietação no mercado”, tentando, assim, atribuir à Empresa uma
responsabilidade que é do próprio governo federal, com suas decisões
desencontradas e sem base técnica, e de alguns veículos da própria imprensa,
que tentam produzir notícias a qualquer custo, o que acaba, de fato, afetando
negativamente o mercado.
Com
relação ao cálculo de passivos dos Correios, a matéria segue apresentando
números que estariam no suposto “estudo exclusivo” e tirando conclusões a
partir daí. Comentaremos algumas das informações e conclusões trazidas na
matéria.
Exame: Quase a metade do passivo da Empresa se refere a
pendências financeiras com o Postalis.
Comentário da ADCAP: Deve ser mesmo verdade que o
principal item do passivo da Empresa se refira ao Postalis. O instituto, como
também acontece com os demais fundos de previdência privados de grandes
estatais brasileiros, apresenta déficit a ser coberto. Nesse caso, a culpa “in eligendo”
e “in vigilando” do governo federal fica cada vez mais evidente, afinal foi o
governo federal quem colocou nesses fundos os dirigentes que lá estiveram e
fazia parte da estrutura do governo federal o órgão de controle central que
deveria fiscalizar a operação do sistema. No caso específico do Postalis, além
desse fato de caráter mais geral, há ainda uma questão específica, decorrente
da suspensão de pagamento de uma dívida da patrocinadora (Correios) com o
instituto, a qual foi recomendada à época pelo próprio Tesouro Nacional. Esse
calote deve entrar também nessa conta. O que o governo federal deveria estar
fazendo com esse assunto não era tentar colocar esse passivo na conta de uma
eventual privatização, mas sim buscar a recuperação dos recursos desviados,
utilizando, por exemplo, a AGU para acionar os grandes responsáveis pelos
prejuízos que, no caso do Postalis, são encabeçados por um grande banco
internacional americano, conforme já demonstrou a CPI dos Fundos de Pensão.
Exame: O custo da atividade consumiu no ano passado 85%
da receita líquida.
Comentário da ADCAP: A partir desse número a jornalista concluiu que os Correios utilizaram a maior parte de seu faturamento para pagar suas contas. Os Correios são uma empresa pública que existe para prestar um serviço público e não para produzir lucros. Assim, se a Empresa utiliza suas receitas para cobrir seus custos correntes, isso é perfeitamente normal. Ainda a se considerar que a Empresa já tem uma infraestrutura montada em todo o país, não havendo necessidade de grandes investimentos para construção dessa infraestrutura, mas sim, apenas para a manutenção (renovação de frota, mecanização de unidades de tratamento etc).
Exame: Em 2019, houve lucro líquido de 102 milhões de
reais. Foi o terceiro ano de lucros, após quatro de prejuízos.
Comentário da ADCAP: A matéria incorre em erro ao afirmar
que houve quatro anos de prejuízos e repete o discurso oficial que começa
sempre a “contagem de resultados” a partir do primeiro ano em que os Correios
registraram prejuízo na década. O quadro a seguir, com números extraídos do
site dos Correios, mostra os resultados alcançados pela Empresa nos últimos dez
anos. A partir do quadro, se pode ver que a Empresa acumulou saldo positivo de
resultados nos últimos dez anos, mesmo considerando o período em que registrou
prejuízos em seus balanços.
2010
818.966
2011
882.747
2012
1.113.287
2013
325.278
2014
9.913
2015
-2.121.238
2016
-1.489.505
2017
667.308
2018
161.049
2019
102.121
2010
a 2019 469.926
Além
disso, é sempre importante lembrar que o governo federal levou nessa década
mais de R$ 6 bilhões de reais de dividendos dos Correios, em valores
atualizados, além de ter congelado as tarifas postais por dois anos, provocando
significativo prejuízo à Empresa.
Exame: A privatização conta com o apoio de boa parte da
sociedade.
Comentário da ADCAP: Apesar das declarações injuriosas de
autoridades do governo federal sobre os Correios e da torcida de banqueiros e
de concorrentes pela privatização da Empresa, os Correios continuam merecendo a
confiança da população. O Congresso Nacional saberá levar isso em conta quando
o assunto lhe chegar para deliberação.
Exame: As queixas de consumidores em relação ao serviço
prestado pela estatal aumentaram este ano.
Comentário da ADCAP: A greve produzida por decisão do
Presidente dos Correios, que diminuiu a remuneração dos trabalhadores em plena
pandemia, certamente influiu no volume de reclamações. A situação operacional
dos Correios, porém, já se encontra praticamente normalizada, o que deverá
levar o nível de reclamações para patamares normais. Ou seja, o serviço dos
Correios não piorou; apenas passou por uma crise criada pelo representante do
governo federal no comando da estatal.
Ao
tratar de resultados, seria importante sempre haver um contexto para permitir
aos leitores uma avaliação adequada dos números apresentados. No caso dos
Correios, os lucros registrados nos últimos 3 anos e, especialmente, o lucro de
R$ 770 milhões acumulado até agosto de 2020, não mencionado na matéria, são, na
verdade, indicadores que colocam a Empresa em posição destacada, muito acima da
imensa maioria das demais empresas brasileiras. Quantas empresas brasileiras
lucraram mais de R$ 100 milhões em 2019? Quantas lucraram mais de R$ 770
milhões em 2020, até agosto? Pouquíssimas, além de bancos. E isso numa empresa
que tem a imensa responsabilidade social de estar presente em todo o território
brasileiro e que não foi feita para gerar lucros, mas sim para prestar um
serviço público.
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Os brasileiros merecem
receber melhores informações e os devidos contrapontos ao discurso falacioso do
governo. A ADCAP estará atenta às matérias que tratem dos Correios e divulgará
amplamente sua opinião e suas observações a respeito.
Direção Nacional
da ADCAP.
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