Fundos de pensão
migram para renda fixa
Estadão
18 Setembro
18 Setembro
Os fundos de pensão têm, no mínimo, R$ 15
bilhões que poderiam ser aplicados em projetos de infraestrutura, mas as
fundações não estão dispostas a trocar o refúgio dos juros altos pagos nos
títulos públicos pelo risco desses negócios, chamados de “investimentos
estruturados”. O valor, estimado ao Estado pelos presidentes das maiores
fundações do País, corresponde à metade do que o governo se dispôs a liberar
para financiar o pacote de concessões lançado na semana passada, com recursos
do fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS, administrado pela Caixa) e do BNDES.
Os fundos de pensão são uma poupança
formada por trabalhadores de uma mesma empresa com a finalidade de complementar
a aposentadoria. O dinheiro é gerido por um colegiado com representantes
indicados pelas empresas e pelos trabalhadores. Os maiores fundos são de
empresas estatais, criados há mais tempo. O patrimônio de centenas de bilhões
que essa indústria administra equivale a 12% do PIB nacional.
Com a alta dos juros e a instabilidade
econômica, as entidades adotaram a política de investimento mais conservadora
da história do mercado de fundos de pensão, com concentração em aplicações de
renda fixa (títulos públicos). Hoje, apenas 2,7% dos quase R$ 730 bilhões da
carteira total dos fundos de pensão nacionais são investidos em projetos de
infraestrutura, o correspondente a R$ 19,5 bilhões.
Essa parcela poderia subir para 5% a 7% em
um cenário de juros em queda e com a possibilidade de usar instrumentos
adequados que blindassem os fundos de cometer os mesmos erros de investimentos
que fracassaram em períodos recentes. Com a tendência de queda da Selic –
atualmente em 14,25% ao ano – os fundos serão obrigados a buscar outros ativos
com maior rentabilidade.
O governo Michel Temer, na mesma linha da
gestão petista, conta com as fundações para financiar os investimentos em
infraestrutura, aposta para impulsionar a atividade econômica. Seria uma forma
de compensar a participação do BNDES, que tem limitação de capital para manter
o papel que vinha exercendo nos pacotes anteriores.
“Ao longo dos anos será um grande desafio
investir, mas devemos respeitar nossa rentabilidade mínima para garantir o
pagamento de benefícios aos associados”, diz Gueitiro Matsuo Genso, presidente
da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, o maior do
País). Ele afirma que, ao não ter a garantia dos prêmios dos títulos públicos,
terá de procurar investimentos de longo prazo, mas com baixo risco e acima da
meta atuarial (mínimo de rentabilidade que o fundo persegue para garantir o
pagamento dos benefícios).
Na mesma linha, Walter Mendes, presidente
da Petros (segundo maior fundo, dos funcionários da Petrobrás), afirma que há
espaço para buscar investimentos com maior risco, como os projetos de
infraestrutura, desde que se enquadrem nas metas do fundo. Segundo ele,
atualmente mais da metade das aplicações da Petros estão em títulos
públicos.
“Existe uma leitura errônea da sociedade,
da Polícia Federal e do Judiciário, de que baixo retorno é consequência de
algum crime”, diz Guilherme Velloso, diretor executivo da Abrapp. “Temos que
levar em conta os riscos inerentes a esses projetos”, complementa.
Estrangeiros. Para incentivar os fundos de
pensão a voltar a investir em peso em infraestrutura, o Banco Mundial, o BNDES
e o governo estudam um novo instrumento, que teria potencial para atrair o
setor e até mesmo investidores estrangeiros. “Infraestrutura é uma boa
oportunidade de investimento para os fundos a médio e longo prazos. Mas as
concessões precisam ter um pouco mais de detalhamento e previsibilidade”,
afirma José Antonio Gragnani, especialista sênior em mercado de capitais do
Banco Mundial.
O novo instrumento deve garantir aos fundos
um fluxo de pagamento de juros durante toda a vida do projeto, incluindo a fase
de construção, e fornecer liquidez para as garantias. “Quando se atrair o
doméstico, em larga escala, virá o estrangeiro”, afirma.
Corrupção. As entidades de previdência
privada, principalmente as patrocinadas por estatais, entraram na mira da
Polícia Federal, que apura suspeitas de corrupção nos aportes, em esquema
semelhante ao verificado na Lava Jato. Não só os juros altos foram responsáveis
pelo conservadorismo nas aplicações, mas também a cautela provocada pelas
investigações, que levaram até a uma CPI na Câmara dos Deputados.
Para os conselheiros que representam os
pensionistas, boa parte do rombo de R$ 84 bilhões dos fundos se deve a escolhas
erradas por influência do governo ou para atender a pressões de políticos.
Segundo eles, o governo pressionou as entidades patrocinadas por estatais a
dividir o risco de projetos de infraestrutura e de apostas em setores
estratégicos, mas deixou os participantes com o prejuízo quando as empresas
naufragaram ou viraram “um saco sem fundo”, com exigência cada vez maior de
recursos para não quebrar.
Juntos, Funcef (fundo de pensão dos
empregados da Caixa Econômica Federal), Petros (Petrobrás), Previ (Banco do
Brasil) e Postalis (Correios)
respondem por mais de 60% do déficit total do sistema. Em 2015, a Petros
registrou déficit de R$ 22,6 bilhões; a Previ, de R$ 16,1 bilhões; a Funcef, de
R$ 8,8 bilhões; e o Postalis, de R$ 1,2 bilhão. As empresas e os participantes
precisarão fazer contribuições extras para cobrir o buraco.
Um plano de aposentadoria registra déficit
quando os ativos não são suficientes para pagar os benefícios previstos até o
último participante vivo do plano. A nova regulação não exige o equacionamento
de todo o déficit. A norma em vigor permite que planos com população mais jovem
tenham mais tempo para administrar os desequilíbrios.
Na visão das fundações, porém, até mesmo os
projetos mais polêmicos – como a Sete Brasil – eram a melhor alternativa de
rentabilidade anos atrás, quando os juros dos títulos públicos estavam baixos.
Atualmente, apontam a recessão como principal fator para o fracasso desses
investimentos.
Acredito que ainda não está bem claro pois há necessidade de melhores explicações.
ResponderExcluirAcredito que ainda não está bem claro pois há necessidade de melhores explicações.
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