O fardo pesado dos
Correios
ISTO É DINHEIRO ON-LINE
31/3/17
31/3/17
Com prejuízo de R$ 4,1 bilhões nos últimos
dois anos, a privatização surge como uma alternativa para recolocar a empresa
nos trilhos
Moacir Drska Detentor do monopólio de serviços postais no Brasil, os Correios se acostumaram a percorrer o País para cumprir prazos e concluir entregas. Nos últimos anos, no entanto, o caminho da estatal tem sido marcado por desvios e por uma carga extremamente pesada. Entre outras curvas, a empresa foi o estopim do escândalo do mensalão e se consolidou como um dos principais símbolos de ineficiência da gestão pública, ao acumular um prejuízo de R$ 4,1 bilhões, somados os resultados de 2015 e 2016. Diante desses números, um novo destino para a companhia pode ganhar força. “Os Correios estão correndo contra o relógio”, afirmou Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, durante cerimônia realizada na terça-feira 28. “Ou a empresa faz cortes radicais ou vai rumar para a privatização.” As palavras de Kassab chamaram a atenção do mercado. “A fala do ministro foi mais um alerta para a postura irredutível dos sindicatos quanto à realidade da companhia”, afirma Guilherme Campos, à frente da estatal desde junho de 2016. Ele se diz contrário à privatização da operação e ressalta que tanto Kassab como o presidente Michel Temer compartilham essa opinião. “A privatização não é nossa orientação. Tanto pela capilaridade nacional dos Correios como pelo fato de o ativo estar muito depreciado e abaixo do seu valor real.” Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de economia aplicada da FGV/IBRE, a fala do ministro terá reflexos imediatos. “Certamente, a pressão sobre os sindicatos de trabalhadores para ampliar a margem de negociação será reforçada”, diz. Já a privatização como alternativa divide outros analistas ouvidos pela DINHEIRO.
“A operação ganharia em eficiência e seus ativos seriam melhor explorados”, afirma Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Instituto Coppead. Professor de estratégia do Insper, Sandro Cabral observa que a transformação digital que vem desafiando os serviços tradicionais dos Correios requer ajustes difíceis de serem implantados em meio à burocracia de uma companhia pública. Mas ressalta que a privatização deve ser analisada com cautela. “É muito provável que a lógica de custo e benefício da iniciativa privada prejudique o serviço em localidades remotas”, diz.
Ele observa ainda que é difícil usar exemplos de outros países que privatizaram seus serviços postais como parâmetro (veja quadro ao final da reportagem). “Pelas dimensões do Brasil, um processo dessa natureza seria muito mais complexo.” Sob esse cenário de especulações, Campos prepara o anúncio de um pacote de reestruturação para abril. Um dos focos é ampliar a atuação no segmento de encomendas expressas. Outra prioridade é aproveitar a capilaridade de 6,5 mil agências no País para explorar novos negócios. Entre as opções em análise estão o lançamento de uma loteria postal e a oferta de um escopo mais amplo de serviços públicos. “Temos uma estrutura pronta para operar como uma espécie de Poupatempo nacional.” À parte dessas estratégias, o desafio imediato é estancar o prejuízo. Nessa direção, os Correios anunciaram que irão fechar 250 agências em cidades com mais de 50 mil habitantes No radar estão regiões com alta concentração de unidades. Outra medida foi a abertura de um programa de demissão voluntária, que teve a adesão de 5,2 mil funcionários, ante um quadro total de 117 mil profissionais. O principal entrave, no entanto, é o impasse do Postal Saúde. O plano de saúde é apontado como a principal causa das perdas da empresa. Atualmente, os Correios arcam com 93% dos custos.
CORREIOS
“Precisamos de um modelo no qual exista uma participação efetiva do funcionário no custeio”, diz. Em meio às duras negociações, a gestão de Campos tem sido questionada. “A falta de uma gestão profissionalizada, baseada em conhecimentos técnicos, segue dando as cartas”, diz Marcos César Alves Silva, conselheiro dos Correios. Em janeiro, a Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) afastou, por meio de uma liminar, seis vice-presidentes da companhia, sob a alegação de que eles não atendiam os requisitos da Lei das Estatais.
No entanto, a empresa conseguiu derrubar a decisão. “Esse aparelhamento político prejudica a reestruturação”, diz Maria Inês Capelli, presidente da Adcap. Em resposta a essas afirmações, Campos diz que, em 354 anos de atividades, sempre houve indicações políticas nos Correios. “E muitos desses gestores levaram a empresa a se tornar uma referência mundial”, afirma. Ele acrescenta que a companhia tem uma equipe capaz de reverter esse quadro negativo. “Nosso objetivo é fechar 2017 no azul. Esse é o ano da virada dos Correios".
Moacir Drska Detentor do monopólio de serviços postais no Brasil, os Correios se acostumaram a percorrer o País para cumprir prazos e concluir entregas. Nos últimos anos, no entanto, o caminho da estatal tem sido marcado por desvios e por uma carga extremamente pesada. Entre outras curvas, a empresa foi o estopim do escândalo do mensalão e se consolidou como um dos principais símbolos de ineficiência da gestão pública, ao acumular um prejuízo de R$ 4,1 bilhões, somados os resultados de 2015 e 2016. Diante desses números, um novo destino para a companhia pode ganhar força. “Os Correios estão correndo contra o relógio”, afirmou Gilberto Kassab, ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, durante cerimônia realizada na terça-feira 28. “Ou a empresa faz cortes radicais ou vai rumar para a privatização.” As palavras de Kassab chamaram a atenção do mercado. “A fala do ministro foi mais um alerta para a postura irredutível dos sindicatos quanto à realidade da companhia”, afirma Guilherme Campos, à frente da estatal desde junho de 2016. Ele se diz contrário à privatização da operação e ressalta que tanto Kassab como o presidente Michel Temer compartilham essa opinião. “A privatização não é nossa orientação. Tanto pela capilaridade nacional dos Correios como pelo fato de o ativo estar muito depreciado e abaixo do seu valor real.” Para Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de economia aplicada da FGV/IBRE, a fala do ministro terá reflexos imediatos. “Certamente, a pressão sobre os sindicatos de trabalhadores para ampliar a margem de negociação será reforçada”, diz. Já a privatização como alternativa divide outros analistas ouvidos pela DINHEIRO.
“A operação ganharia em eficiência e seus ativos seriam melhor explorados”, afirma Carlos Heitor Campani, professor de finanças do Instituto Coppead. Professor de estratégia do Insper, Sandro Cabral observa que a transformação digital que vem desafiando os serviços tradicionais dos Correios requer ajustes difíceis de serem implantados em meio à burocracia de uma companhia pública. Mas ressalta que a privatização deve ser analisada com cautela. “É muito provável que a lógica de custo e benefício da iniciativa privada prejudique o serviço em localidades remotas”, diz.
Ele observa ainda que é difícil usar exemplos de outros países que privatizaram seus serviços postais como parâmetro (veja quadro ao final da reportagem). “Pelas dimensões do Brasil, um processo dessa natureza seria muito mais complexo.” Sob esse cenário de especulações, Campos prepara o anúncio de um pacote de reestruturação para abril. Um dos focos é ampliar a atuação no segmento de encomendas expressas. Outra prioridade é aproveitar a capilaridade de 6,5 mil agências no País para explorar novos negócios. Entre as opções em análise estão o lançamento de uma loteria postal e a oferta de um escopo mais amplo de serviços públicos. “Temos uma estrutura pronta para operar como uma espécie de Poupatempo nacional.” À parte dessas estratégias, o desafio imediato é estancar o prejuízo. Nessa direção, os Correios anunciaram que irão fechar 250 agências em cidades com mais de 50 mil habitantes No radar estão regiões com alta concentração de unidades. Outra medida foi a abertura de um programa de demissão voluntária, que teve a adesão de 5,2 mil funcionários, ante um quadro total de 117 mil profissionais. O principal entrave, no entanto, é o impasse do Postal Saúde. O plano de saúde é apontado como a principal causa das perdas da empresa. Atualmente, os Correios arcam com 93% dos custos.
CORREIOS
“Precisamos de um modelo no qual exista uma participação efetiva do funcionário no custeio”, diz. Em meio às duras negociações, a gestão de Campos tem sido questionada. “A falta de uma gestão profissionalizada, baseada em conhecimentos técnicos, segue dando as cartas”, diz Marcos César Alves Silva, conselheiro dos Correios. Em janeiro, a Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) afastou, por meio de uma liminar, seis vice-presidentes da companhia, sob a alegação de que eles não atendiam os requisitos da Lei das Estatais.
No entanto, a empresa conseguiu derrubar a decisão. “Esse aparelhamento político prejudica a reestruturação”, diz Maria Inês Capelli, presidente da Adcap. Em resposta a essas afirmações, Campos diz que, em 354 anos de atividades, sempre houve indicações políticas nos Correios. “E muitos desses gestores levaram a empresa a se tornar uma referência mundial”, afirma. Ele acrescenta que a companhia tem uma equipe capaz de reverter esse quadro negativo. “Nosso objetivo é fechar 2017 no azul. Esse é o ano da virada dos Correios".
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