Justiça bloqueia bens de executivos
do
fundo e pensão
Postalis, dos Correios
O Estado de
S. Paulo
08/07/2015
08/07/2015
São Paulo, 08 - A Justiça Federal de São
Paulo determinou o bloqueio dos bens de 20 pessoas ligadas ao Postalis, fundo
de pensão dos funcionários dos Correios, e a empresas do setor imobiliário que
negociaram a venda de um terreno para o fundo no valor de R$ 196 milhões. As
suspeitas são de que o negócio tenha sido feito de forma irregular.
A determinação do bloqueio dos bens, que
será feito até atingir o valor total da compra do terreno, foi dada em um
processo de improbidade administrativa movido pelo Ministério Público Federal
de São Paulo. O processo corre desde meados de junho em segredo de Justiça. O
MP pede na ação que seja anulada a compra do terreno de 117 mil metros
quadrados em Cajamar (SP), que abriga hoje um centro logístico dos Correios,
feita pelo Postalis em 2012.
As suspeitas em torno da operação se deram
porque uma empresa com sede na Nova Zelândia, a Latam Real State, atravessou o
negócio do Postalis. O fundo de pensão estava negociando a área em Cajamar
diretamente com o empresário Luiz Fernando Pires. De acordo com reportagem da
revista Época de novembro do ano passado, o Postalis estava disposto a pagar R$
194 milhões pelo terreno. Mas Pires o vendeu por R$ 150 milhões à Latam, que
três meses depois o revendeu ao Postalis pelo valor inicial oferecido pelo
fundo.
Entre os executivos do Postalis que tiveram
os bens bloqueados está o atual presidente do fundo, Antonio Carlos Conquista,
que já foi do fundo de pensão da Petrobras e foi indicado ao cargo pelo PT, a
convite do presidente dos Correios, Wagner Pinheiro. A lista ainda inclui o
presidente do Conselho, Ernani Coelho, também indicado pelos Correios ao cargo,
e o diretor administrativo, Roberto Macedo de Siqueira Filho. Também fazem
parte da lista ex-diretores como Ricardo Oliveira Azevedo, da área financeira,
que foi indicação do PMDB, e Sinécio Greve, da área de seguridade.
Obras
Os empresários que fizeram o negócio
imobiliário também tiveram seus bens bloqueados. Um deles é Luiz Fernando
Pires, sócio da construtora mineira Mascarenhas Barbosa Roscoe e proprietário
original do terreno. Outro nome é o do advogado Marcelo Bicudo, representante
da Latam Real State, e a própria Latam.
O advogado Rubens Bombini, sócio de Marcelo
Bicudo, explica que a diferença entre o valor de compra do terreno e o da sua
venda ao Postalis se deu porque a Latam Real State construiu o galpão hoje
usado pelos Correios. Mas não soube dizer quem são os sócios da empresa da Nova
Zelândia e explicou que Bicudo estava em férias e por isso não poderia
responder.
Os envolvidos não foram ainda notificados
pela Justiça, nem mesmo de que estão envolvidos em um processo de improbidade
administrativa. Por telefone, o presidente do Postalis, Antonio Carlos
Conquista, disse que a negociação da área em Cajamar começou em 2010, portanto,
antes de ele assumir a presidência do fundo. A aprovação do negócio se deu na
sua gestão, mas calcada, segundo ele, em laudos que confirmavam o valor justo
do negócios. "E, como ultrapassava 5% do patrimônio do fundo, foi levado à
apreciação do conselho", disse ele.
O presidente do Conselho do Postalis,
Ernani Carneiro, disse que o negócio tem um bom rendimento para o fundo, apesar
do atraso. O fundo estimou que o centro logístico entraria em operação em 2013,
mas só neste ano o complexo foi entregue. Em resposta à revista Época, em
novembro do ano passado, os Correios afirmaram que o atraso se deu por causa de
ajustes pedidos pela estatal.
Os ex-diretores do Postalis não foram
encontrados pela reportagem para comentar o caso e o empresário Luiz Fernando
Pires não respondeu às ligações. Os presidentes da diretoria e do conselho do
fundo não souberam informar se o imóvel está registrado com ganhos ou perdas no
balanço de 2014, que ainda não foi divulgado.
Maus negócios
A compra do terreno é apenas mais uma das
negociações colocadas sob suspeita feitas pelo fundo Postalis nos últimos anos.
Também fazem parte dessa lista aplicações em bancos que seriam posteriormente
liquidados, como o Cruzeiro do Sul e o BVA, e também investimentos atrelados à
dívida de países com problemas, como a Argentina e a Venezuela.
Como resultado dessa equação, o Postalis registrou
um rombo de R$ 5,6 bilhões no plano de benefício definido do fundo. A Previc
chegou à conclusão, depois de seis meses de investigações, que os diretores e
conselheiros do fundo eram responsáveis por uma parte desse rombo. As
informações são do jornal.
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