EMPRESAS Infraero
fecha estruturas, enxuga cargos e já prevê
mais demissões
VALOR ECONÔMICO
31/3/17
Em processo de reestruturação e com quatro anos seguidos de prejuízo operacional, a Infraero deve implementar na segunda-feira um dos maiores enxugamentos de sua história recente.
De uma só tacada serão eliminadas 12 superintendências, 43 gerências e 104 coordenações. O corte abrange também oito centros de suporte espalhados pelo país, que hoje dão sustentação técnica e administrativa aos aeroportos da rede. Eles vão fechar e as decisões ficarão concentradas na sede em Brasília. Haverá apenas quatro unidades regionais de apoio e com estrutura mais enxuta: Congonhas (SP), Jacarepaguá (RJ), Recife e Manaus.
"A empresa está superdimensionada e temos que aplicar um remédio amargo", disse ao Valor o presidente da Infraero, Antônio Claret. De acordo com ele, o gasto com a folha de pessoal atinge R$ 2 bilhões por ano e representa cerca de dois terços das despesas operacionais. Com a perda de mais quatro aeroportos, que foram leiloados na semana retrasada, o quadro se agrava. "Precisamos enxugar a máquina. Não dá para segurar."
A meta da estatal é reduzir o número de funcionários na ativa dos atuais 10,8 mil para seis mil até o fim de 2018. Cada empregado tem custo médio de R$ 180 mil por ano. Nos aeroportos privados, a despesa gira em torno de R$ 115 mil anuais por trabalhador, segundo Claret. Boa parte da diferença se explica pelo acúmulo de benefícios e gratificações, que também são alvo dos cortes.
As medidas adotadas a partir da próxima semana vão incluir uma diminuição de 35% das horas extras (com estimativa de economia de R$ 5 milhões por ano) e o fim da compensação salarial para empregados nomeados como "líderes" de projetos (outros R$ 5 milhões). "Parece migalha perto do faturamento global, mas é fundamental para moralizar e dinamizar a empresa", observa o presidente da Infraero.
Haverá um corte de 43 para 31 superintendências, de 150 para 107 gerências e de 259 para 155 coordenações. A extinção dos oito centros de suporte, que ajudavam os aeroportos em procedimentos licitatórios e no acompanhamento de obras, permitirá remanejar imediatamente 174 empregados para outras atividades.
A estatal já havia perdido pouco mais de metade das suas receitas com as duas rodadas de privatização dos aeroportos. Hoje a rede tem 59 terminais, mas ficará menor em julho, quando devem ser assinados os contratos de concessão dos quatro ativos recém-leiloados: Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis.
A transferência à iniciativa privada forçará a abertura de um novo plano de demissões voluntárias. Hoje os quadros da Infraero têm 10.866 empregados. Desta vez, o PDV será voltado ao pessoal dos quatro aeroportos e buscará atingir até 1.250 mil trabalhadores. Outros 1.897 funcionários atuando em torres de controle migrarão para a Força Aérea Brasileira (FAB), que assumirá os serviços de navegação aérea ainda sob responsabilidade da estatal. Claret tem como meta enxugar a folha para seis mil pessoas.
Para atingir esse número, sabe que mais ações serão necessárias, como incentivos para o "empréstimo" de centenas de trabalhadores para outros órgãos do governo. Estão sendo celebrados convênios com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e com a Polícia Rodoviária Federal (PRF).
CORREIOS
Nesse cenário, os empregados continuam vinculados formalmente à Infraero, mas têm seus salários pagos pela autarquia receptora. A cessão, no entanto, é uma escolha exclusivamente dos funcionários e a diretoria da estatal fica de mãos atadas se houver recusa maciça na transferência. É por isso que Claret, ao ser questionado sobre as "demissões motivadas" em estudo nos Correios, não fecha as portas para essa hipótese. Alegando extrema fragilidade financeira, a empresa postal avalia romper com a estabilidade de seus empregados para fazer dispensas em massa e sanear suas contas. "No limite, podemos caminhar para isso também, mas seria o último dos últimos passos", diz o executivo, oriundo do setor privado. "Se o país quiser sair desta crise, precisará de uma atitude firme para resolver a situação das estatais."
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