Em matéria de O
Estado de São Paulo de 30/04, intitulada “O
sucateamento dos Correios e privatização”, o economista Celso Ming traz
informações e declarações equivocadas, sobre as quais comentaremos nesta edição
do Desmontando Fake News.
Primeiramente,
é de se lamentar o uso inadequado de mensagem sensacionalista e desprovida de
verdade no próprio título da matéria. Como falar em sucateamento de uma empresa
que acabou de renovar boa parte de sua frota de veículos com 7.000 novas
unidades, enquanto outros concorrentes utilizam veículos bem mais antigos, no
processo de uberização de entregas que tentam implantar para economizar em
custos?
A
matéria segue repetindo informações equivocadas sobre cartas. Há pelo menos 20
anos que as cartas que circulam no mundo são essencialmente comerciais. E são
muitas ainda, apesar da curva de decrescimento ser real. Assim, não é o fato de
as pessoas escreverem poucas cartas pessoais que significa que o serviço
acabou. Há bilhões de correspondências comerciais que precisam chegar aos
cidadãos e empresas todo ano. Esse número vai continuar decrescendo, em função
da inevitável substituição tecnológica, mas ainda estará na casa dos bilhões
por algum tempo, pois a mudança não se dá de uma hora para outra.
Ao
tentar prever que a queda de demanda de cartas significará ociosidade para a
força de trabalho dos Correios, o articulista comete outro erro, comum para
quem não conhece o setor, pois, em geral, os carteiros distribuem cartas e
encomendas e essas últimas, cujo volume tem crescido bastante, demandam tempo
bem maior para seu tratamento e entrega. Ou seja, o crescimento acelerado do
comércio eletrônico tem pressionado a estrutura de pessoal dos Correios por
ampliação e não o contrário, apesar do decréscimo no volume de cartas.
Outra
falácia trazida na matéria é que na área de logística as deficiências são
enormes e de que a Empresa tem perdido grandes clientes, como Amazon, DHL e
FedEx. Dessas três, duas são concorrentes e não propriamente clientes, pois
atuam com entregas especificamente, e continuam usando os Correios
complementarmente a suas redes, o que é absolutamente normal. A única que pode
ser classificada como cliente de fato é a Amazon, que, como todos os grandes
marketplaces brasileiros, usa os Correios, usa outras transportadoras e vai,
com o tempo, montando também sua rede própria de entregas. Isso faz parte do
desenvolvimento do setor e nada tem a ver com o desempenho ou a qualidade do
serviço do correio. E acontece no mundo todo e não só no Brasil, ou seja, os
marketplaces vão procurando se conformar como grandes empresas de logística
verticalizadas, com centros de tratamento e entrega própria onde isso é viável.
É só observar quantos centros de tratamento a Amazon tem esparramados pelo
mundo e a frota de veículos que utiliza para entrega própria que se percebe o
que está ocorrendo. Os Correios não pararam no tempo; o setor é que está
evoluindo para um modelo diferente, no qual os marketplaces são mais que
shoppings virtuais.
Ao
falar de grandes atrasos do Sedex, o articulista não apresenta números, pois
não os tem ou lida com informações propositalmente enviesadas do governo para
justificar sua intenção de privatização. O nível de qualidade dos serviços
postais no Brasil está equiparado ao praticado em muitos países mais avançados
e de território muito menor e com menos assimetrias sociais que o brasileiro.
Quem opera com o comércio eletrônico sabe, na prática, que os serviços dos
Correios são consistentes e que há nessa questão apenas uma nuvem negra que
começa a se desenhar com a falta localizada de pessoal provocada
intencionalmente pela direção militar dos Correios, ao realizar PDIs e não
repor o pessoal que se aposenta. Aqui o perigo de eventual sucateamento está
mesmo presente, mas decorre única e exclusivamente de decisão equivocada da
atual direção da Empresa de não assegurar o provimento do pessoal necessário
para a operação. Nos Correios há dois insumos que não podem faltar: pessoal e
transportes. E todos lá sabem bem disso.
A
matéria segue mencionando o declínio do fluxo de correspondências, algo que tem
impacto muito mais significativo nos países em que os correios locais dependem
fortemente dessas receitas. No caso brasileiro, porém, temos uma situação
importante não mencionada, que joga a favor dos Correios – a empresa tem uma
participação majoritária dos serviços de encomendas em suas receitas, enquanto
em outros países isso é bem diferente. Assim, o impacto da substituição
tecnológica tem sido bem menor e mais facilmente absorvido no Brasil.
Por
fim, o articulista segue a trilha do governo de tentar “urgenciar” as mexidas
nos Correios, sob pretexto de que, se isso não acontecer rapidamente, os
Correios afundarão. Outra falácia criada pelo Ministério da Economia para
justificar suas más intenções com os Correios. Os resultados da Empresa estão
em franco crescimento, as postagens de encomendas aceleradas e a própria
Empresa, ao projetar sues números para os próximos 10 anos, não vislumbrou
qualquer risco de continuidade operacional.
Reconhecemos,
finalmente, a dificuldade da imprensa em lidar com o tema Correios, em função
de as informações oficiais do governo estarem todas preparadas para demonstrar
a necessidade de privatização, omitindo tudo o que aponta em sentido contrário,
e a própria empresa, engessada e emudecida pela atual gestão militar, não
rebater as informações falsas ou equivocadas que são lançadas a todo momento e
nem defender a própria organização.
A
ADCAP respeita o papel da imprensa e estará sempre à disposição para fornecer
informações qualificadas sobre os Correios.
Direção Nacional da ADCAP.
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