Como estamos numa luta desigual, em que a mídia reproduz informações distorcidas provenientes de órgãos do governo federal a respeito dos Correios e a própria empresa não se defende, emudecida por um direção subserviente e comprometida com o desmonte da organização, a ADCAP passará a oferecer por esse canal seu posicionamento sobre matérias que tratarem dos Correios.
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MAIS DINHEIRO, MENOS
GASTOS
A revista Exame
trouxe nesta quinta-feira (22/10/2020) dois artigos intitulados
“Privatização dos Correios traz discussão sobre modernização, diz ministro”
e “Mais dinheiro, menos gastos”, que contêm declarações e afirmações
falaciosas e tendenciosas que comentaremos a seguir.
Na primeira matéria, a revista afirma que:
“Mais de uma década de escândalos de corrupção, despesas crescentes e um
passivo bilionário colocaram a empresa em um pântano difícil de ser navegado.
Agora, com o processo de privatização batendo à porta, o governo quer passar um
pente-fino em todos os pontos que podem fazer da venda da estatal um bom ou mau
negócio, dependendo da forma como for estruturada a operação. Ou seja, a
caixa-preta está sendo aberta.”
A ênfase destas declarações só pode ser
explicada por algum interesse comercial do grupo editorial na saída dos
Correios do mercado (a Abril controla a Total Express), na necessidade de
produzir declarações espalhafatosas para vender suas publicações ou ainda na
intenção de apoiar o atual governo independentemente da qualidade de suas
informações, afinal a editoria da revista deveria ter informações suficientes
para saber que são falsas ou exageradas essas declarações.
A frase começa afirmando que em “mais de uma
década de escândalos de corrupção” ..., um enunciado inverídico e injusto com
uma organização que, diferentemente de outras tantas, conquistou a confiança da
população exatamente pela consistência e qualidade de seus serviços. Esta afirmação
não resiste à mínima verificação que a editoria da revista deveria fazer antes
de publicar, afinal quais escândalos foram esses, quantos bilhões foram
desviados, como esses casos se destacariam de outras grandes organizações
brasileiros públicas e privadas para serem taxados de escândalos?
A matéria segue falando em despesas
crescentes e um passivo bilionário, uma afirmação tendenciosa, posto que a
jornalista sabe que os Correios tiveram lucros nos últimos três anos, sabe que
os lucros acumulados em 10 anos são de cerca de meio bilhão de reais, sabe que
em 2020 os lucros da empresa são ainda melhores, sabe as causas que provocaram
os déficits em anos anteriores e sabe também que as despesas da empresa têm
sido reduzidas, principalmente com o corte de salários dos trabalhadores.
A verdade não pode ser distorcida.
Na outra matéria, “Privatização dos
Correios traz discussão sobre modernização, diz ministro”, temos
declarações do Ministro das Comunicações que comentaremos a seguir:
Há risco de os Correios se tornarem em
algum momento dependentes do Tesouro?
O governo não tem como arcar com mais uma estatal deficitária [são 18 no
momento]. Neste ano, por exemplo, não teria espaço no teto de gastos para
bancar os custos de mais uma estatal nessa situação.
Comentário da ADCAP: O Ministro das
Comunicações reverbera argumentação inconsistente do Ministério da Economia,
afinal, se fôssemos levar isso à risca, todo o Estado deveria ser desmontado,
pois sempre se poderá alegar que não se teria espaço para mais um órgão ou
estatal deficitária. No caso dos Correios, a declaração se torna ainda mais
falaciosa, pois, diferentemente de tantas outras, trata-se de uma estatal independente,
que produziu lucros nos últimos três anos, que teve resultados positivos na
soma dos 10 últimos anos, apesar de o governo federal ter exagerado na retirada
de dividendos da estatal (R$ 6 bilhões, em valores atualizados) e que registra
neste ano, até agosto, lucro de cerca de R$ 770 milhões. Temos então que
possivelmente, com exceção dos bancos, os Correios sejam a instituição do
governo federal mais saudável financeiramente.
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E como o senhor chegou ao valor de 15
bilhões de reais de precificação dos Correios?
Primeiro queria esclarecer o seguinte. Em um processo de privatização dos
Correios, eu acho que empresas como a FedEx e a DHL, da área de logística, ou o
Mercado Livre e o Magazine Luiza, que integram o setor de serviços, vão estudar
a desestatização, mas não significa que vão participar. Em relação a números,
se você multiplica o Ebtida obtido ao longo dos anos e faz uma projeção futura,
chega-se a essa conta. Mas vamos saber melhor com base nos estudos apresentados
no ano que vem.
Comentários da ADCAP: É claro que todos os
grandes players do mercado vão estudar a desestatização, afinal essa decisão
atrapalhada e inconsequente do governo federal de tentar privatizar os Correios
pode complicar a vida de todos eles, que hoje contam com os serviços dos
Correios para escoar a maior parte de suas remessas. O que acontecerá com um
operador privado no lugar dos Correios? Os preços subirão muito, como sempre
aconteceu em outros casos de privatização dos Correios? O operador privado terá
vantagens competitivas com relação aos demais players? Todas as localidades
brasileiras continuarão sendo atendidas como hoje, ou o operador privado
restringirá o atendimento às maiores localidades, onde há mais fluxo de
encomendas? Essas e muitas outras dúvidas estão na cabeça dos players, afinal a
logística é uma parte importante de seus serviços e uma mudança significativa
nisso pode afetar seriamente os negócios. Não se trata, portanto, como tentam
fazer parecer alguns, de interesse numa eventual aquisição dos Correios, mas
sim em preocupação sobre como ficará conformado o mercado com uma eventual
privatização dos Correios.
Com relação ao comentário infeliz do Ministro das Comunicações sobre o suposto
valor dos Correios, só mostra o despreparo e desinformação sobre a organização
e seu valor, sem contar o fato de que os trabalhos técnicos a respeito apenas
começaram.
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O que pode prejudicar a valoração da
empresa?
Um desses fatores é a última greve, que durou 35 dias. Os marketplaces e as
empresas menores de e-commerce tiveram de encontrar alternativas para a entrega
de encomendas e não devem voltar mais para os Correios. O prejuízo da greve é
enorme.
Comentário da ADCAP: Apesar da greve
provocada pelo interventor militar e sua junta que se encontram na Diretoria da
Empresa e da torcida do Ministro das Comunicações contra a organização, os
marketplaces e as empresas menores de e-commerce já voltaram a utilizar os
serviços dos Correios, porque esses serviços são em geral mais abrangentes e
econômicos que os oferecidos pelos concorrentes, cobrindo espaços importantes
para a performance daquelas empresas. O prejuízo da greve é enorme mesmo e
deveria ser cobrado da direção da Empresa que reduziu a remuneração dos
trabalhadores em plena pandemia e do Ministro que nada fez para resolver a
situação.
***
E qual é o papel da capilaridade dos
Correios na precificação da estatal?
Os Correios exercem um papel estratégico, com presença em muitas cidades. Se a
Amazon resolver entrar na desestatização, o Mercado Livre, por exemplo, vai ter
de se defender diante da ofensiva do concorrente. Isso é algo que o mercado
leva em consideração e pode influenciar nos múltiplos de Ebtida. Muitas
empresas já foram vendidas por 12, 15 vezes o valor do Ebtida. Também é preciso
fazer a projeção da empresa para os próximos cinco anos.
Comentário da ADCAP: O real valor da
capilaridade dos Correios não pode ser expresso apenas em múltiplos de EBTIDA,
mas sim na utilidade que uma rede de serviços presente em todo o país tem para
a sociedade e para o próprio Estado. Mais importante que o valor que a empresa
teria para um operador privado que eventualmente a adquirisse ou que efeito
isso traria para seu concorrente é saber o que isso significará de piora no
serviço e de aumento de preços para os cidadãos, pois esse será, de fato, o
preço que esse empreitada trará aos brasileiros se não for obstada. Os
portugueses podem explicar bem isso.
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O que mais deve ser levado em conta
pelo mercado?
A tendência é que as empresas interessadas no negócio já tenham uma estrutura
capaz de absorver os Correios. Provavelmente, são empresas que já têm bons
índices de produtividade e têm experiência em manter os custos em patamares
mais baixos. Se uma companhia com esse perfil administrasse os Correios, o
lucro poderia ser duas ou três vezes maior, e esse dado também influencia a
precificação, positivamente.
Comentários da ADCAP: O serviço postal tem
particularidades que não são comuns às demais empresas que atuam em serviços de
logística e distribuição. Players experientes têm respondido claramente sobre
isso quando indagados sobre eventual interesse na privatização.
Quanto às ilações sobre potencial ampliação de lucros, o Ministro das
Comunicações segue apresentando números que tira da cartola, sem nenhuma base
científica, no afã de propagandear o governo que integra.
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Os Correios têm 95.000 funcionários.
Como esse número é avaliado por quem tem interesse na compra da estatal?
Nesse caso, é um fator positivo. O fato de ser uma empresa inchada acaba
impactando positivamente a percepção do mercado, que pode enxergar aí que tem
um bom espaço para diminuir as despesas. Estou me referindo a essas questões,
nesta entrevista, com base em outros casos que já foram realizados.
Comentários da ADCAP: Se o Ministro das
Comunicações se preocupasse em, pelo menos, ler os relatórios dos Correios,
saberia que a empresa tem contratado um número significativo de trabalhadores
terceirizados, para cobrir lacunas abertas com o tempo, pois a Empresa não
realiza concurso público desde 2011. O quadro da Empresa não está, portanto,
inchado como menciona. Numa coisa, porém, concordamos: um operador privado
sempre vai demitir trabalhadores, em qualquer circunstância, pois isso produz um
resultado muito rápido nos balanços e agrada os acionistas. Em casos como o dos
Correios, porém, a sociedade será chamada a pagar o preço, com menos serviço e
menor qualidade, como, repetimos, acontece neste momento em Portugal.
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Os brasileiros merecem
receber melhores informações e os devidos contrapontos ao discurso falacioso do
governo. A ADCAP estará atenta às matérias que tratem dos Correios e divulgará
amplamente sua opinião e suas observações a respeito.
Direção Nacional
da ADCAP.
Interesses obscuros e mesquinhos tentam destruir obra que ao longo de décadas elevou o Correio a qualidade de serviço reconhecida pelos usuários, principalmente entre as décadas de 70 e 80. Destruir é mais fácil que corrigir?mas "o tempo é o Senhor da razão" Gostaria de saber o que se prevê para as trocas de objetos postais a nível internacional, regidas por acordos e pela UPU
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