segunda-feira, 5 de março de 2018

A solução não está na privatização


Quem participa de rede social (Facebook, Twitter, Instagram) tem testemunhado o ataque sem precedentes que os Correios vêm sofrendo.

As mensagens criticando os Correios têm tomado corpo, estimuladas pelo fato de que a mídia televisiva tem focado muito este tema nas últimas semanas.

No passado, essas mensagens nas redes sociais partiam quase sempre de pessoas comuns, simples remetentes e destinatários que se decepcionavam com a demora na entrega ou com o raro extravio de suas encomendas e correspondências. Porém, recentemente, em função da queda geral de qualidade havida, abrangendo as encomendas nacionais e internacionais e até as cartas (boletos bancários), surgiram mensagens elaboradas por organizações ligadas a grupos políticos ou a empresas de grande porte, que utilizam nossos serviços, defendendo a privatização dos Correios.

A população, que antes defendia os Correios, passou rotineiramente a conviver com mensagens e notícias sobre as deficiências da empresa, sem que a direção conseguisse apresentar argumentos para explicar a situação e adotar medidas que corrigissem o problema. Pelo contrário, com medidas mal fundamentadas e mal explicadas, as declarações e entrevistas da direção só produziram mais indignação nos clientes e na sociedade. Aumento de preço com queda visível de qualidade é algo que ninguém aceita mesmo.

Assim, uma sucessão de erros cometidos pela direção da Empresa tem amplificado a insatisfação dos clientes e motivado o surgimento desses movimentos pró-privatização. A ADCAP entende que a privatização dos Correios não é a solução para devolver à população um serviço eficiente e acessível de correios. Muito mais simples seria, com uma gestão profissionalizada e competente, recolocar os Correios no rumo dos bons resultados operacionais e comerciais que a organização já ostentou por muitos anos.

Um correio público de qualidade é uma plataforma muito importante para qualquer país. No Brasil então, com sua diversidade regional e com seu tamanho continental, torna-se algo essencial e de valor inestimável para o Governo, para as empresas e para as pessoas, que ali encontram soluções para muitas de suas necessidades de comunicação, de negócios e de logística.

Experiências recentes de privatização de organizações postais, como a do CTT em Portugal, têm demonstrado que a gestão privada nem sempre consegue assegurar o atendimento das necessidades da população, que se vê rapidamente privada de atendimento nas regiões menos assistidas. E isso acaba resultando em movimentos que buscam a reestatização dessas organizações.

A solução de contar com um correio público parece ser, portanto, um caminho adequado para o Brasil, desde que os clientes recebam um serviço à altura de suas necessidades. E os Correios já demonstraram, por muitos anos, que eram capazes de entregar essa qualidade, posicionando os brasileiros entre os mais bem assistidos no mundo em termos de serviços postais, o que foi reconhecido nas inúmeras pesquisas de imagem que situavam os Correios no topo das instituições públicas, ao lado dos bombeiros e logo abaixo da família. E tudo isso de forma lucrativa e sustentável.

O que mudou então?

Não foi o mercado, cujas mudanças se dão de forma gradual, como em qualquer negócio tradicional. Não foram os empregados, que continuam sabendo trabalhar como sempre souberam. Não foi nem mesmo a concorrência, que tem crescido normalmente, mas sem afetar seriamente a predominância dos Correios nos setores onde atua.

O que mudou foi, principalmente, a politização aprofundada que tomou conta da organização. Loteada entre partidos políticos, as direções que se sucederam nos Correios nos últimos anos foram politizando cada vez mais as posições intermediárias de chefia da Empresa, desprofissionalizando a gestão.

Para que os brasileiros voltem a ter um serviço postal de qualidade, bastaria, portanto, que o Governo Federal cumprisse rigorosamente a Lei das Estatais, cuidando ainda para colocar no comando da Empresa pessoas capazes de gerir uma organização de grande porte, como é o caso dos Correios. E que tenham como primeiro objetivo restabelecer o mérito como processo de encarreiramento, de seleção de lideranças.

Os Correios são uma organização totalmente baseada em pessoas, que tem alguns caminhões, galpões e computadores. Quem não compreende isso jamais conseguirá dirigir uma organização postal, em qualquer lugar do mundo.

A solução para os Correios não é, portanto, a privatização, alternativa cogitada por alguns como condição para que deixe de ser comandada por políticos. A solução para os Correios passa tão somente pela profissionalização de sua gestão, do topo até a base – uma medida simples, legalmente embasada e sempre à mão de bons governantes.

 

Direção Nacional da ADCAP.

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