terça-feira, 10 de setembro de 2019


Correios podem custar R$ 21 bi ao Tesouro

Valor
14/08/2019

Fabio Graner

Na defesa da privatização dos Correios, a área econômica do governo calcula que se a empresa mantiver a trajetória atual, o cenário de ela se tornar uma estatal dependente do Tesouro não deve ser desprezado. E, nas contas dos técnicos, isso teria um custo fiscal da ordem de R$ 21 bilhões.

Esse número refere-se ao fato de que, na efetivação dessa hipótese, toda a despesa da empresa passaria a ser considerada no orçamento federal. E a consequência imediata seria encolher o já apertado espaço do teto de gastos na proporção financeira de R$ 21 bilhões.

Para se tornar dependente, explica uma fonte, o governo teria que aportar recursos para pagar despesas com pessoal ou custeio da empresa. Mesmo que isso seja feito em um valor baixo, a implicação seria incluí-las nesse grupo que hoje conta com 18 empresas e que, de acordo com o ministério, gerou aos contribuintes um custo de R$ 160 bilhões nos últimos dez anos.

Não há, contudo, um prognóstico sobre se e quando os Correios efetivamente podem forçar o governo a fazer um aporte e assim se tornarem dependente. A área técnica do governo tem um retrato bem desfavorável da situação da empresa e já convenceu o presidente Jair Bolsonaro a privatizá-la.

A leitura do governo é que a estatal vem, por conta da sua falta de capacidade de investimentos, perdendo espaço para outras companhias no mercado de comércio eletrônico, que, mesmo assim, vem impulsionando suas receitas de encomendas. Os investimentos feitos pela empresa no último ano foram os mais baixos em proporção da receita em comparação com dez concorrentes internacionais.

Além disso, as disponibilidades de caixa dos Correios vêm se reduzindo e fecharam 2018 abaixo de R$ 1 bilhão, sendo R$ 340 milhões em garantias para o Postal Saúde. A queda nesse indicador desde 2012 é de 81,5%.

Os dados levantados pelos técnicos do governo indicam prejuízos líquidos acumulados e, mesmo o desempenho operacional (antes de impostos), tem sido positivo mais por questões contábeis do que por eventual melhoria da companhia.

Internamente, a área econômica fez um histórico de episódios de interferência política e corrupção envolvendo a companhia a partir do primeiro governo do PT. O rombo de R$ 11 bilhões no Postalis, o fundo de pensão dos funcionários da estatal, é tratado como emblemático. São 49 autos de infração, que o coloca como campeão nesse quesito entre seus pares. Em 2017, a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) colocou o Postalis, que é alvo de diversas operações policiais, como Greenfield, sob intervenção.

Até a quantidade de greves envolvendo os Correios na última década já foi mapeada pelos técnicos, que veem uma necessidade de reduzir 30 mil pessoas.

Do ponto de vista do negócio, a visão da área econômica é que há muito a melhorar. A empresa é vista como não recomendada no site "Reclame Aqui" e representaria uma "barreira logística" para boa parte dos pequenos empresários - quase 44% consideram o serviço virtual dos Correios como ruim ou péssimo, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico.

Para o governo, a deteriorada situação dos Correios demandaria uma urgente privatização, sob pena de em algum momento o ativo perder o seu valor e não se tornar atrativo para o setor privado.

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