Para Paim, venda de estatais não trará crescimento econômico
Agência Senado
17/09/2019
Contrário à privatização das
estatais, o senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou em Plenário, nesta terça-feira
(17), que não é com a venda do patrimônio público que o governo conseguirá a
retomada da economia do país.
Segundo ele, o que impede a
superação da crise é a incapacidade do estado de fazer a máquina funcionar,
gerada pela Emenda Constitucional 95, que limitou os gastos públicos.
Preocupado especificamente com o
caso dos Correios, que contam com 100 mil trabalhadores, Paulo Paim afirmou que
a empresa superou problemas na qualidade do serviço prestado e hoje entrega, no
prazo, 99% das encomendas.
Ele alertou que a privatização da
estatal pode privar milhares de municípios desse serviço essencial, uma vez
que, após vendida, não é certo que o novo gestor da empresa irá manter agências
em localidades onde não há lucro.
— Está mais do que na hora de o
governo adotar outra postura e levar a sério medidas que assegurem a
profissionalização da gestão das estatais, incluindo os Correios. Dessa forma,
seria muito mais simples do que tentar privatizar uma empresa que presta um
nítido serviço de utilidade pública. Poucos aqui talvez tenham noção do tamanho
dos Correios, mas todos deveriam ter noção da sua importância — alertou.
Paulo Paim aproveitou para
comentar reportagem publicada no jornal Valor Econômico, que revela o aumento
de 69% no lucro das estatais, quando se comparam os números do primeiro
semestre de 2018 com os do mesmo período do ano passado.
Segundo a reportagem, o lucro no
primeiro semestre deste ano foi de R$ 60,7 bilhões. Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), Petrobras e Eletrobras foram responsáveis por 95 % desse valor,
informou Paulo Paim. (Fonte: Agência Senado)
Íntegra do discurso de Paulo Paim no Senado, em 17/09/2019
O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência
Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Lasier Martins, que preside a
sessão, Senador Humberto Costa, Senador Kajuru, eu aproveito a oportunidade
para falar sobre a situação dos Correios.
Há poucos dias, estive aqui nesta tribuna para falar a
respeito do anúncio do Governo sobre as estatais que poderão ser privatizadas.
Hoje, volto aqui para falar especificamente sobre a questão dos Correios, uma
empresa com mais de 350 anos de história e que tanto nos orgulhou e ainda nos
orgulha. Mas, infelizmente, o que estamos vendo é a utilização de argumentos
insustentáveis na tentativa de alguns de procurarem justificar a privatização
dos Correios.
Sr. Presidente, cabe esclarecer mais uma vez que a estatal
tem um histórico de equilíbrio financeiro, não dá prejuízo ao Estado e cumpre,
com seus próprios recursos, uma missão constitucional. É importante ressaltar
também que os problemas de qualidade que aconteceram em outros tempos já estão
completamente resolvidos. Atualmente, os níveis de qualidade da empresa estão
acima de 98%.
É muito grave quando o Governo quer fazer com que todos
acreditem que a saída para a economia do País é a privatização de suas empresas
estatais. Não é por aí. Se a economia não cresce, se não há empregos, se existe
uma enorme desigualdade social, o único motivo, que podemos aqui destacar, é a
incapacidade de o Estado fazer a máquina funcionar – e claro que a isso aí está
ligada também a Emenda 95, o que fizeram com a reforma trabalhista, o que
fizeram com a chamada MP da liberdade econômica e o que querem fazer agora com
a previdência.
Portanto, a privatização não é a solução. Não é vendendo
as estatais que a realidade da economia brasileira será diferente.
Vou destacar aqui, Sr. Presidente, hoje, notícia publicada
no jornal Valor Econômico:
Resultado do primeiro semestre chega a R$60,7 bilhões nas
cinco maiores [somente nas cinco maiores] empresas públicas e surpreende a
própria equipe econômica.
As estatais [chamadas] "top 5" registraram lucro
líquido de R$60,7 bilhões no primeiro semestre deste ano, um avanço de 69%
sobre igual período [...] [do ano passado]. A taxa de crescimento elevada,
mesmo após um forte período de recuperação no governo de Michel Temer, é vista
na equipe econômica como uma "boa surpresa" pelo lado das receitas.
E deve com isso reforçar os argumentos não a favor da
privatização – porque o Governo vai querer inverter e dizer que isso vai
valorizar mais a privatização. Ora, quero ver quais as empresas que vão dar
quase R$70 bilhões somente, conforme está aqui, as cinco maiores empresas,
repito, no primeiro semestre deste ano. Já se fala que é bem provável que vão
ultrapassar a R$100 bilhões esse ano.
As "top 5" são: grupo Banco do Brasil, grupo
Caixa, grupo BNDES, grupo Petrobras e grupo Eletrobras. Juntas, elas respondem
por 95% do total do resultado [positivo] das empresas estatais federais.
Eu deixo aqui, na íntegra, esse pronunciamento, porque
quero aprofundar ainda, nesse momento, a situação dos Correios, que está se
recuperando e também já mostra que vai dar lucro. Aproveito aqui para lançar
uma pergunta: se os Correios são uma estatal que cumpre, sempre, sem lançar mão
de novos impostos, o imperativo constitucional de levar o serviço postal a
todos os brasileiros, e o faz com grande competência, por que privatizar – e
faria a mesma pergunta para as outras cinco chamadas "top" –, já que
as prováveis consequências – no caso dos Correios – são o aumento de preços e a
redução da rede de atendimento e a demissão em massa, com certeza? Será que
alguém aqui já parou para pensar nisso?
Se o problema do atual Governo é a necessidade de criar
uma pauta positiva, não seria melhor olharem para o que, de fato, está dando errado
– e não para aquilo que está dando certo – e deixar que os Correios, essa
empresa com mais de 350 anos de história e que sempre nos encheu de orgulho,
possam cuidar do serviço postal e de tantas outras atividades?
Não é novidade para ninguém que o País está mergulhado num
mar de problemas. Basta abrir as páginas dos jornais, basta acessar uma rede
social, basta conversar com quem quer que seja. É só ver a pobreza e a miséria
se alastrando nas ruas do País – e ainda querem acabar com a seguridade social.
É extremamente urgente que esses problemas se resolvam, mas não é privatizando
todas as estatais – como eles estão falando – que se veem pela frente que os
problemas serão resolvidos.
Vejam a situação da Vale do Rio Doce, vendida por um preço
insignificante ao mercado na década de 90. Recentemente, tivemos as tragédias
oriundas dessa privatização, como Brumadinho e Mariana. Ou será que alguém já
esqueceu?
Está mais do que na hora de o Governo adotar outra postura
e levar a sério medidas que assegurem a profissionalização da gestão das
estatais, incluindo os Correios. Desta forma, seria muito mais simples do que
tentar privatizar uma empresa que presta um nítido serviço de utilidade
pública. Poucos aqui talvez tenham noção do tamanho dos Correios, mas todos
deveriam ter noção da sua importância.
Os Correios são uma estatal com cerca de 100 mil
trabalhadores honrados, entre eles carteiros, atendentes e operadores de
triagem, que, com seu trabalho quase sempre anônimo, levam as correspondências
a todas as casas no Território nacional. São, portanto, quase 100 mil, repito,
empregados preocupados com o processo de destruição da imagem da estatal. E é
deles um dos principais alertas sobre o erro que será a privatização, segundo
falam aqui os dirigentes sindicais da entidade.
O que está acontecendo nada mais é do que um processo
destrutivo de valores, tudo minuciosamente pensado e planejado para prejudicar
a imagem da empresa diante da opinião pública.
Tentaram fazer com a Petrobras. Tentaram fazer com a
Caixa, com o Banco do Brasil, com a Eletrobras, mas ela deu a volta por cima.
Está aí o lucro das cinco se aproximando a R$70 bilhões.
Cabe aqui mais um alerta, pois é bom não esquecer que os
Correios são uma empresa saudável e que dá lucro. É uma estatal que possui uma
rede logística já montada e que funciona muito bem.
Imagine desmontar toda essa logística, toda essa estrutura
para começar tudo de novo!
É uma estatal que está presente em todo o Território
nacional e há pesquisas e relatórios que provam que 99% das encomendas são
entregues no prazo, o que pode ser considerado um índice excelente.
No mais, será que, com a privatização, as agências que não
forem lucrativas continuarão prestando serviços à população? Claro que não!
Eles vão fechar e demitir os trabalhadores. É óbvio, Sr. Presidente, que muitas
serão fechadas, deixando os Municípios ao deus-dará. Ou será que alguém aqui
acha que a empresa que porventura comprar os Correios vai manter agências que,
na visão deles, não dão o lucro que eles esperam?
Quero chamar ainda a atenção para a ausência de um marco
regulatório, pois a legislação existente se refere basicamente aos Correios,
atualmente o único operador postal.
Falar de privatização no contexto em que estamos vivendo é
repetir no Brasil o que ocorreu ali ao lado, ali na Argentina, onde o correio
foi privatizado de forma atropelada e teve de ser reestatizado depois.
Por tudo isso, penso que os Correios não devem ser
privatizados. Vamos deixar o pessoal dos Correios trabalhar. O mesmo eu digo
para as "top 5", sobre as quais quero aqui reafirmar: elas estão
dando lucro. Repito, nos primeiros seis meses, chegamos a este ponto. As
"top 5" são: o Banco do Brasil, que eles falam também em estatizar; a
Caixa, que eles falam em estatizar; o grupo BNDES, que eles falam em estatizar;
o grupo Petrobras, que eles falam em estatizar; e o grupo Eletrobras. Juntas,
elas respondem por 95% do total do resultado das empresas estatais.
Querer privatizar ou mesmo debater, pensar naquelas que
dão prejuízo é uma coisa, Sr. Presidente, mas aqui estamos apontando exatamente
para aquelas que não merecem nem uma reflexão mais aprofundada, porque estão
dando lucro.
Por isso, eu quero, aqui, reforçar o caminho, Sr.
Presidente... O caminho não é privatizar a previdência, como todos nós sabemos
que é o que seria feito se não fosse a decisão tomada com muita firmeza pela
Câmara e, naturalmente, pelo Senado, não aceitando o regime de capitalização.
Estamos ainda muito preocupados – e aqui eu vou terminar
nestes últimos dois minutos – com o debate da previdência aqui, na Casa. Eu
ainda estou muito esperançoso de que a gente não vá simplesmente, como foi dito
aqui por inúmeros Senadores e como eu também já venho falando há meses,
carimbar a reforma da previdência, mas, sim, fazer com que as emendas, por
exemplo, do abono, a emenda que vai prejudicar 13 milhões de pessoas em relação
ao salário mínimo, a emenda das aposentadorias especiais, que vai prejudicar,
se ficar como está, mais ou menos 15 a 20 milhões de pessoas em todo o País,
entre guardas, vigilantes, guardas municipais, guardas de trânsito,
eletricistas, metalúrgicos, mineiros e tantos outros... Parte deles serão
prejudicados porque estão tirando o direito de se aposentar para quem atua em
área periculosa; e, para outros, estão vinculando idade com tempo de
contribuição em área insalubre e penosa. Todos são prejudicados, inclusive, até
mesmo os professores.
Nessa mesma toada, Sr. Presidente, eu gostaria de lembrar
também que se alguém pensa que vai ser beneficiado está enganado: da classe
média para baixo todos perdem, principalmente os mais pobres, porque agora o
benefício não será mais – de todos: da área pública e privada – das 80 maiores
contribuições, mas, sim, a média de todas as contribuições da vida laboral, o
que, naturalmente, vai ocasionar uma redução dos benefícios.
Era isso, Sr. Presidente. Agradeço a V. Exa.
E lembro que, nesta quarta-feira...
Neste minuto eu termino.
Nesta quarta-feira, teremos, aqui no Plenário, debate da
chamada PEC paralela; e também, na quinta, teremos debate na CCJ, quando vai
ser lido o relatório das emendas apresentadas ao Plenário.
Só reafirmo: se cerca de 500 emendas foram apresentadas
por Senadores e Senadoras, isso significa que os Senadores querem mudar a PEC
nº 6 e olham com muita desconfiança a PEC 133.
Obrigado, Presidente.