MPT vê assédio moral e abuso de presidente dos Correios contra funcionários
JOTA
18/12/17
Ministério Público do Trabalho afirma que o
presidente dos Correios, Guilherme Campos,
praticou assédio moral e abuso numa ação para forçar funcionários a aderirem ao
plano de demissão voluntária da empresa.
A avaliação consta no parecer da procuradora
do Trabalho, Renata Coelho, enviado ao Tribunal Regional do Trabalho da 10ª
Região na ação civil pública movida pela Associação dos Profissionais dos
Correios, com pedidos de danos morais, contra o presidente da empresa. Para a
entidades, declarações de Campos à imprensa configuram assédio e coação aos
trabalhadores. O presidente dos Correios nega.
Segundo o MP, houve um movimento do
presidente dos Correios para forçar moralmente e economicamente trabalhadores a
aderirem ao PDV sob pena de sofrerem medidas duras como a alteração do plano de
saúde.
“O réu agiu de forma pessoal e ilícita ao
buscar os mais variados meios para propagar ideias que incutiram temor e
insegurança. Não tinha dever de fazê-lo, não era necessário à sua gestão que o
fizesse e não pode, por isso, escusar-se sob o manto da pessoa jurídica que
gere. Em verdade praticou verdadeiro assédio moral, cometeu abuso, excedeu sua
esfera de atribuições e invadiu a esfera moral dos trabalhadores. Responsável
é, ainda que estivessem os Correios como co-réu. Não foi o cargo ou a
organização que o obrigou a praticar os atos danosos e sim o réu que se valeu
do cargo e das informações privilegiadas que possuía para chamar a mídia e por
meio dela cometer abuso e gerar terror com ameaças”, escreveu a procuradora.
“Inadmissível pensar que um gestor possa
praticar todo e qualquer ato em seu cargo e adquira uma espécie de imunidade
ampla e irrestrita, fazendo com que o ente da administração pública, seja
direita ou indireta, arque sozinho com todas as consequências de ilicitudes”,
completou.
Na avaliação da procuradora, Campos se valeu
do cargo e das informações privilegiadas que possuía para “chamar a mídia e por
meio dela cometer abuso e gerar terror com ameaças”. “Não foi o cargo ou a
organização que o obrigou a praticar os atos danosos”, disse.
Segundo a advogada Karoline Martins, que
representa a ADCAP pelo escritório Cezar Britto & Advogados Associados, as
declarações do presidente dos Correios são temerárias e não deveriam ser
proferidas por um gestor público que comanda uma das maiores empresas do país.
“O senhor Guilherme Campos, em suas falas à
imprensa, de caráter bastante ofensivo, tenta justificar o déficit financeiro
da empresa culpando os trabalhadores. Porém, há dados reunidos por federações e
sindicatos, que representam os trabalhadores dos Correios, que comprovam que
este déficit é fruto de sucessivos atos de má gestão”.
Uma das declarações questionadas é de abril,
quando Campos afirmou : “temos um estudo encomendado e a possibilidade de
demissão motivada ainda está na pauta. A empresa não tem condições de arcar com
a sua folha de pagamento”.
À Justiça do Trabalho, a defesa de Campos
afirmou que “não existe ameaça perpetrada, o que existe é uma realidade de
crise econômico-financeira enfrentada pela ECT, sendo que os números não
mentem. […] Logo, não há que se falar em ameaça para adesão ao Plano de
Demissão Incentivada – PDI, mesmo porque a Autora não produz qualquer prova de
que seus associados tenham sido imbuídos de “uma falsa sensação de única opção
segura”.
“Veja-se, sob o aspecto financeiro, que em
2012 o déficit da ECT foi de R$ 949 milhões; em 2013, de R$ 1,6 bilhão; em
2014, de R$ 1,4 bilhão; em 2015, R$ 1,7 bilhão; em 2016, R$ 16 milhões, e em
2017, já acumula R$ 487 milhões.”
“Em decorrência desses resultados, aliados às
expectativas futuras de resultados da ECT, que mantêm a tendência de déficit de
fluxo de caixa, durante o ano 2016 promoveram-se ações no sentido de captar
recursos financeiros por meio de operação de crédito, na modalidade de Capital
de Giro, no valor de R$ 750 milhões, que deverá ser pago com juros. Consoante
demonstrado alhures, a situação econômica-financeira da ECT passa por um
momento de extrema delicadeza, ao que várias medidas têm sido adotadas com o
objetivo de amenizar o deficit das contas e oportunizar a continuidade da
prestação dos serviços postais e garantia dos empregos dos mais de 100.000 (cem
mil) empregados desta Empresa Pública”. (Fonte: JOTA 18/12/17)
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