Fundos de pensão no
País sem engajamento político
Jornal do Comercio
08/09/2016
08/09/2016
Recente operação da Polícia Federal apontou
desvios bilionários nos fundos de pensão das maiores estatais brasileiras.
Enquanto isso, alguns sindicalistas se revoltaram com medidas anunciadas pelo
governo federal, no sentido de que os conselhos e a administração dos fundos
fossem direcionados a pessoas com notório saber técnico, acabando as indicações
políticas. A grita foi grande, e houve até quem pedisse quer o governo
"tirasse as mãos dos fundos de pensão".
O procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, afirmou que ainda não recebeu desdobramentos da Operação Greenfield, que
investiga fraude em fundos de pensão, mas não descarta a possibilidade de
conduzir apurações sobre envolvimento de políticos no caso. "Investigação
é fio de novelo, vai puxando, e vamos ver o que vem", afirmou Janot.
A Polícia Federal investiga os quatro
maiores fundos de pensão estatais brasileiros - Petros, Funcef, Previ e Postalis. A Operação
Greenfield bloqueou R$ 8 bilhões dos investigados, entre eles ex-dirigentes de
empresas como a OAS e a Engevix. Foram cumpridas cinco prisões temporárias e
pelo menos 28 conduções coercitivas.
Agora, provadas aplicações superfaturadas
com prejuízos bilionários enquanto administrados por indicações, na maioria das
vezes, políticas, eis que, finalmente, os fundos de pensão das principais
estatais federais terão uma gestão mais técnica, segundo a decisão do governo.
Bem antes, Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) dos Fundos de Pensão divulgou relatório indiciando nada menos
do que 200 pessoas envolvidas em esquemas fraudulentos que deram prejuízo de
mais de R$ 50 bilhões a quatro das maiores entidades de previdência
complementar do País.
Referida comissão analisou mais
detalhadamente 15 casos, que apontaram fraude e má gestão dos investimentos feitos
pelos dirigentes da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, da Petros, dos
servidores da Petrobras, da Funcef, da Caixa Econômica Federal, e do Postalis,
da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos (ECT).
Há fortes indícios de que contratos de
fachada para consultorias - sempre elas - apoiaram aplicações suspeitas de
conflitos de interesse, porque alguns executivos atuavam tanto no fundo de
pensão como nos planos adquiridos.
O relatório fez também recomendações à
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Tribunal de Contas da União (TCU) e à
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) de melhoria do
controle sobre os fundos de pensão patrocinados por estatais. O relatório
propôs alterações na governança dessas entidades, como a criação de um comitê
de investimento e de auditoria interna. E foi isso que a Câmara aprovou.
Sindicalistas não mais poderão ser
indicados, uma vez que, de fato, poderá haver, como ocorreu, conflitos de
interesses entre o púbico e o privado.
Um dos últimos rombos dos fundos de pensão
alcançou R$ 77,8 bilhões em 2015, segundo levantamento. O aumento em relação a
2014 foi de 151%. Dez planos concentram 80% do déficit de todo o sistema, sendo
que nove deles são patrocinados por empresas estatais, das quais oito são
federais.
E para cobrir os déficits, os associados
são obrigados a pagar um acréscimo em suas mensalidades. Então, tem que mudar
mesmo. O Brasil precisa ser passado a limpo em todos os setores, sejam públicos
ou privados.
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