segunda-feira, 2 de setembro de 2019



NOTA PARA A IMPRENSA

ARROGÂNCIA E INEXPERIÊNCIA - DIREÇÃO
DOS CORREIOS DECIDE REDUZIR SALÁRIO
DOS CARTEIROS


A arrogância e inexperiência com que a direção dos Correios tem tratado a questão do acordo coletivo da Empresa são surpreendentes e trágicas.

A troca abrupta de comando dos Correios ocorrida em junho já cobra sua fatura.

Pressionada, por um lado, por uma situação de caixa crítica e, por outro, pela intenção de privatização dos Correios, a atual gestão do General Floriano Peixoto não deu atenção à negociação do acordo coletivo, ignorou a boa vontade do TST em tentar mediar o processo e agora empurra os carteiros e todos os empregados para uma greve de sobrevivência, pois a proposta do general é reduzir os salários dos carteiros pela metade, alegando que ganham muito. O salário inicial dos carteiros é de R$ 1.706,29 e os benefícios, como vale alimentação, cesta básica e adicional de penosidade foram criados ao longo da história dos Correios como salário indireto, para reduzir os encargos trabalhistas.

Sem conhecer o setor postal, a história dos próprios Correios e sem experiência de gestão em grandes organizações, a direção do General Floriano Peixoto trata do acordo como se cuidasse de um pequeno grupamento do exército ou de uma pequena empresa, sem ter em conta a magnitude e importância do serviço postal para o País.

A fatura da atitude arrogante pode sair muito cara, pois cada dia de paralisação custará aos Correios mais de R$ 5 milhões. E os carteiros, ameaçados de terem os salários reduzidos e não terem comida no prato para alimentar suas famílias, ficaram sem alternativas.

As finanças dos Correios podem merecer atenção, mas há fatos não recorrentes que precisam ser levados em conta e parece que a direção da Empresa não quer fazer isso ou foi instruída a não fazê-lo. O PDI realizado neste ano é o mais relevante desses fatos, pois a Empresa desligou mais de 5.000 empregados e pagou à vista as indenizações. Se não tinha reservas de caixa para arcar totalmente com esta despesa, a Empresa deveria ter buscado um empréstimo para levar em frente a iniciativa, já que a operação, no aspecto econômico, seria positiva. Para os trabalhadores, não faz sentido imaginar que um custo com estas características e dessa magnitude tenha que ser absorvido com a redução dos salários.

O fato de o atual Presidente da Empresa nunca ter recebido as representações de trabalhadores é a maior prova da arrogância que caracteriza essa gestão. Sem ouvir e sem experiência prévia em grandes organizações postais ou de logística, a direção comanda os Correios de forma errática, talvez porque não enxergue ou não queira enxergar que uma empresa, para se manter viva, precisa também de inovação, de novos negócios e principalmente de trabalhadores adequadamente remunerados.

A outra possibilidade que se pode cogitar, ainda pior que isso tudo, é que a direção esteja agindo deliberadamente para forçar uma greve e, assim, reforçar os argumentos do governo para tentar justificar a privatização dos Correios. É também uma possibilidade, considerando que, dada a forma arrogante com que a direção dos Correios tem tratado as negociações do acordo coletivo e a própria mediação do TST, bem como a jurisprudência do tribunal, as chances de uma sentença que alcance um dispêndio menor para a Empresa do que se alcançaria com as negociações são praticamente nulas. Ou seja, em função de decisões de sua Diretoria, os Correios correm o sério risco de provocarem uma greve, com aumento de despesas, redução de receitas, arranhões em sua imagem e ainda chegarem a um dissídio que será mais oneroso do que teria sido o fechamento de um acordo. É difícil entender como a direção de uma estatal escolha um caminho assim, exceto se o objetivo for outro, alheio aos interesses da companhia.

O fato é que, seja por arrogância, inexperiência ou má intenção, o encaminhamento dado ao acordo coletivo dos trabalhadores dos Correios tomou um caminho que penalizará a todos, especialmente à própria Empresa. Que o transcorrer dos fatos sirva de lição para demonstrar a importância de profissionalizar a gestão dos Correios e de outras estatais, para evitar que tragédias assim sejam provocadas do nada pelas próprias direções.

Maria Inês Capelli Fulginiti
Presidente da ADCAP
Associação dos Profissionais dos Correios.

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