quinta-feira, 3 de outubro de 2019


BB e Correios voltam a negociar Banco Postal

Contrato vence em dezembro; instituição financeira defende remuneração por transação

Valor
03/10/2019
Por Fabio Graner — De Brasília

Os Correios e o Banco do Brasil voltaram à mesa para negociar a possibilidade de renovação do contrato do Banco Postal. Há uma dificuldade em torno da concepção do negócio, com o banco estatal querendo evitar o pagamento de “luvas” pelo direito de operar o serviço, remunerando por transações. Os Correios, por outro lado, gostariam de receber um bônus para operar com o BB ou outra instituição financeira, segundo fontes informaram ao Valor.

O contrato atualmente em vigor vence em dezembro. A renovação dele ocorreu em 2016, em bases bem menos favoráveis ao inicialmente firmado, em 2011, quando o BB pagou R$ 2,3 bilhões para ter direito a operar o serviço por cinco anos.

Em 2016, quando venceu o contrato, os Correios fizeram nova licitação com preço mínimo de R$ 1,2 bilhão, mais tarifas por transação e performance. O leilão “deu vazio”, ou seja, não teve interessados.

Nesse quadro, a estatal de serviços postais aceitou fazer uma renovação da parceria com o BB com pagamento de R$ 5 milhões mensais e adicional de faturamento.

O Banco Postal opera atualmente em mais de 6 mil agências dos Correios para a prestação de serviços bancários básicos, como saques e depósitos (para correntistas do Banco do Brasil), pagamento de contas e até empréstimos e pagamentos de benefícios do INSS, além de abertura de contas.

Os Correios estão entre as empresas consideradas prioritárias pelo governo Bolsonaro para serem privatizadas. Procurada, a instituição limitou-se a dizer: “Os Correios estudam a manutenção do atendimento de serviços financeiros básicos em suas agências”. O Banco do Brasil não quis comentar a discussão.

Uma fonte explicou que o BB não considera o Banco Postal uma operação ruim, mas gostaria de colocar mais foco em algumas localidades, reforçando sinergias e suprindo lacunas do banco e não uma operação geral.

Hoje, lembra esse interlocutor, há situações em que o banco postal opera praticamente ao lado de agências do BB.

Dessa forma, a instituição financeira estatal pagaria pelas operações a serem realizadas nesses locais em que teria agregação de valor ao seu negócio.

Por outro lado, os Correios estão em crise e precisam de receitas para fortalecer a empresa. Obtendo alguma outorga, teriam um reforço de caixa que pode aliviar as pressões de curto prazo. Além disso, uma operação mais ampla e não apenas em algumas localidades significaria maior receita para a empresa.

Uma das ideias ventiladas nos bastidores seria os Correios não trabalharem com exclusividade, mas ter um sistema semelhante ao da TecBan (Banco 24 horas), que opera com os principais bancos e recebe por transação.

Para operar com o BB, os Correios não precisariam fazer licitação, segundo explicou uma fonte, por conta da nova Lei das Estatais. O instrumento seria uma “parceria estratégica”. As negociações começaram a avançar nesta semana, mas ainda não há um desfecho.

O vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP), Marcos Alves Silva, aponta que a operação do Banco Postal é um dos caminhos para ampliar a capacidade de geração de receita da empresa e evitar a privatização da companhia. “O contrato com o BB vai vencer em dezembro, cadê a seleção pública?”, contestou.

A entidade tem uma proposta que pretende apresentar ao ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, com uma série de iniciativas para desenvolver os Correios sem que a empresa seja vendida ao setor privado.

Além do Banco Postal, a entidade defende que os Correios poderiam fazer parcerias no ramo de armazenagem, de logística integrada com comércio eletrônico; na área de distribuição de seguros populares e de capitalização, aproveitando sua rede de vendas; captação e transporte de produtos com mais de 30 quilos; gestão de endereços para marketing direcionado; parcerias com shoppings virtuais (market place); e reforçar parcerias internacionais de remessas.

Segundo Silva, os Correios precisam profissionalizar sua direção para, com um bom plano de desenvolvimento, aumentar seu valor para o próprio governo federal, sem que precise ser vendido ao setor privado.

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