Recentemente, a BBC News publicou uma reportagem sobre o porquê de a privatização dos Correios nos Estados Unidos (USPS) nunca ter avançado. Por lá, são mais de 34 mil agências espalhadas pelo país, conectadas por uma rede com 231 mil veículos e 495,9 mil funcionários, praticamente cinco vezes maior que os Correios brasileiros, que atualmente contam com 95 mil colaboradores.
A matéria esclarece que o USPS não é bem uma estatal, mas sim uma agência federal ligada ao Executivo norte-americano e sua data de criação se confunde à do próprio país. Diz, também, que, em teoria, os Correios norte-americanos não são financiados pelo contribuinte, mas pela receita das entregas de cartas e encomendas. Não tem sido tarefa fácil, porém, fazer com o que o USPS gere lucro. A última vez que isso ocorreu foi em 2006. Desde então, os prejuízos acumulados chegaram a quase US$ 90 bilhões (R$ 460 bilhões) em 2020, boa parte disso decorrente da mesma mudança de prática contábil que contribuiu para a inflexão dos resultados dos Correios aqui no Brasil – o pré-pagamento das futuras despesas relacionadas a aposentados (pós-emprego), em geral relacionadas a previdência e saúde.
Mesmo com os elevados prejuízos registrados, há décadas o USPS resiste a tentativas de privatização. A última investida foi em 2018, na gestão de Donald Trump, e encontrou forte oposição não apenas de políticos democratas, mas também de correligionários republicanos do então presidente. Por quê?
Lá como aqui, milhares de pequenos negócios no interior do país contam com a infraestrutura das agências para distribuir seus produtos com preços tabelados. Muitos cidadãos temem, com razão, que uma eventual privatização leve a um aumento generalizado de tarifas e preços, especialmente em áreas mais remotas, que são menos rentáveis. E essa preocupação está espelhada na posição dos parlamentares norte-americanos.
No Brasil, os Correios já conseguiram superar o forte impacto trazido pela mudança de prática contábil e inverteram há quatro anos os resultados da Empresa, que passaram para o campo positivo. Em 2020, o lucro da empresa superou R$ 1,5 bilhão, apesar de a tarifa da carta brasileira estar entre as menores do mundo. E aqui o serviço postal não tem dependido de recursos da União para custear a universalização do atendimento.
Será importante que os parlamentares brasileiros tenham essas informações em mente quando forem apreciar o PL-591/2021, apresentado pelo governo federal, pois, se a privatização do serviço postal não faz sentido para os americanos, menos sentido ainda deve fazer para os brasileiros, que contam com uma empresa pública que já venceu diversos dos obstáculos que ainda constituem grandes desafios para o USPS.
O artigo da BBC pode ser lido AQUI.
Direção Nacional da ADCAP.
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