Em notícias que circularam recentemente, foi mencionado que a União pretende arrecadar entre 10 a 15 bilhões de reais com a venda dos Correios. Nesta matéria demonstraremos que o valor dos Correios para o brasileiro está muito distante disso.
Para início, reflitamos sobre o valor que tem para um país como o Brasil, com dimensões continentais, grandes assimetrias e imensos desafios logísticos uma instituição que consegue integrar toda a nação, levando aos cidadãos a possibilidade de comunicação e de participação no comércio eletrônico, independentemente de onde estejam.
Avancemos mais um pouco: essa instituição, apesar do valioso trabalho de integração nacional que desenvolve, não custa nada para o Estado, pois produz suas próprias receitas e arca com todos os seus custos, incluindo aí a manutenção de sua presença e de seus serviços em todo o país.
Quantos países do mundo sonham em ter por lá essa situação, mas não conseguem e precisam alocar recursos públicos para manter seus correios. Mesmo assim, os mantêm públicos, pois a essência do serviço postal é essa e não a simples exploração de atividade econômica. Não precisamos ir longe para demonstrar isso: nos EUA, o berço do liberalismo, o serviço postal precisa recorrer anualmente ao Estado para receber alguns bilhões de dólares para fechar suas contas e, mesmo assim, não se cogita em vende-lo, por isso não fazer sentido. Lá como aqui, o mercado de encomendas é aberto à participação privada e o correio tem no contexto o papel essencial de assegurar a universalização do serviço, ou seja, de chegar a todos os cidadãos, independentemente de onde estejam.
Trata-se, portanto, de uma infraestrutura nacional de prestação de serviço público, que tem um imenso valor para os cidadãos e para as empresas, o qual vai muito além dos ativos tradicionalmente considerados em processos de valuation, como imóveis, veículos e outros bens.
No caso do Brasil e dos EUA também, o serviço postal goza da confiança da população. Por aqui, apenas as instituições família e bombeiros superam os Correios no ranking de confiança. Qual o valor de algo assim?
A verdade é que um país que contasse com um serviço postal como o brasileiro jamais deveria cogitar em simplesmente vender seu correio, assumindo, assim, todos os riscos associados a passar a tratar como exploração de atividade econômica algo que em essência não é isso, mas sim a prestação de serviço público. As potenciais consequências para a sociedade são bem visíveis e virão inexoravelmente se o intento do governo não for barrado: alta substancial de tarifas e piora na qualidade dos serviços, pois é assim que a exploração privada busca rentabilizar rapidamente seus investimentos no setor postal, como demonstra de forma inequívoca os casos de Portugal e da Argentina.
Da mesma forma que seria uma insanidade pensar em avaliar o Google ou o Facebook considerando apenas os computadores e prédios que possuem, os quais são insignificantes diante do real valor dessas companhias, também no caso dos Correios somar o valor dos milhares de prédios e de veículos leva a uma cifra irrisória perto do que vale de fato a Empresa. Falar, portanto, em arrecadar R$ 10 ou R$ 15 bilhões para a União com a venda dos Correios, em um processo rápido de seleção pública com envelope fechado, é zombar da inteligência dos brasileiros.
ADCAP – Associação dos Profissionais dos Correios
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