quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Precarização do trabalho e déficit geram crise nos Correios

De Fato Online
10/08/2017 

Falta de pessoal e de segurança, fechamento de agências, condições precárias de trabalho e até pressão por demissão. Do outro lado, queda no volume de entregas e na arrecadação, com prejuízos nos últimos dois anos. A conta não fecha na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e tem levado à queda na qualidade dos serviços de uma das instituições mais confiáveis do País.

O tema foi discutido nesta quarta-feira, 9 de agosto, pela Comissão do Trabalho, da Previdência e da Assistência Social da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a requerimento do deputado Antônio Lerin (PSB). “Minas não pode ficar de fora dessa discussão. Trata-se de uma empresa genuinamente brasileira, que enfrenta um problema de ordem política”, frisou.

Ao final da audiência, Antônio Lerin propôs reunião conjunta com a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados para avançar na discussão. Esse requerimento ainda será votado. Ele frisou a necessidade de valorização dos trabalhadores dos Correios e defendeu auditoria nas contas da empresa.

Déficit
Representando a superintendência dos Correios em Minas, o assessor da Gerência Regional de Coleta e Distribuição, José Maria Riani Filho, mostrou os principais números da empresa, que permitem mensurar a dificuldades que ela atravessa. Ele também enfatizou que as diretrizes são definidas em nível nacional, o que restringe muitas ações locais.

De 2012 a 2016, por exemplo, houve redução de 15,7% no número de objetos entregues, conforme dados do assessor. Entre as causas, segundo Riani, estão as mudanças tecnológicas. Quanto ao resultado financeiro, houve queda na arrecadação, culminando com déficit de R$ 2 bilhões em 2015 e de valor semelhante em 2016.

Outros gestores da empresa também acompanharam a audiência, que foi inicialmente conduzida pelo deputado Coronel Piccinini (PSB), e se colocaram à disposição da comissão para os desdobramentos da discussão.

Sindicatos rebatem informações
Representantes dos trabalhadores questionaram os números apresentados, negaram que haja déficit e afirmaram que o objetivo da gestão nacional é sucatear os Correios para facilitar sua privatização. “As contas de 2016 nem foram prestadas”, destacou Robson Gomes da Silva, presidente do sindicato da categoria em Minas (Sintect-MG) e diretor da federação (Fentect).

Ele criticou o foco no lucro e lembrou que os Correios têm o dever constitucional de prestar o serviço em todos os municípios. “O presidente já anunciou o fechamento de várias agências”, contrapôs. O sindicalista também frisou que a ECT tem oito vice-presidências bem remuneradas, enquanto o funcionário da empresa tem o pior salário do serviço público federal.

“Fazemos políticas públicas. Distribuímos vacina e livro didático; atuamos no Enem e nas eleições. Mas agora temos a Distribuição Domiciliar Alternada (DDA), que não permite a entrega das correspondências diariamente”, ironizou. Para ele, a empresa tem atuação e informações estratégicas e não deve ser privatizada.

Irani Fernandes de Araújo, secretária-geral do Sintect-MG, reforçou que a população está recebendo as contas em atraso e, por isso mesmo, não está satisfeita. “Não temos pessoal. O trabalhador adoece por sobrecarga de trabalho”, afirmou. Segundo ela, uma auditoria nas contas dos Correios seria essencial e revelaria que a empresa é lucrativa.

Outros sindicalistas presentes à audiência, inclusive do interior de Minas, citaram que carteiros têm sido agredidos pela população em função da queda na qualidade do serviço. Também estariam sendo vítimas da falta de segurança no trabalho. Houve críticas ao aparelhamento da empresa, à má gestão e à criminalização dos sindicatos.

Resposta 
José Maria Riani afirmou que a meta dos Correios é a entrega de 92% das correspondências em até cinco dias. Mas, historicamente, o prazo foi mantido em um dia. “Nós mesmos nos impusemos um desafio maior”, lembrou. Hoje, segundo ele, 95% das entregas em Minas são feitas em até cinco dias, portanto, acima da meta da empresa.

Deputados defendem valorização do servidor

Os parlamentares lamentaram a situação dos Correios, responsável por um serviço relevante, e salientaram a necessidade do debate e da valorização dos servidores. “As instituições estão falindo no País. A Assembleia é a casa do diálogo, onde podemos buscar saída”, frisou o deputado Nozinho (PDT).
O deputado André Quintão (PT) avaliou que a crise na empresa se alinha às mudanças impostas ao País com as novas regras de terceirização e a reforma trabalhista. “Assim como nos Correios, a proposta de reforma da Previdência também busca abrir caminho para a privatização”, apontou.


Ele ressalvou que os problemas não surgiram apenas no último ano. “Há questões complexas nas empresas públicas, em função de composições de alianças políticas, por má gestão”, sinalizou. André Quintão reforçou que os trabalhadores devem ficar atentos para defender a empresa. “Se o servidor é valorizado, o serviço melhora na outra ponta, para o cidadão”, acrescentou.

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