DA ADCAP COM O VEÍCULO
Vender Correios exige mudar a Constituição
Valor
19/08/2019
Fabio Graner
19/08/2019
Fabio Graner
Para
privatizar os Correios, o governo precisaria mudar a Constituição. A avaliação
é do vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP),
Marcos Alves Silva. Ele diz que o artigo 21 da Constituição, em
seu inciso X, determina que compete à União manter o serviço postal e que a
estatal representa o cumprimento desse dispositivo.
Para ele,
mesmo que o governo considere a hipótese de dividir a empresa e vender apenas a
parte de logística, mantendo público o serviço postal, isso não teria viabilidade
porque as operações estão muito relacionadas. Pessoalmente, considera viável
uma abertura de capital, sem perda de controle da União. Mas ele ressalta que a
ADCAP e outras entidades ligadas aos trabalhadores são contra essa alternativa.
Silva explicou
que, no caso de uma abertura de capital ou privatização, uma das consequências
seria a perda da imunidade tributária, hoje calculada em R$ 1,6 bilhão. Ele
observa que os Correios não são "dependentes" da União e não há razão
para isso acontecer, exceto se o governo forçar a empresa a fazer movimentos
que gerem prejuízo (como um mal conduzido programa de demissão voluntária, por
exemplo). Não faz sentido, diz, o cenário considerado na área econômica do
governo de a estatal tornarse "dependente", o que implicaria em levar
o orçamento de R$ 21 bilhões da empresa para dentro da União, consumindo espaço
do teto de gastos.
Segundo
Silva, os prejuízos dos últimos anos da companhia se devem a fatores como os
excessivos pedidos de dividendos feitos pela União entre 2011 e 2014, que
consumiram o caixa de R$ 6 bilhões da empresa, que gerava receita financeira e
capacidade de investimentos. Os congelamentos de tarifas daquele período
prejudicaram a capacidade financeira. Por fim, houve mudança contábil que gerou
despesa de R$ 9 bilhões em 2014 e que tem reverberado até hoje na empresa
porque se refere a uma atualização de passivo dos planos de saúde dos
funcionários.
A
entidade aponta que tem grande capilaridade e qualidade operacional. "É um
sacrilégio o Ministério da Economia dizer que a gente representa uma barreira
logística para o pequeno empresário. É o contrário". Os Correios
privatizados no mundo, observou, são minoria e em países como Alemanha e Japão
as empresas têm fatia relevante da União. Silva defende que os Correios façam
parcerias com o setor privado na área de seguros, banco postal e em logística.
O
primeiro presidente dos Correios na gestão Bolsonaro, Juarez Cunha, também se
mostrava contra a privatização dos Correios.
Foi
substituído em junho por Floriano Peixoto Vieira Neto, que disse, então, que a
decisão de vender a estatal cabe ao presidente Jair Bolsonaro. O plano de
privatização é defendido pela equipe econômica.
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