terça-feira, 3 de abril de 2018


A quem a privatização beneficia?

GAZETA DO POVO
2/4/18

Nossa Constituição determina que o Estado preste serviços diretamente, podendo a iniciativa privada atuar apenas de forma complementar e suplementar Filinto Eisenbach Neto*

O serviço de correio já era conhecido muito antes da era cristã. Por uma razão muito simples: o homem sempre teve necessidade de comunicação, integração e aproximação. Ao olhar pelo retrovisor da história, pode-se observar que a comunicação cresce em importância e determina o desenvolvimento por proporcionar interação e integração social.

Ao longo de sua trajetória de 355 anos, de departamento público a empresa pública, de desafios e sucessos, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos chega ao terceiro milênio como referência mundial.

A grande questão é: privatizar ou não privatizar?

Com a chegada do governo Temer, discute-se com ênfase a questão das privatizações e da gestão do Estado brasileiro. Iniciado no governo Collor, e acelerado com FHC, passando por Lula e Dilma, o processo teve continuidade por meio das concessões temporais.

A privatização dos Correios seria um golpe na soberania nacional, tanto que poucos países permitem isso Segundo os defensores das privatizações, os neoliberais, essa prática é necessária para que o Estado consiga sanar suas contas e otimizar sua atuação. Os que são contrários as veem com desconforto, dado o histórico das privatizações dos anos 90, que não redundaram em resultados efetivos para a administração pública. As privatizações feitas entre 1994 e 1998 renderam R$ 78 bilhões, enquanto a dívida brasileira cresceu de US$ 60 bilhões para US$ 245 bilhões.

O principal argumento contra a privatização da ECT é que o Estado não pode abdicar de setores estratégicos da economia de interesse público, sob risco de privar a população – principalmente a desfavorecida – de serviços com qualidade imparcial. Nossa Constituição, social e democrática de Direito, determina que o Estado preste serviços diretamente, podendo a iniciativa privada atuar apenas de forma complementar e suplementar, conforme já contemplado na rede logística da ECT. Nessa direção, destaca-se que, além da entrega de cartas e encomendas, os Correios realizam grandes operações logísticas como a distribuição de livros didáticos e provas do Enem, assim como auxilia em programas de vacinação nacional e apoia atividades de internacionalização de micro e pequenas empresas.

É preciso privatizar: Minha encomenda sumiu! (artigo de Ubiratan Iorio, economista e professor da Uerj) O site dos Correios, em sua seção “Quem somos”, destaca que “a empresa realiza função de integração e de inclusão social, papel indispensável para o desenvolvimento nacional”. Margareth Pereira, autora de Os Correios e Telégrafos no Brasil, cita o ex-presidente dos Correios Egydio Bianchi: “o nosso desafio é encontrar o ponto de equilíbrio entre a visão de mercado e o atendimento às necessidades sociais”.

A estrutura e capilaridade dos Correios, proporcionando a integração e a comunicação de que dispõe o Brasil de hoje, ressaltam a capacidade logística da empresa, valores que despertam interesse do grande capital. Mas a ECT deverá continuar sua trajetória histórica de sucesso sob a administração pública. Que os nossos “representantes” não a entreguem, como fizeram com tantas e importantes empresas brasileiras de setores estratégicos. A privatização dos Correios seria um golpe na soberania nacional, tanto que poucos países permitem isso – dos 192 correios do mundo, só oito estão 100% privatizados.

Os serviços prestados pelos Correios são imprescindíveis para a população e para o desenvolvimento e integração contínua do Brasil. É essa empresa que querem privatizar. A quem isso beneficiará?

*Filinto Eisenbach Neto, mestre em Estratégia Empresarial e especialista em Logística Empresarial, é professor da PUCPR.

Nenhum comentário:

Postar um comentário