quinta-feira, 30 de março de 2017

Correios farão ampla reestruturação, com corte de funcionários

O GLOBO
29/3/17


Os Correios passarão este ano por um amplo processo de reestruturação para voltar ao lucro. As mudanças são consideradas necessárias no governo para evitar que os serviços sejam concedidos à iniciativa privada. O ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, afirmou ontem que os Correios poderão ser privatizados, se não ocorrer um processo que rapidamente traga de volta o equilíbrio financeiro à empresa. No ano passado, o prejuízo da estatal se aproximou dos R$ 2 bilhões (o balanço oficial ainda não foi publicado), pouco menor que o registrado em 2015. — Ou rapidamente os Correios cortam gastos além dos que já estão sendo cortados ou vamos caminhar para a privatização — disse Kassab. Indagado sobre os motivos que levaram os Correios a essa situação, Kassab afirmou que foi uma combinação de fatores e destacou que a União não pretende sustentar os prejuízos da estatal.

— Má gestão é corrupção, loteamento, não ter capacidade de recursos adicionais, não fazer os cortes necessários para manter o equilíbrio. (…) A empresa está correndo contra o relógio, porque o governo não tem recursos — afirmou Kassab a jornalistas.

‘Uu entra no azul este ano ou fecha’ Em entrevista ao GLOBO, o presidente da estatal, Guilherme Campos, disse que os Correios vão passar por uma profunda transformação nos próximos meses. As reformas vão incluir desde a periodicidade com que os carteiros passam pelas ruas do país — que vai diminuir —, até novidades em gestão. A reestruturação deve incluir corte de benefícios e de pessoal, considerando o quadro de 111 mil servidores da empresa, com o objetivo de voltar ao lucro.

— Ou entra no azul este ano ou fecha. O Brasil suporta uma empresa estatal por mais de três anos consecutivos no vermelho, com prejuízos bilionários? — ressaltou Campos. A mudança mais sensível para a sociedade em geral na atuação dos Correios será a chamada Distribuição Diária Alternada (DDA). Os carteiros não passarão mais todos os dias nas localidades. Os profissionais seguirão um calendário com algumas passagens por semana, em linha com a redução do número de correspondências enviadas onde existe monopólio dos Correios. — As pessoas não precisam mais da frequência diária dos carteiros. Com uma queda expressiva da atividade postal, você (não pode) querer manter o mesmo nível de serviço do passado — explicou Campos.

Segundo o presidente da estatal, o calendário vai ser distribuído a cada localidade para haver previsibilidade sobre as entregas, que também deverão ocorrer mais cedo. Bancos e prestadores de serviços, que encaminham faturas com maior frequência, terão de ser procurados para debater um novo cenário com maior previsibilidade, diz o executivo:

— A DDA vai permitir incluir áreas que não são cobertas atualmente, como novos bairros.

O aperto de cintos inclui suspensão de férias de funcionários até abril de 2018 e suspensão de horas extras para cortar despesas. Além disso, para estancar o que responde por cerca de dois terços do prejuízo anual, os Correios vão enxugar o plano de saúde, que hoje inclui cobertura para famílias e pais dos servidores. Os Correios pagam 93% do custo per capita do plano. Mas, diante de um conflito com o sindicato, a discussão pode acabar na Justiça. — Não quero acabar com o plano de saúde, nem o ministro Gilberto Kassab, mas, se não houver acordo entre nós, vai vir (da Justiça e do governo) uma decisão dura nesse sentido, por causa da lei do teto de gastos. Não virá dinheiro do Tesouro para cobrir esse tipo de coisa — afirmou Campos.

‘Rentabilizar a presença nacional’
Depois de um plano de demissão incentivada que vai afastar 5.500 servidores, a estatal discute a adoção de meios juridicamente viáveis para reduzir ainda mais o número de funcionários nos próximos meses, principalmente os mais antigos e de maiores salários. Embora as agências dos Correios estejam em reavaliação para evitar sobreposições, a empresa quer manter a presença em todo o país para prestar mais serviços públicos, como entrega de passaportes e carteiras de trabalho e retirada de CPFs — na linha do que ocorre no PoupaTempo.

— Não quero perder a presença nacional, que é um grande ativo da empresa. Temos de achar uma solução para rentabilizar essa presença nacional, que antes era custeada pela atividade postal, hoje em decadência no Brasil e no mundo — explicou Campos.

Para setores em que existe o monopólio de envio de cartas, Campos diz que deverá ser aplicado este ano um aumento de 6% nas tarifas, para repor aquilo que tinha sido represado no passado. A partir de então, permaneceriam apenas os reajustes para repor inflação. Em 2016, as tarifas já subiram mais de 18%.

Campos apontou, ainda, o resultado dos primeiros dias de vendas de celulares em doze agências. Nos primeiros nove dias, foram 1.173 unidades vendidas, resultado mais de três vezes superior ao que se previa. Só são comercializados chips pré-pagos e de baixo custo nessas agências, inicialmente.

A reestruturação prevê política mais agressiva para o Sedex, a fim de baixar o preço, melhorar a qualidade da entrega e concorrer com empresas de logística. A política de patrocínios foi revista e caiu a 25% do valor anterior, deixando algumas confederações esportivas e incluindo outras, como rúgbi. autorização. 

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