terça-feira, 4 de abril de 2017

“Sou contrário à privatização dos Correios”, diz presidente dos Correios

IstoÉ
31.03.17

O ministro Gilberto Kassab afirmou que os Correios precisam fazer cortes radicais, sob o risco de caminhar para a privatização. Como o sr. enxerga essa possibilidade?

Eu sou contrário à privatização dos Correios, assim como o ministro Gilberto Kassab e o presidente Michel Temer. Essa não é a nossa orientação. Pelas peculiaridades, capilaridade e a presença nacional da empresa. E, ainda mais, pelo fato de que iniciar um processo desse porte, com a companhia com números tão fragilizados, seria inviável. O ativo está muito depreciado e sua avaliação atual está bem abaixo de seu valor real.

Se o ministro é contrário a essa alternativa, o que está por trás dessas afirmações?

A fala do ministro foi muito mais um alerta para a postura irredutível dos sindicatos dos trabalhadores quanto à realidade da companhia. O governo não vai injetar recursos na operação. Os Correios têm que achar uma alternativa para se manter como uma estatal independente. É preciso recuperar a empresa. Mas, para isso, tenho que tomar medidas duras, antipáticas e desagradáveis.

Um desses pontos polêmicos é o Postal Saúde, o plano de saúde dos funcionários dos Correios. O sr. já afirmou que o benefício é o principal responsável pelo rombo bilionários da empresa. O que é preciso ser revisto no modelo atual?

Precisamos ter um modelo no qual haja uma participação efetiva do funcionário no custeio. Hoje, os Correios arcam com 93% dos custos. Há uma proposta em análise pelos sindicatos. Temos um prazo para um retorno até terça-feira 4. Caso um acordo não seja fechado, as vias judiciais são o nosso próximo passo para resolver essa questão.

O sr. anunciou um plano para fechar 250 agências no País. Quais são os critérios que estão sendo utilizados para definir essas unidades?

Nosso foco são as cidades com mais de 50 mil habitantes, nas quais há uma superposição de agências. Mas estamos tendo muito cuidado, porque não queremos perder nosso grande ativo que é a capilaridade. Em outra ponta, até o fim do ano, vou apresentar um novo plano de expansão via franquias. Esse é um exemplo de parceria com a iniciativa privada que nos ajuda a reduzir a dependência dos custos de manter unidades próprias.

Quais outras medidas o sr. destacaria nesses nove meses de gestão?

Nós zeramos os patrocínios culturais e os patrocínios esportivos caíram 70% de 2016 para esse ano. Abrimos o programa de demissão voluntária, que teve adesão de 5,2 mil funcionários. E também estamos analisando o modelo de demissões motivadas. Mas ainda não posso revelar um número estimado de cortes e também a economia estimada com todas essas iniciativas.

O que explica uma empresa que detém um monopólio apurar perdas bilionárias?

A atividade postal passou por uma grande revolução no mundo. A transformação digital na área de comunicação mudou uma série de paradigmas. E as principais empresas do setor fizeram a lição de casa que o Brasil não fez. Boa parte delas procurou alternativas para diminuir a participação desse monopólio em suas receitas. Cada país achou sua solução. Nós não demos esse passo.
E o que o sr. planeja para reverter esse quadro?

Vou apresentar um plano de reestruturação em abril. Um dos nossos focos é ampliar nossa presença no segmento de encomendas expressas. Para isso, estamos alterando nossas políticas comerciais e investindo em tecnologia para tornar a operação mais eficiente. Ao mesmo tempo, nossa prioridade é rentabilizar ao máximo nossa rede de agências e nossa experiência logística.

O que está sendo pensado nessa frente?

Uma das possibilidades é funcionar como um balcão de atendimentos de diversos serviços públicos. Quanto custaria para o governo federal estruturar uma rede do porte que nós temos? Os Correios têm condições de atuar como uma espécie de “Poupatempo” nacional.

O sr. também sinalizou a intenção de lançar uma loteria. O que há de concreto nesse projeto?

Eu plantei essa semente e já estou conversando com a Caixa Econômica Federal. É um assunto delicado, mas pertinente, dada a nossa presença nacional.

E quanto ao projeto de operadora de telefonia móvel lançado no início de março, em São Paulo. Quais são os planos de expansão e a expectativa de receita com essa oferta?

Até o fim do ano, estaremos em Brasília, Belo Horizonte e outras três mil cidades do País. Nossa meta é chegar a uma receita de R$ 84 milhões em 2017 e de R$ 500 milhões em cinco anos com essa vertente. Mas a operação de telefonia móvel sozinha não vai resolver nossos problemas. Só vamos reverter esse quadro com a soma de muitas iniciativas que estão sendo desenhadas.


O aparelhamento político, em detrimento da gestão técnica, é um dos fatores que também explicam a situação atual dos Correios. Segundo representantes dos funcionários, essa prática segue sendo a tônica em sua gestão. O que o sr. tem a dizer sobre essas afirmações?

Em 354 anos dos Correios como empresa pública sempre houve indicações políticas no alto escalão da empresa. E foram essas pessoas que levaram a companhia a ser uma referência no setor. Temos pessoas muito qualificadas no nosso quadro que vão nos ajudar a recuperar a operação. Os dez anos em que a empresa ficou parada vão acontecer em 2017. Esse é o ano da virada dos Correios.

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