Correios devem ter lucro bilionário no ano
Antes de privatização, números projetam
melhor resultado da estatal pelo menos desde 2012
Valor
25/11/2020
Com sua privatização apontada como prioridade
pela equipe econômica, a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT) caminha para um lucro bilionário neste ano e deve ter seu
melhor resultado pelo menos desde 2012.
O balanço preliminar de janeiro a setembro
está positivo em R$ 836,5 milhões, segundo dados internos da estatal
obtidos pelo Valor. A chegada do último trimestre, quando o faturamento
dos Correios tradicionalmente aumenta por causa das encomendas
relacionadas à Black Friday e ao Natal, aumenta as chances de um lucro
superior a R$ 1 bilhão.
“Tudo caminha para isso. Tivemos anos em que
o resultado estava negativo até setembro e, quando se pega o desempenho do
último trimestre, registra-se lucro na casa de dezenas ou centenas de
milhões de reais”, afirma o vice-presidente da Associação dos
Profissionais dos Correios (ADCAP), Marcos
César Silva, que integrou o conselho de administração da
estatal por cinco anos.
Em 2012, o lucro alcançou R$ 1,113 bilhão.
Depois, foram quatro anos seguidos de prejuízo. O resultado só voltou ao
azul em 2017, mas graças a uma virada contábil de última hora. Naquele
ano, o déficit operacional estava perto de R$ 2 bilhões.
O que houve foi uma mudança das
premissas atuariais no registro conhecido como “benefício pós-emprego”,
com uma redução de gastos meramente contábil, por causa de alterações no
plano de saúde dos empregados. Mesmo sem refletir equilíbrio entre
receitas e despesas, a ECT registrou R$ 667 milhões de lucro.
O resultado parcial de 2020, entre janeiro e
setembro, já elimina boa parte das perdas verificadas com a greve de 35
dias dos funcionários dos Correios. A paralisação terminou no dia 22 de
setembro.
Quase metade de suas receitas atuais provém
de encomendas expressas. A companhia postal detém 44% do mercado
brasileiro, que já é aberto à concorrência nesse segmento, e a pandemia de
covid-19 gerou uma explosão do e-commerce. A Associação Brasileira de
Comércio Eletrônico (Abcomm) projeta crescimento em torno de 30% para este
ano.
Para o ex-conselheiro Marcos César, a
perspectiva de lucro bilionário neste ano demonstra que os Correios têm
capacidade de enfrentar o desafio de modernização e enfraquece o discurso
de que a estatal corre o risco de tornar-se dependente do Tesouro
Nacional. Um dos requisitos para que isso ocorra é a repetição de
prejuízo por dois anos seguidos.
Em setembro, o secretário especial de
Desestatização do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, disse temer que
os Correios se transformem numa empresa dependente no futuro próximo.
“Mostra que a alternativa à privatização é
caminhar na beira de um vulcão”, afirmou Mac Cord na ocasião. “De
imediato, a consequência de virar dependente é concorrer no orçamento com
todo o resto da administração pública. As despesas dos Correios somam R$
20 bilhões ao ano. Se esse valor entrar no Orçamento Geral da
União, alguém perde cifra igual.”
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) contratou um consórcio - formado pela Accenture e pelo escritório
Machado, Meyer, Sendacz, Opice e Falcão Advogados - para fazer os estudos
prepatórios de privatização.
A intenção do governo é concretizar a
venda até 2022. Procurada, a atual direção dos Correios evitou confirmar
os números. “Os resultados financeiros de 2020 serão divulgados tão logo
sejam contabilizados e auditados internamente. Dessa forma, quaisquer
valores informados antecipadamente não têm caráter oficial, configurando
mera especulação”, afirmou a assessoria da empresa.
“É fato que a atual administração tem
trabalhado em prol da recuperação do equilíbrio financeiro da instituição.
Em razão das diversas medidas de racionalização de gastos e aumento de
receita, é natural que os indicadores financeiros demonstrem melhora.”
Direção
Nacional da ADCAP.
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