terça-feira, 10 de setembro de 2019


Governo precisa decidir o futuro dos Correios, com ou sem privatização A melhor alternativa é a venda da ECT, mas não há estudos sobre a operação e falta debater alternativas

O Globo
19/08/2019

O presidente e o ministro da Economia têm mencionado a intenção de privatizar os Correios, serviço público com 356 anos de existência e uma estrutura composta por 105 mil pessoas, e 12 mil agências que atendem a 5,5 mil municípios. Já foi modelo em eficiência e credibilidade. Hoje é mais uma estatal em degradação.

Os Correios representam uma síntese de um longo ciclo de desgoverno nas empresas públicas. Encerrou 2018 com receita de R$ 18,5 bilhões, dos quais dois terços consumidos na despesa com pessoal e menos de 3% investidos no negócio. Na última década teve uma nova diretoria a cada dois anos e passou por uma dúzia de greves.

A exploração sindical e partidária acabou levando a estatal e seu fundo de pensão, Postalis, ao centro dos principais casos de corrupção dos últimos 15 anos. Um flagrante de pagamento de propina numa sala da diretoria ilustrou o caso conhecido como mensalão — compra de maioria parlamentar no primeiro governo Lula.

Na sequência, revelou-se uma série de fraudes no Postalis. Uma delas foi o pagamento de US$ 120 milhões na compra de títulos cujo valor de face somava US$ 41 milhões.

Foi uma operação financeira com sobrepreço de US$ 79 milhões (191%), num fundo de investimento cujo único cotista era o Postalis. Boa parte dos papéis estava lastreada em títulos emitidos pelo governo e pela estatal de petróleo da Venezuela, a PDVSA. Valiam pouco mais que a tinta e o papel usados.

Negócios como esse, realizados em meio à luta entre o PT e o PMDB pelo comando da estatal, levaram o Postalis a perder 25% do patrimônio dos associados.

A privatização é uma alternativa que merece ser considerada, já adotada com êxito no Japão, por exemplo.

Mas é necessário cautela, porque o serviço público postal brasileiro tem peculiaridades.

Os Correios obtêm 92% de sua receita (R$18,1 bilhões) em 324 cidades. Descontada a despesa operacional nessas áreas, apura superávit R$ 6,7 bilhões anuais. Em outros 5.246 municípios, a situação é inversa: gasta R$ 8,1 bilhões por ano para faturar R$ 1,5 bilhão — ou seja, perde R$ 6,6 bilhões na operação.

Até agora, a privatização dos Correios não passou de citação em discursos do presidente e do ministro da Economia. Inexistem estudos e não há debate sobre alternativas realistas para o futuro da empresa. Lamentável, porque a degradação desse serviço estratégico limita as chances de expansão mais rápida do comércio eletrônico.

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