quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Dia do Carteiro: Funcionário que atua há 31 anos nos Correios fala dos desafios: 'Profissão que tem respeito da população'

G1
25/01/2018 

Em 31 anos de profissão, o carteiro de Araraquara (SP) Marco Aurélio Petroni, de 50 anos, acompanhou a evolução dos meios de comunicação e dos hábitos de consumo por meio das suas entregas diárias. Ao longo dos anos, viu as cartas serem substituídas por pacotes e as correspondências entregues cada vez mais rápido.

“O mundo passou por uma grande transformação, hoje as engrenagens são muito rápidas”, afirmou o carteiro que trabalhou por 15 anos entregando correspondência de casa em casa e hoje atua na entrega de encomendas.

Só uma coisa não mudou: o carteiro, que tem seu dia comemorado nesta quinta-feira (25). “É uma profissão boa, tem o respeito da população”, definiu Petroni.

Das cartas para as encomendas

Quando Petroni entrou para os Correios, aos 19 anos, a internet e celular não existiam e o telefone era algo raro e caro. A forma mais comum de dar notícias e falar com entes queridos era por carta.

A comunicação era feita com muito mais cuidado e era preciso paciência para receber as respostas, que eram aguardadas com ansiedade.

Mas com a popularização da internet e a disponibilização primeiramente dos e-mails e atualmente dos aplicativos de mensagens, Petroni viu o número de cartas que passam pelos Correios diminuir.

Por outro lado, o comércio eletrônico se fortaleceu, as pessoas passaram a comprar pela internet e receber os produtos em casa.

Nesse processo, os carteiros pedestres foram ficando menos necessários e os carros de entrega passaram a circular pelas cidades. Petroni deixou de caminhar quilômetros por dia e começou a dirigir por toda Araraquara.

O carteiro acredita que essa transformação também se refletiu nas pessoas. “Antigamente era mais ‘nós’, hoje as pessoas querem tudo rapidamente, falam rapidamente, estão mais centradas em si. Hoje mexo com encomendas para uso imediato. As pessoas compram e já esperam para o dia seguinte. A engrenagem é mais rápida”, analisou.Um dos carteiros mais antigos de Araraquara, Petroni é um profissional exemplar. Casado, pai de uma filha, passou quase dois terços da sua vida no único trabalho. “Fiz a minha vida dentro dos Correios”, disse.

Por causa da profissão, conhece a cidade toda e normalmente é cumprimentado por quem o reconhece, mesmo sem uniforme.

Ele acredita que isso acontece por causa do profundo respeito com que leva a profissão e os seus clientes.

“É uma satisfação ver a pessoa receber sua encomenda, é a sensação de dever cumprido. A gente age com respeito, eles veem o cuidado que a gente trata a encomenda deles e retribuem o carinho. Depois que recebem a encomenda muitos me dizem ‘Vá com Deus', 'Deus te proteja’. Isso para mim é gratificante, é o melhor agradecimento”, disse.

Papai Noel

Uma das maiores entregas de Petroni nos Correios não foi como carteiro. Ele é o Papai Noel oficial da unidade Centro de Entrega de Encomendas (CEE). Logo nos primeiros anos da ação em Araraquara ele foi entregar um brinquedo a uma criança do Jardim Maria Luiza.

“O Papai Noel chegou e assim que desceu da viatura com o presente na mão perguntamos quem era a criança. Bateu um desespero muito grande nessa criança de uns 5, 6 anos, ela estava só de short, estava um calor muito grande, ela começou a correr em volta da gente, não tinha palavras, não conseguia falar, entrou em estado de choque. Ficou marcado, a gente teve que pegar no colo, acalmar ela. Todo mundo ficou impressionado, foi uma emoção muito grande”, lembrou-se.Petroni foi um dos seis carteiros de Araraquara a receber o prêmio “Adão Couto” (homenagem a um famoso carteiro de Araraquara). A Lei Municipal de 2011, instituiu o prêmio que homenageia o profissional que se destacou no ano anterior. A premiação é feita na Câmara Municipal no Dia do Carteiro.

“Eu fiquei muito feliz. Foi um reconhecimento do meu trabalho. Eu gosto muito do que faço aqui. Eu quero continuar até quando conseguir, até quando Deus me der saúde”, afirmou.

Perguntado pelo G1 se algum dia destes 31 anos ele pensou em deixar de ser carteiro, Petroni riu.

“Quando eu entrei nos Correios, fui à psicóloga em Ribeirão Preto e falei para ela: ‘Ah doutora, estou entrando, mas se por acaso aparecer alguma coisa melhor a gente sai’. Isso foi há 31 anos. Às vezes eu lembro e dou risada. Nesses 31 anos nunca pensei em sair”, afirmou.

Dia do carteiroA História da humanidade está marcada fatos envolvendo mensageiros, mas a profissão de carteiro é bem mais recente. No Brasil, ela foi regularizada em só apareceu em 1835, quando teve início a entrega de correspondência nos domicílios. Até essa data as pessoas usavam mensageiros, bandeirantes ou escravos para levarem as suas mensagens de um lugar para outro.

A data de 25 de janeiro foi escolhida em homenagem à criação do Correio-Mor da Monarquia Portuguesa no Brasil, em 25 de janeiro de 1663.

Luiz Gomes da Matta Neto foi o nome do primeiro "carteiro" do Brasil. Ele já atuava como Correio-Mor em Portugal, passando depois a ser o responsável no Brasil pela troca de correspondências da Corte portuguesa.


Atualmente, existem mais de 56 mil carteiros trabalhando nos Correios, que distribuem mais de 8,3 bilhões de encomendas por ano.

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