Mão grande nos fundos de pensão
O Globo
07/11/2017
07/11/2017
A Superintendência de Seguros Privados
decidiu intervir no Fundo de Previdência dos Funcionários dos Correios –
Postalis. Essa notícia, à primeira vista, deveria
trazer alívio aos participantes, pensionistas e aposentados do Fundo e
demonstrar que o estado brasileiro estaria exercendo sua função na plenitude.
Todavia, a expressão popular “antes tarde do
que nunca”, para ser válida neste caso, precisa de explicações que ainda não
foram dadas a uma categoria de trabalhadores que não foram atendidos pela
PREVIC, quando clamaram pela intervenção no POSTALIS, para afastar dirigentes
que se mostravam totalmente relapsos com os recursos dos participantes e
assistidos.
A legislação de previdência privada no Brasil
é uma das mais modernas. Porém não foi capaz de frear uma avalanche de
desmandos e irregularidades encontradas no setor, principalmente nos fundos
privados de previdência complementar, onde a presença do estado se fazia
presente com a indicação política dos diretores.
O Postalis é um dos maiores fundos de pensão
de estatais do país em número de participantes ativos e beneficiários e vem
sofrendo com um déficit de R$ 7,4 bilhões. Rombo decorrente da má gestão dos
recursos, que tem sua raiz no aparelhamento político sob o governo do PT.
O custo disso vem sendo suportado pelos
próprios funcionários dos Correios, que sofrem descontos mensais de 20% sobre o
benefício do aposentado, assim como do trabalhador da ativa, para cobrir os
rombos sucessivos. E essa redução de um quinto do salário será suportada até
2040.
Assim como os participantes e assistidos do
Postalis, funcionários da Caixa e da Petrobras também sofrem cobranças
indevidas para cobrir rombos bilionários na PETROS e na FUNCEF.
O acórdão do Tribunal de Contas da União de
abril deste ano que decretou a indisponibilidade dos bens dos ex-gestores do
Postalis é uma fotografia nítida e acabada da inação ou da complacência dos
órgãos de fiscalização do estado ao longo de muitos anos.
De acordo com dados levantados pelo Tribunal,
as contas do fundo vinham no vermelho desde 2010. Em 2014, foi solicitada a
intervenção nos Postalis pelos próprios funcionários dos Correios. Mas somente
agora, no final de 2017, a PREVIC decretou a intervenção. Talvez tarde demais.
Por que será que a PREVIC não agiu assim que
teve conhecimento dos graves problemas do POSTALIS, ou então, quando foi
acionada pelos trabalhadores dos Correios para intervir no instituto? Isso não
teria evitado maiores danos aos participantes do Fundo?
Na Comissão Parlamentar de Inquérito da
Câmara dos Deputados instalada em 2015 para apurar fraudes nos Fundos, da qual
fui autor do pedido de instalação, verificou-se que os gestores do POSTALIS não
agiram com “zelo e ética”. O resultado das investigações foi encaminhado à Polícia
Federal e a outros órgãos de controle, para que fossem adotadas as providências
atinentes.
O que foi feito entre 2015 e 2017? Por que a
PREVIC não decretou a intervenção em 2015, a partir da conclusão das
investigações?
São perguntas para as quais toda a sociedade
merece resposta, mas não terá a capacidade de amenizar o prejuízo de milhares
de funcionários que terão um aumento no valor de suas contribuições para
garantir uma aposentadoria minimamente digna.
O que devemos sempre exigir das autoridades é
rapidez e eficiência. Evitar o dano é muito mais prudente do que repará-lo. Por
exemplo, por que ainda permitir que os Fundos possam investir até 70% de seu
patrimônio em renda variável (ações)?
Espero que os exemplos do Postalis e dos
demais fundos sirvam de lição para evitar futuros prejuízos aos participantes.
E que a legislação avance no sentido de profissionalizar a gestão dos fundos,
blindando essas instituições da sanha predatória de governo irresponsáveis. Os
participantes e assistidos do POSTALIS, da FUNCEF, da PETROS, da PREVI, do
SERPROS e dos demais fundos merecem esse cuidado e essa atenção, para poderem
usufruir com sossego de suas merecidas aposentadorias.
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