As pedaladas que os
planos de saúde privados dão no SUS
Carta
Campinas
07 jan. 2016
07 jan. 2016
Apesar
da pouca atenção dada pela grande mídia brasileira ao problema, ou por falta de
interesse ou por interesse comercial, um dos grandes problemas do Sistema Único
de Saúde (SUS) é o parasitismo dos planos de saúde. Recursos que deveriam ser
usados no SUS são drenados para os planos de saúde e ninguém se indigna com a
situação. Todo o atendimento no SUS de usuários de planos privados deveriam ser
ressarcidos ao SUS, assim como o SUS ressarce hospitais e médicos por
atendimentos.
Mas,
segundo professor Mário Scheffer, da Faculdade de Medicina da USP e
vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), desde que
o ressarcimento foi instituído, pela lei 9.656 de 1.998, os planos dão calote
no SUS. Ele afirma que o que retorna aos cofres públicos é quase nada. Uma
solução tentada desde os anos 90 é a integração entre identidade e Cartão SUS,
criando um único cartão com chip.
“Como
está, a regulamentação e a cobrança do ressarcimento favorecem as empresas de
planos de saúde, que contam com a lerdeza da ANS (Agência Nacional de Saúde) e
têm grande margem de manobra e protelações. O SUS — para onde os planos
empurram os atendimentos de alto custo, doentes crônicos, de maior complexidade
e idosos –está subsidiando o setor privado. Sem mudar essa distorção, o SUS não
ganhará nada a mais com a cobrança direta pelos Estados”, disse o professor ao
Blog da Saúde, que fez matéria sobre a tentativa dos governadores de cobrarem
diretamente das operadoras de planos de saúde os atendimentos feitos pelo SUS.
Após
receber a cobrança do SUS, as operadoras podem contestar em diversas
instâncias, com impugnações e recursos. É comum o processo prescrever. Segundo
Scheffer, isso acontece porque é ruim a identificação de quem é cliente de
plano. “Além disso, nem sequer há padronização das informações enviadas pelas
operadoras. Assim, valores ínfimos são recolhidos e repassados pela ANS ao
Fundo Nacional de Saúde (FNS) e diluídos no orçamento federal. Hoje, a maioria
dos serviços prestados pela rede pública de saúde não pode ser legalmente
cobrada para fins de ressarcimento ao SUS. É que os contratos dos planos e, em
muitos casos, a própria legislação, não preveem as coberturas atendidas pela
rede pública. A legislação do ressarcimento ao SUS precisa ser revista, na
perspectiva de o SUS cobrar tudo aquilo que de fato é atendido em hospitais
públicos”, afirma.
Para
Lígia Bahia, professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), toda proposta para ressarcir o SUS é bem-vinda. “Mas
essa proposição dos governadores é improvisada e carente de fundamentação e
inovação. Apenas transfere o impasse da União para Estados e municípios. Os
planos hoje não pagam para a União por que pagariam aos Estados?”, questiona.
Para
ela, considerar o ressarcimento como fonte de financiamento é um equivoco. “As
fontes de financiamento são os impostos e eles têm que expressar a capacidade
de arrecadação de uma sociedade. O ressarcimento é um vetor, um instrumento de
justiça contábil. Nunca irá resolver os problemas de financiamento do sistema
de saúde”, afirmou.
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