quinta-feira, 2 de março de 2017

Correios ainda tem futuro na era digital, mas vive sucessão de erros

Correios do Brasil
02/03/2017
Todos os anos, como agrado garantido em negociação coletiva, os funcionários dos Correios recebem um cartão com R$ 1 mil de crédito para gastar em supermercados. Quando se leva em conta a inchada estrutura de pessoal da empresa, o "vale-peru" - como esse benefício é mais conhecido entre os carteiros - se traduz em uma despesa de R$ 117 milhões.
Tudo nos Correios ganha proporções grandiosas e os dois anos seguidos - 2015 e 2016 - de prejuízo no patamar de R$ 2 bilhões são alarmantes, mas é precipitado considerar a empresa, que completou 354 anos em janeiro, como doente terminal.
É verdade que a comunicação eletrônica tornou obsoleta boa parte das atividades postais, mas a era digital também abre perspectivas promissoras, como o e-commerce, para uma empresa com amplo conhecimento logístico e presença em 5,5 mil municípios.
Por isso, a conta pela sangria financeira dos Correios deve ser debitada menos das transformações tecnológicas e mais da inabilidade de seus gestores. No governo da ex-presidente Dilma Rousseff, falava-se com desenvoltura sobre um "plano estratégico" para a empresa até 2020, mas foram sugados R$ 8 bilhões em dividendos que esvaziaram seus cofres e houve um represamento sem precedentes das tarifas.
O fundo de pensão Postalis é alvo de investigações da Polícia Federal. Seus beneficiários terão que fazer contribuições adicionais até 2039 para cobrir o rombo deixado por investimentos equivocados, como títulos públicos emitidos por Argentina e Venezuela - puros "papéis podres".
Tentativas de maximizar ganhos e enxugar despesas também mostraram resultados menos brilhantes do que indicavam seus anúncios. A concorrência aberta para criação de uma operadora virtual de telefonia celular atraiu poucas empresas. O processo de relicitação do Banco Postal, que poderia gerar receitas bilionárias aos Correios, terminou sem interessados. As adesões ao programa de desligamentos voluntários ficaram em metade do esperado.

Poucas decisões foram tão inconsequentes como a criação da Postal Saúde, em 2013, para cuidar da assistência médica dos empregados. Ela foi, sozinha, responsável por R$ 1,8 bilhão do prejuízo de R$ 2 bilhões verificado no ano passado. A cada R$ 100 gastos pelo plano, nada menos que R$ 93 saem do caixa dos Correios. Não é apenas o vale-peru que estraga as contas e ameaça o futuro da empresa. (Fonte: Valor Econômico)

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