segunda-feira, 3 de maio de 2021

Desmontando Fake News nº 28 - Estadão - informações incorretas sobre os Correios

 


Em matéria de O Estado de São Paulo de 30/04, intitulada “O sucateamento dos Correios e privatização”, o economista Celso Ming traz informações e declarações equivocadas, sobre as quais comentaremos nesta edição do Desmontando Fake News.

Primeiramente, é de se lamentar o uso inadequado de mensagem sensacionalista e desprovida de verdade no próprio título da matéria. Como falar em sucateamento de uma empresa que acabou de renovar boa parte de sua frota de veículos com 7.000 novas unidades, enquanto outros concorrentes utilizam veículos bem mais antigos, no processo de uberização de entregas que tentam implantar para economizar em custos?

A matéria segue repetindo informações equivocadas sobre cartas. Há pelo menos 20 anos que as cartas que circulam no mundo são essencialmente comerciais. E são muitas ainda, apesar da curva de decrescimento ser real. Assim, não é o fato de as pessoas escreverem poucas cartas pessoais que significa que o serviço acabou. Há bilhões de correspondências comerciais que precisam chegar aos cidadãos e empresas todo ano. Esse número vai continuar decrescendo, em função da inevitável substituição tecnológica, mas ainda estará na casa dos bilhões por algum tempo, pois a mudança não se dá de uma hora para outra.

Ao tentar prever que a queda de demanda de cartas significará ociosidade para a força de trabalho dos Correios, o articulista comete outro erro, comum para quem não conhece o setor, pois, em geral, os carteiros distribuem cartas e encomendas e essas últimas, cujo volume tem crescido bastante, demandam tempo bem maior para seu tratamento e entrega. Ou seja, o crescimento acelerado do comércio eletrônico tem pressionado a estrutura de pessoal dos Correios por ampliação e não o contrário, apesar do decréscimo no volume de cartas.

Outra falácia trazida na matéria é que na área de logística as deficiências são enormes e de que a Empresa tem perdido grandes clientes, como Amazon, DHL e FedEx. Dessas três, duas são concorrentes e não propriamente clientes, pois atuam com entregas especificamente, e continuam usando os Correios complementarmente a suas redes, o que é absolutamente normal. A única que pode ser classificada como cliente de fato é a Amazon, que, como todos os grandes marketplaces brasileiros, usa os Correios, usa outras transportadoras e vai, com o tempo, montando também sua rede própria de entregas. Isso faz parte do desenvolvimento do setor e nada tem a ver com o desempenho ou a qualidade do serviço do correio. E acontece no mundo todo e não só no Brasil, ou seja, os marketplaces vão procurando se conformar como grandes empresas de logística verticalizadas, com centros de tratamento e entrega própria onde isso é viável. É só observar quantos centros de tratamento a Amazon tem esparramados pelo mundo e a frota de veículos que utiliza para entrega própria que se percebe o que está ocorrendo. Os Correios não pararam no tempo; o setor é que está evoluindo para um modelo diferente, no qual os marketplaces são mais que shoppings virtuais.

Ao falar de grandes atrasos do Sedex, o articulista não apresenta números, pois não os tem ou lida com informações propositalmente enviesadas do governo para justificar sua intenção de privatização. O nível de qualidade dos serviços postais no Brasil está equiparado ao praticado em muitos países mais avançados e de território muito menor e com menos assimetrias sociais que o brasileiro. Quem opera com o comércio eletrônico sabe, na prática, que os serviços dos Correios são consistentes e que há nessa questão apenas uma nuvem negra que começa a se desenhar com a falta localizada de pessoal provocada intencionalmente pela direção militar dos Correios, ao realizar PDIs e não repor o pessoal que se aposenta. Aqui o perigo de eventual sucateamento está mesmo presente, mas decorre única e exclusivamente de decisão equivocada da atual direção da Empresa de não assegurar o provimento do pessoal necessário para a operação. Nos Correios há dois insumos que não podem faltar: pessoal e transportes. E todos lá sabem bem disso.

A matéria segue mencionando o declínio do fluxo de correspondências, algo que tem impacto muito mais significativo nos países em que os correios locais dependem fortemente dessas receitas. No caso brasileiro, porém, temos uma situação importante não mencionada, que joga a favor dos Correios – a empresa tem uma participação majoritária dos serviços de encomendas em suas receitas, enquanto em outros países isso é bem diferente. Assim, o impacto da substituição tecnológica tem sido bem menor e mais facilmente absorvido no Brasil.

Por fim, o articulista segue a trilha do governo de tentar “urgenciar” as mexidas nos Correios, sob pretexto de que, se isso não acontecer rapidamente, os Correios afundarão. Outra falácia criada pelo Ministério da Economia para justificar suas más intenções com os Correios. Os resultados da Empresa estão em franco crescimento, as postagens de encomendas aceleradas e a própria Empresa, ao projetar sues números para os próximos 10 anos, não vislumbrou qualquer risco de continuidade operacional.

Reconhecemos, finalmente, a dificuldade da imprensa em lidar com o tema Correios, em função de as informações oficiais do governo estarem todas preparadas para demonstrar a necessidade de privatização, omitindo tudo o que aponta em sentido contrário, e a própria empresa, engessada e emudecida pela atual gestão militar, não rebater as informações falsas ou equivocadas que são lançadas a todo momento e nem defender a própria organização.

A ADCAP respeita o papel da imprensa e estará sempre à disposição para fornecer informações qualificadas sobre os Correios.    
 

 

Direção Nacional da ADCAP.

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