quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Adcap Net 01/10/2020 - Entrevista do VP da ADCAP à revista Exame, situação dos CTT e os planos da DHL no Brasil - Veja mais!

Entrevista à Revista Exame

ADCAP

Conversamos hoje, por mais de uma hora, com jornalista da Revista Exame, procurando passar-lhe nossa visão a respeito da intenção de privatização dos Correios e do valor da Empresa.

A matéria publicada traz algumas respostas lacônicas e outras incompletas, mas cada questão formulada foi respondida de forma circunstanciada.

Consideramos que os Correios possuem um valor imenso para o Estado e estão num momento de grande crescimento de negócios, com a explosão de demanda do comércio eletrônico, o que torna difícil medir seu valor pelos processos usuais de valuation. Mencionamos também que, se um marketplace cujo principal mercado é o Brasil foi avaliado em US$ 60 bilhões recentemente, não faria nenhum sentido pensar que os Correios valeriam algo como R$ 15 bilhões, como foi comentado recentemente. A principal infraestrutura do comércio eletrônico brasileiro tem muito valor, principalmente para o Estado, que tem nos Correios presença assegurada em cada município brasileiro.

Mencionamos que, apesar de os números da Empresa serem expressivos, poderiam ser ainda maiores, ou seja, a Empresa tem uma pista imensa de crescimento à frente se seu desenvolvimento for impulsionado.

Explicamos que, em termos de resultados, a Empresa está muito bem. Teve mais de meio bilhão de reais de lucro acumulado nos últimos dez anos. Teve resultados positivos nos últimos 3 anos, acumulando nesse período mais de R$ 800 milhões de lucros.

Diante da insistência da jornalista em tratar de corrupção nos Correios, procurei explicar-lhe, nas três vezes em que me inquiriu sobre esse tema, que não houve corrupção sistêmica nos Correios e que os casos havidos ao longo do tempo foram pontuais e debelados com a punição dos envolvidos. Expliquei que, em qualquer grande empresa como os Correios, haverá sempre a possibilidade de algum desvio ético, que deve prontamente ser corrigido pelo compliance da organização.

Feitas essas observações, leia a entrevista.

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Correios valem o mesmo que Mercado Livre, diz associação de funcionários

Vice-presidente da entidade também argumenta que deveriam ser contratados 20 mil funcionários e define as denúncias de corrupção como casos pontuais

Exame
30/09/2020


Com a privatização dos Correios cada vez mais nos holofotes, o vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios, Marcos César Alves, argumenta que os Correios têm o mesmo valor de mercado que o Mercado Livre, considerada uma das empresas mais valiosas da América Latina. Os Correios tiveram prejuízo entre 2013 e 2016, carregando um passivo de pelo menos 6,8 bilhões de reais. Em entrevista à EXAME, ele também defende a abertura de 20.000 vagas para dar mais agilidade às entregas e discute a última greve, que durou 35 dias. Alves comenta ainda os escândalos de corrupção envolvendo a empresa. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Como vocês chegaram ao valor de mercado de 60 bilhões de dólares dos Correios, divulgado pela Associação na sexta passada, dia 25?

É porque isso é o que vale o Mercado Livre.

Mas o Mercado Livre não é uma empresa de logística e, mesmo que fosse, seria necessário levar em conta uma série de indicadores na avaliação de mercado dos Correios, como acontece em qualquer empresa, não? E o Mercado Livre é a empresa mais valiosa do Brasil.

A maior parte do resultado financeiro do Mercado Livre vem das entregas e os Correios também fazem entregas. Temos a maior capilaridade do Brasil e temos um papel fundamental na entrega de encomendas, maior do que a de empresas do setor. Na última década, os Correios tiveram um lucro de meio bilhão de reais. Nos últimos três anos, foi de mais de 800 milhões de reais. Por isso, não faz sentido falar em prejuízo num quadro desse.

E quanto aos indicadores dos Correios? De quanto é o passivo, por exemplo?

Não sei dizer.

Há dívidas relativas ao plano de previdência e plano de saúde?

E outras também, como encargos trabalhistas, mas não tenho esses dados.

A greve dos Correios, que durou 35 dias, pode interferir na avaliação da empresa e na percepção da população em relação ao serviço?

A qualidade do serviço aumentou nos últimos anos. O que acontece é que houve um aumento muito grande da demanda por entrega de encomendas, por causa do crescimento do e-commerce e da pandemia. Não estávamos adequadamente preparados para isso. Essa é uma questão que cabe à direção da empresa.

O que seria preciso para adequar os Correios a essa nova realidade?

Precisa reforçar a estrutura de transporte e o pessoal para dar mais vazão às entregas, o que é uma decisão da direção da estatal.

Precisaria então de investimentos em logística e contratação de pessoas?

Sim. No ano passado os Correios receberam 5.000 vans e motos. Sobre a contratação e abertura de novas vagas por concurso público, hoje temos 95.000 funcionários. Precisaríamos de uns 120.000.

Então, fazendo uma conta aqui levando em conta a média salarial de 3.000 reais dos funcionários, daria uma boa quantia adicional de folha de pagamentos...

Já houve períodos em que os Correios abriam concurso para 5.000 vagas. Algumas pessoas dizem que ter 95.000 funcionários, o atual contingente dos Correios, é muito. Mas não é, dado que entregamos em todo o Brasil, em todas as cidades.

E qual é sua avaliação sobre a greve, que durou 35 dias?

Ao final, após o julgamento na Justiça, mantidos basicamente apenas os benefícios previstos na CLT. Foram retirados vários outros, referentes, por exemplo, ao abono de Natal de cerca de 1.000 reais. Isso era uma espécie de estímulo para os funcionários num período, o mês de dezembro, que os Correios costumam ter mais encomendas. Foi retirada também a licença-maternidade de 180 dias, por exemplo. Essas cláusulas constavam de um acordo coletivo que deveria valer até 2021, mas foi barrado pela direção da empresa este ano sob alegação de que a pandemia poderia prejudicar a saúda da empresa.

A greve foi um tiro no pé, como tem dito o governo, porque pode interferir negativamente na avaliação da empresa, promovendo o interesse de mais empresas pela privatização?

As cláusulas que mencionei constavam de um acordo coletivo que deveria valer até 2021, mas foi barrado pela direção da empresa neste ano sob a alegação de que a pandemia poderia prejudicar a saúde da empresa. Os benefícios funcionavam como uma compensação salarial. Não acho que a paralisação possa afetar a avaliação da empresa. Acredito que as entregas devem ser retomadas em algumas semanas.

Caso a privatização realmente ocorra, muitos funcionários poderiam ser demitidos?

O principal é discutirmos como o governo está conduzindo a privatização. O normal e correto é que primeiro o assunto seja discutido no Congresso e que depois se faça um marco regulatório do setor, o que não aconteceu. Só em um terceiro momento deveria ser encaminhado o tema da privatização, e isso precisaria ser feito com bases em estudos. É isso temos falado. O processo está todo errado.

Mas uma consultoria foi contratada para realizar os estudos, não?

Sim, mas nenhum funcionário dos Correios tem confiança nela. O governo está orientando o que a consultoria precisa dizer nesses estudos. A consultoria vai fazer o que o governo mandar. Inclusive, essa mesma consultoria fez um trabalho de reestruturação dos Correios há alguns anos e não adiantou nada.

O senhor comentou que fez parte do conselho de administração dos Correios. Como o senhor se sentiu frente aos escândalos de corrupção da estatal?

Sim, estive no conselho entre 2013 e 2018. Olha, foram casos isolados, pontuais. Não dá para imaginar que nunca vai ter um evento pontual de desvio em nenhuma empresa. Temos de pensar que haverá punições e que precisamos fazer todos os esforços para reforçar o compliance. Mas não dá para imaginar que nenhum funcionário nunca vai tirar nada.

O conselho de administração foi pego de surpresa com as denúncias de corrupção?

Nós sempre trabalhamos pelo compliance e pela punição dos casos pontuais que surgiam. Sempre defendi isso, que os culpados deveriam ser punidos.

Mas parece que o compliance não adiantou muito, já que foram surgindo novos casos de corrupção, não? Neste ano, em agosto, houve uma operação da Polícia Federal para desarticular uma organização criminosa de dentro dos Correios que subfaturava os valores para postagens de cartas, com prejuízo de 94 milhões de reais ao patrimônio público.

Foi um caso envolvendo franquias, não dá para dizer que havia uma organização criminosa dentro dos Correios. E esses casos são punidos. E, de novo, são questões pontuais.

O senhor alguma vez pensou em sair do conselho de administração por causa dos casos de corrupção ou até em se demitir?

Não. Sempre tive ciência de que eram casos pontuais e sempre nos empenhamos em fazer o melhor pela empresa.

Afinal qual era o problema dos CTT?

JE
Portugal
29/09/2020

É tempo de repensar, não o contrato de concessão, que é descaradamente incumprido, mas a própria propriedade dos CTT, empresa que está a ser descapitalizada.

Desde a privatização dos CTT, levada a cabo pelo governo PSD/CDS em 2013, que a degradação do serviço prestado aos cidadãos se tem intensificado. Hoje, como resultado desse erro, os cidadãos pagam mais e a oferta do serviço é menor, enquanto os trabalhadores viram as suas condições de trabalho sofrer um substancial retrocesso.

A isto acresce ainda o facto de o Banco CTT ter sido implementado sobre a estrutura de Estações de Correio, funcionando nas instalações e com os trabalhadores dos correios, o que aumenta as filas de espera. Para a administração dos CTT, o serviço postal passou para segundo ou terceiro plano, em benefício do banco.

Estamos, assim, perante mais uma privatização lucrativa para poucos e ruinosa para muitos, quando, na verdade, os CTT não representavam qualquer problema para o país. Enquanto empresa pública contribuíam com muito emprego e importantes receitas para os cofres do Estado, ao mesmo tempo que prestavam um serviço público inestimável e fundamental para as populações, para o desenvolvimento do país e para a coesão territorial.

Não se estranha, por isso, que, durante todo este processo, tenhamos assistido a uma incansável luta por parte das populações, dos trabalhadores e de autarcas de diferentes forças políticas para que a concessão dos CTT fosse resgatada de forma a reverter a degradação do serviço.

Aproxima-se o fim da concessão, cresce o descontentamento popular e a resposta da administração dos CTT passou por uma operação de propaganda, travando o encerramento de estações, reabrindo algumas até, e anunciando a contratação de mais de 800 trabalhadores desde Abril de 2020. No entanto, as contas do primeiro semestre revelam que há menos 500 trabalhadores desde Junho do ano passado.

Tem vindo também a agregar vários Centros de Distribuição, o que faz com que centenas de trabalhadores tenham de se deslocar para dezenas de quilómetros de distância das suas residências por conta própria e a distribuição do correia seja ainda mais tardia.

O que se está a passar nos CTT não é próprio de um Estado de Direito e os accionistas continuam a apoderar-se, sob a forma de dividendos, de todos os lucros gerados pela empresa e até a distribuir dividendos superiores aos lucros, descapitalizando os CTT.

É tempo de repensar, não o contrato de concessão, que é descaradamente incumprido, mas a própria propriedade dos CTT. Não é necessário grande esforço para se perceber que o serviço postal, a continuar nas mãos de privados e seguindo este rumo, tem o seu futuro comprometido, podendo ser destruído de forma irreversível. Impõe-se, por isso, que o Governo defenda este serviço estratégico e as necessidades dos cidadãos e do país, o que só é possível quando os CTT voltarem a integrar a esfera do Estado.

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"O Presidente da DHL não culpa seus antecessores por nada e nem fala de corte de custos, mas sim de avanços na conquista de mercado, em mais aplicações de tecnologia na empresa e em melhorias de processo, como deveria ser mesmo, inclusive nos Correios. ADCAP."

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Os planos da concorrente alemã dos Correios para o Brasil

Por aqui, a companhia conta com 13.000 funcionários e opera 1,2 milhões de metros
quadrados de centros de distribuição e processa 130.000 pacotes por dia

Exame
30/09/2020



A pandemia e a consequente alta do comércio eletrônico e a greve dos Correios (https://exame.com/noticias-sobre/correios/) abriram uma brecha enorme para empresas de transporte e logística ganharem mercado. Um exemplo é a DHL Supply Chain, empresa alemã que processa mais de 130.000 pacotes por dia no Brasil.

A DHL está no país desde 1978 e faz parte do Grupo DPDHL, grupo alemão com faturamento de 56,6 bilhões de euros que também controla os correios na Alemanha, a Deutsche Post. Em 2016, a DHL Supply Chain teve faturamento de 13,9 bilhões de euros e estava presente em mais de 55 países, com 1.400 centros de distribuição e escritórios ocupando uma área de 11,7 milhões de metros quadrados. 

Por aqui, a companhia conta com 13.000 funcionários e opera 1,2 milhões de metros quadrados de centros de distribuição e de transbordo, ou crossdocking. A frota tem cerca de 500 caminhões. Especicamente para o comércio eletrônico são 193 mil metros quadrados.

Com o fechamento das lojas físicas, shopping centers, restaurantes e até concessionárias no início da pandemia, a demanda logística desses negócios despencou. Como muitas outras companhias no mundo todo, a empresa de transporte e logística se voltou para as vendas no comércio eletrônico. "Tivemos uma queda importante de volume nos primeiros meses. Decidimos impulsionar a modalidade expressa, para trajetos de até 1.000 quilômetros", diz Maurício Barros, presidente da DHL no Brasil.


 

Direção Nacional da ADCAP.

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