quinta-feira, 13 de julho de 2017

Déficit acumulado dos fundos de pensão recua no primeiro trimestre 

VALOR ECONÔMICO
12/7/17 


O caminho da recuperação é lento para os fundos de pensão. O déficit acumulado das entidades fechadas de previdência complementar caiu de R$ 70,6 bilhões em dezembro de 2016, para R$ 69,1 bilhões no final de março, segundo dados da Superintendência Nacional de Previdência Complementar. A recuperação da economia e o movimento de alta na bolsa no período ajudaram nesse movimento, mas o trajeto ainda é longo, especialmente para as grandes fundações.

Em 2016, Previ e Petros obtiveram os melhores resultados dos últimos anos. Com uma carteira mais sólida de ativos e uma qualidade de gestão superior, a primeira bateu a meta atuarial com um superávit de R$ 2,5 bilhões, o que reduziu o déficit acumulado para R$ 13,9 bilhões. A Petros, por sua vez, também obteve um resultado superior à meta atuarial, mas viu o déficit aumentar para R$ 26,78 bilhões, em função da evolução do passivo atuarial, que representa a soma de todos os compromissos presentes e futuros do plano trazidos a valor presente.

O consultor de previdência e presidente do Fundo Paraná de Previdência Multipatrocinada, Renato Follador, observa que o déficit dos fundos de pensão não se traduz em uma quebra de caixa imediata. “O déficit é a diferença entre os ativos que o plano tem e os que deveria ter para cobrir todos os seus compromissos no longo prazo”, diz.

Follador explica que os cálculos atuariais se baseiam em diversas variáveis econômicas, como inflação futura, taxas de juros e crescimento real de salários; e demográficas, como mortalidade e sobrevida, para determinar o valor que os planos terão de acumular no longo prazo para saldar todos os compromissos. Esses números são, então, trazidos a valor presente, descontando a taxa de juros do plano, que é a média de rentabilidade real projetada. Por fim, se os ativos atuais não cobrem essa quantia, o plano está em déficit.

“O déficit do setor de previdência fechada complementar se deve, em sua maior parte, aos números dos grandes fundos de pensão estatais”, ressalta Follador. Para equacionar os déficits, os planos de previdência têm duas alternativas, que podem ser adotadas em conjunto: reduzir benefícios ou aplicar alíquotas adicionais, divididas proporcionalmente entre participantes e patrocinadores.

Por enquanto, a opção tem sido pelas alíquotas adicionais. Das grandes fundações, a única entidade que não precisou adotar um plano de equacionamento para o déficit foi a Previ. No Postalis, fundo de pensão dos Correios, em situação crítica, o salário dos funcionários vem sofrendo um desconto adicional de 2,73%, previsto para durar 23 anos, como parte do plano de equacionamento do déficit de 2015.

Follador acredita que os grandes fundos podem cobrir seus déficits e chegar ao equilíbrio nos próximos anos, à medida que a economia brasileira volte aos trilhos. “O mercado funciona, apesar de passarmos pelo pior momento de instabilidade política em décadas”, avalia. “Há liquidez no mercado global e muitos projetos a realizar no Brasil. Por isso, quando a situação se normalizar o país deve entrar em um novo ciclo de crescimento econômico sustentável.”

Para o professor da FGV Istvan Kasznar, ainda é preciso esperar mais para ver se a melhora no resultado dos fundos de pensão é para valer, ou se refletiu um momento de otimismo do mercado depois da saída da presidente Dilma Rousseff. “Passamos por uma depressão na economia, com 14 milhões de desempregados no país”, afirma. “E os fundos de pensão terão de recuperar reservas nesse cenário, com juros em queda e empresas com receitas em baixa.”

Segundo Kasznar, as melhores apostas de investimento para os fundos de previdência fechada neste momento são as empresas exportadoras, que não sofrem o efeito da turbulência do mercado doméstico, e os bancos e empresas de meios de pagamento eletrônico. O mercado imobiliário, uma categoria de ativos importante para as entidades de previdência continua a patinar. “Em São Paulo, a desocupação dos escritórios comerciais é de 23% e no Rio, de 42%”, aponta o professor. “Em Recife, 51% dos imóveis novos estão vazios.”

Kasznar observa que boa parte dos problemas dos fundos de pensão das estatais vem das representações eleitas pelos sindicatos e de indicações feitas pelas empresas com critérios políticos e não técnicos. “É preciso investir nisso. Hoje, não há certificação específica para gestores de recursos em fundos de pensão”, diz.

O professor também cobra mais empenho dos participantes desses fundos na fiscalização de suas atividades. “As assembleias de cotistas são muito esvaziadas, os associados não vão lá cobrar, exigir uma boa gestão dos recursos”, lamenta.

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