Governo precisa decidir o futuro dos Correios, com ou sem privatização A melhor alternativa é a venda da ECT, mas não há estudos sobre a operação e falta debater alternativas
O Globo
19/08/2019
19/08/2019
O
presidente e o ministro da Economia têm mencionado a intenção de privatizar os
Correios, serviço público com 356 anos de existência e uma estrutura composta
por 105 mil pessoas, e 12 mil agências que atendem a 5,5 mil municípios. Já foi
modelo em eficiência e credibilidade. Hoje é mais uma estatal em degradação.
Os
Correios representam uma síntese de um longo ciclo de desgoverno nas empresas
públicas. Encerrou 2018 com receita de R$ 18,5 bilhões, dos quais dois terços
consumidos na despesa com pessoal e menos de 3% investidos no negócio. Na última
década teve uma nova diretoria a cada dois anos e passou por uma dúzia de
greves.
A
exploração sindical e partidária acabou levando a estatal e seu fundo de
pensão, Postalis, ao centro dos principais casos de corrupção dos últimos 15
anos. Um flagrante de pagamento de propina numa sala da diretoria ilustrou o
caso conhecido como mensalão — compra de maioria parlamentar no primeiro
governo Lula.
Na
sequência, revelou-se uma série de fraudes no Postalis. Uma delas foi o
pagamento de US$ 120 milhões na compra de títulos cujo valor de face somava US$
41 milhões.
Foi uma
operação financeira com sobrepreço de US$ 79 milhões (191%), num fundo de
investimento cujo único cotista era o Postalis. Boa parte dos papéis estava
lastreada em títulos emitidos pelo governo e pela estatal de petróleo da
Venezuela, a PDVSA. Valiam pouco mais que a tinta e o papel usados.
Negócios
como esse, realizados em meio à luta entre o PT e o PMDB pelo comando da
estatal, levaram o Postalis a perder 25% do patrimônio dos associados.
A privatização
é uma alternativa que merece ser considerada, já adotada com êxito no Japão,
por exemplo.
Mas é
necessário cautela, porque o serviço público postal brasileiro tem
peculiaridades.
Os
Correios obtêm 92% de sua receita (R$18,1 bilhões) em 324 cidades. Descontada a
despesa operacional nessas áreas, apura superávit R$ 6,7 bilhões anuais. Em
outros 5.246 municípios, a situação é inversa: gasta R$ 8,1 bilhões por ano
para faturar R$ 1,5 bilhão — ou seja, perde R$ 6,6 bilhões na operação.
Até
agora, a privatização dos Correios não passou de citação em discursos do
presidente e do ministro da Economia. Inexistem estudos e não há debate sobre
alternativas realistas para o futuro da empresa. Lamentável, porque a
degradação desse serviço estratégico limita as chances de expansão mais rápida
do comércio eletrônico.
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