Fundos de pensão
contrariam práticas de mercado nos aportes
em empresas
O ESTADO DE S. PAULO
10/9/2016
10/9/2016
Segundo estudo do Insper e cinco gestores
ouvidos pelo ‘Estado’, fundos investiram dinheiro demais em uma empresa
só, escolheram gestores sem experiência e deixaram influência política pautar
decisões ao aplicar dinheiro dos pensionistas
Os fundos de pensão quebraram as principais
práticas de mercado na hora de investir o dinheiro de seus pensionistas em
private equity (compra de participações em empresas). A avaliação consta em
estudo sobre o investimento em private equity de 45 fundos, elaborado pela
escola de negócios Insper, e foi corroborada por cinco gestores do setor
consultados pelo ‘Estado’.
Realizado em parceria com a Spectra
Investments e concluído no início deste ano, o estudo mostra que os fundos
de pensão – e em especial os do setor público, como Petros (Petrobrás), Previ
(Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal) e Postalis (Correios), citados
na Operação Greenfield – ignoraram o que “é benchmark (referência)
internacional na gestão de private equity”, diz a professora responsável
pelo levantamento, Andréa Minardi, pesquisadora do Centro de Estudos de
Finanças do Insper.
Entre as divergências de estratégia entre
os tradicionais gestores globais e os fundos de pensão do Brasil, o estudo
cita a concentração do capital em fundos monoativos – que investem em um só
negócio. Esses veículos de investimento foram criados para aplicar
dinheiro em empresas como Sete Brasil (fabricante de sondas para a
Petrobrás, que viu todo seu capital virar pó), Eldorado (indústria de celulose
da holding J&F, dona do JBS) e ATG (projeto de bolsa de valores para
rivalizar com a BM&FBovespa, que ainda não
começou a operar).
começou a operar).
Uma fonte próxima a um grande fundo de
pensão do País disse que o investimento na Sete Brasil foi feito no auge
do pré-sal, com apoio de grandes investidores, incluindo bancos privados, que
acreditavam no potencial do negócio. “Olhando em retrospecto, ninguém poderia
imaginar o esquema de corrupção por trás disso”, frisou. Em outros casos
de aportes, ele reconheceu que as decisões foram mais políticas do
que estratégicas.
Um gestor de fundo internacional, no
entanto, disse que um profissional experiente apontaria diversas
“luzes amarelas” relativas à construção de sonada para a Petrobras. “A
Sete Brasil era uma empresa iniciante, que teria um só cliente, para fazer
um produto que nunca havia sido fabricado no País antes”, explicou.
“Os perigos eram óbvios, tanto que nenhum fundo estrangeiro entrou na
operação.”
Na maior parte das vezes, o investimento em
private equity é feito em uma empresa com vários anos de mercado, e não em
negócios “nascentes”, como Sete Brasil e ATG.
A professora do Insper lembra que, ao investir
em startups, a praxe é o fomento a um número razoável de empresas, com
valores pequenos aplicados em cada uma delas. “O ganho em um negócio pode,
assim, compensar perdas em outros.” No caso dos fundos brasileiros, apenas
o investimento na Sete Brasil contabilizou bilhões de reais. “A decisão de
investimento de parte desses fundos não tinha perfil profissional”, disse
outro grande gestor.
O estudo da Insper também mostra que os
fundos de pensão tendem a alocar uma grande proporção dos recursos em
setores específicos. Quase a metade (49%) dos investimentos em private equity
dessas entidades se concentrou em infraestrutura. Entre os fundos de
pensão brasileiros, mas do setor privado, a concentração neste setor cai
para 30%; no exterior, respondem por 8% do total.
Gestão. Outra decisão questionável dos
fundos de pensão foi a contratação de gestores pouco experientes para
gerir os aportes em private equity. O estudo do Insper mostra que, em 84% dos
casos, os investimentos ficaram a cargo de empresas com pouca tradição. “E
isso considerando que o critério não é muito rigoroso neste sentido”,
disse Andrea.
O valor cobrado por essas gestoras ficava
muito abaixo do mínimo que o mercado considera razoável no setor, que é de
0,5% ao ano. O gestor de um fundo de private equity disse que, no Brasil, os
fundos de pensão assumem a responsabilidade pelo investimento. “Por isso,
não há muito critério na seleção dos gestores”, afirmou.
Em linha com o que apontam o estudo do
Insper e os profissionais de mercado, relatório divulgado pela Polícia
Federal e pelo Ministério Público nesta semana mostrou que, em alguns casos,
empresas fizeram avaliações conservadoras sobre ativos em que os fundos de
pensão pretendiam investir. As recomendações, no entanto, acabaram
ignoradas.
Questionados sobre as críticas às suas
teses de investimento, Funcef e Petros não responderam até o fechamento da
edição. A Previ informou, por meio da assessoria, que não comentaria. O fundo
Postalis disse não ter ativos no setor de óleo e gás e que faz uso de
“quase todos os produtos disponíveis no mercado”.
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