terça-feira, 26 de setembro de 2017

Delação de Lúcio Funaro aponta relação entre Cabral e Sadala 

VALOR ECONÔMICO
24/9/17

A delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, o operador financeiro do ex-deputado Eduardo Cunha, forneceu aos investigadores da Operação Lava-Jato a pista que faltava para entender a relevância do empresário mineiro Georges Sadala Rihan, o "Gê", no esquema comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral. De acordo com o delator, Gê foi um dos favorecidos com o rombo milionário na Prece, o fundo de pensão dos funcionários da Cedae, na gestão de Cabral (2007-2014).

Até então, o sinal mais concreto da influência de Sadala no esquema Cabral era a foto em que ele aparece de guardanapo na cabeça, ao lado de outros parceiros do ex-governador, no episódio em Paris que ficou conhecido como "dança dos guardanapos". Gê, além de amigo do ex-governador, aparece em pelo menos dois negócios com o governo Cabral: o serviço "Poupatempo", explorado pela GelPar, da qual era um dos sócios, e o sistema de crédito consignado aos funcionários públicos, na condição de representante do banco BMG.

No termo de depoimento de número 8 do Apenso 23 da delação, Funaro cita o nome de Sadala como um dos operadores que entraram no esquema de montar operações fraudulentas contra os fundos de previdência complementar (Prece e Postalis, dos funcionários dos Correios) dos quais participavam, de acordo com sua colaboração, o ex-deputado Eduardo Cunha e os ex-governadores Rosinha e Anthony Garotinho na divisão de propinas. Frequentador da pizza da casa de Cabral no condomínio Portobello, em Mangaratiba, onde também tinha casa, Sadala usou de sua amizade com o ex-governador para abocanhar negócios com interlocutores e secretarias do governo estadual.

Obtidas com um fotógrafo que cobriu a festa na França, fotos exclusivas da festa dos guardanapos no Champs-Elysées, logo após Cabral receber a Medalha Légion d'Honneur do governo francês, revelam na pista de dança o grau de intimidade entre os dois.

Sadala se somou ao grupo de Cabral a partir da campanha de 2006, também por meio do ex-secretário de governo Wilson Carlos, e era reverenciado pela maneira leal com que se relacionava com o ex- governador. Sadala conheceu Wilson por intermédio do tio, que participava de uma roda de pôquer semanal, com o exsecretário, na Barra da Tijuca. Com os negócios do grupo indo de vento em popa, Sadala foi habitué de viagens feitas por Cabral ao exterior. Gabava-se de ser o único proprietário do grupo a ter uma casa que ocupava dois lotes de terreno de frente para o mar na Praia de São Braz, no Condomínio Portobello.

A amizade entre Sadala e Cabral também aproximou suas mulheres, a advogada paranaense Ana Paula Campos, e a então primeira-dama Adriana Ancelmo, respectivamente. Elas aparecem sorridentes no dia da festança em Paris -- oferecida por um empresário português que tinha interesses no mercado de saneamento do Rio --, mostrando a sola dos sapatos Christian Louboutin, após a animada noite puxada pelo "trenzinho" liderado pelo empresário na companhia dos ex-secretários Sérgio Côrtes e Wilson Carlos.

Na campanha de 2006, Sadala proporcionou a Cabral um serviço de correios privado para entrega de material publicitário que ajudou a consolidar a imagem de "político austero" do então candidato ao Palácio das Laranjeiras. A relação de amizade com políticos se estende ainda ao senador Aécio Neves (PSDB-MG), padrinho de casamento de Sadala com Ana Paula Campos -- em dezembro de 2007, na Igreja da Candelária -, com sua ex- mulher Adriana Falcão.

Além da concessão do Poupa Tempo do Rio, o empresário também obteve a de Minas, e ainda comandou a Lavoro, empresa que comprava dívidas que as empreiteiras tinham a receber do governo. Foi com a Lavoro que, de acordo com Funaro, Sadala operou investimentos que resultaram em prejuízo para Prece. Procurado, Sadala não foi localizado.

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