Crise econômica reduz adesão à campanha de Natal dos Correios
A Tarde
17/12/17
Em um papel em branco, Gabriel, 4 anos,
rabiscou um dinossauro com lápis azul e amarelo. Em outro, Beatriz, 8, escreveu
uma lista extensa com, pelo menos, oito sugestões de presentes, que vão desde
uma boneca até um tablet de última geração, alegando bom comportamento durante
o ano. Já João, 9, pediu um brinquedo para ele e outro para o irmão caçula,
para evitar brigas dentro de casa.
Estas e cerca de outras 24 mil cartas da
campanha Papai Noel dos Correios foram disponibilizadas
para adoção este ano, em Salvador. A crise econômica, no entanto, pode
comprometer a realização dos desejos de todos os alunos de 130 escolas
municipais da cidade e crianças em estado de vulnerabilidade social
selecionadas para participar da iniciativa.
Até a última semana, apenas 50% da totalidade
de cartas haviam sido resgatadas na agência central dos Correios de Salvador,
localizada na Pituba. A quantidade, de acordo com a coordenação da campanha na
capital, é considerada pequena se comparada aos anos anteriores, quando, às
vésperas do Natal, mais 20 mil pedidos já estavam sob a posse dos padrinhos.Em
contrapartida, o número de pedidos também aumentou. O responsável pela
coordenação da iniciativa no estado, Nelson Jorge Santana, também atribui este
aumento à situação econômica do país. "Notamos, este ano, que cresceu a
quantidade de pedidos de itens básicos, como materiais escolares, roupas e
sapatos. Nas cartas, muitas crianças relatam, também, que os pais estão
desempregados", afirmou.
A maioria das cerca de 10 mil pessoas que adotou
as cartinhas, porém, tem pressa em realizar o desejo das crianças: até a última
quinta-feira, sete mil presentes já haviam sido entregues na agência central da
Pituba para, posteriormente, serem entregues às escolas onde as crianças
estudam. Os que ainda não deixaram os presentes na agência têm até amanhã para
fazê-lo.
Padrinhos
O número de cartinhas adotadas, este ano,
pode não ter sido contemplada a contento em comparação aos anos anteriores, no
entanto, no que depender da professora da rede municipal Nair Lima, 40 anos,
boa parte dos alunos da escola onde trabalha não vai ser esquecida por Papai
Noel.Na última semana, ela mobilizou amigos e parentes próximos e os convenceu
a participar de uma rede de solidariedade: cada um deveria escolher um dos pedidos
da campanha vindos dos seus alunos.
"Eu, melhor que qualquer pessoa, conheço
a realidade dos meus alunos. Parte deles não deve ganhar presente de Natal,
pois os pais não têm condições. Então, resolvi convocar alguns amigos para me
ajudar nesta empreitada", disse.
Nesta semana, os garotos receberão os
presentes das mãos do Papai Noel, sem nem imaginar que os mimos chegaram por
meio da "pró" Nair. Ela garante que o presente, na verdade, quem
ganha é ela. "Nada neste mundo paga o sorriso dessas crianças. É um prazer
sem medida", garantiu.
Todos os anos, Sueni Velena Cardoso Costa,
40, participa da campanha Papai Noel dos Correios. Este ano, ela escolheu uma
carta que a tocou: no papel colorido, a criança pedia material escolar para
poder estudar no próximo ano.
"Este ano, eu dei preferência a esta
carta porque me tocou bastante o pedido dela. A criança se privou de pedir um
brinquedo, como muitas outras, para garantir seus estudos. Minha vontade era de
conseguir realizar o desejo de muito mais crianças", disse.
INICIATIVA RECEBE PEDIDOS INUSITADOS
Entre uma infinidade de cartas, os brinquedos e aparelhos tecnológicos estão entre os pedidos mais recorrentes. No entanto, a campanha, desde a criação, há 28 anos, tem recebido pedidos inusitados.
Entre uma infinidade de cartas, os brinquedos e aparelhos tecnológicos estão entre os pedidos mais recorrentes. No entanto, a campanha, desde a criação, há 28 anos, tem recebido pedidos inusitados.
Este ano, chamaram a atenção da coordenação
duas cartas. Em uma delas, a menina Sophia, 2, pede um fogão para a mãe. Na
carta, escrita pela mãe da criança, ela narra um cenário de tristeza por não
poder utilizar o equipamento para preparar as refeições da criança.
“Minha mãe, que está desempregada, cozinha,
muitas vezes, em um fogão a lenha improvisado no quintal de casa e não pode
fazer o meu mingau do jeito que ela queria”, afirma a mãe da criança, que
escreve em nome de Sophia. Segundo a coordenação da campanha, o pedido da
garotinha foi adotado na última semana.
A aposentada Carmelita dos Santos Montes, 70,
foi à sede dos Correios para depositar um pedido: reencontrar as duas irmãs,
que perderam o contato com ela há mais de 50 anos. Natural de Ilhéus, a idosa
contou que espera ganhar este presente de Natal: “Vi na televisão a campanha e
resolvi pedir ao Papai Noel para me ajudar. Gostaria muito de revê-las”.
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