ECT vende imóveis e abre plano de demissão
Valor
25/01/2019
Depois de sucessivos prejuízos, a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) conseguiu ficar mais meses
no azul do que no vermelho no ano passado. Essa melhora faz a
possibilidade de privatizar os Correios perder força. Mas o plano de
tornar-se uma empresa mais enxuta está mantido. Neste ano a estatal deve vender
imóveis e reduzir o número de funcionários.
Ontem, o vice-presidente da República,
Hamilton Mourão, afirmou que "por enquanto" não é a favor da
privatização. Ele participou do evento de 356 anos do serviço postal no
Brasil e homenagem ao Dia do Carteiro.
O vice-presidente de operações dos Correios,
Carlos Fortner, disse, em entrevista, que será aberto neste ano um novo plano
de demissão incentivada. A meta é ter a adesão de 8 mil a 10 mil pessoas,
com economia estimada de cerca de R$ 300 milhões na folha de pagamento. A
ECT emprega 105,3 mil pessoas. O último plano atraiu 7,8 mil.
Fortner, que comandou a ECT de abril a
novembro do ano passado, também espera arrecadar cerca de R$ 380 milhões com
a venda de 16 imóveis. O maior deles, localizado no bairro de Pituba, em
Salvador (BA), abriga um terreno de 34,7 mil metros quadrados e área
construída de quase 42 mil. Seu preço foi fixado em R$ 248 milhões.
O plano de enxugamento também prevê fechar agências.
A rede tem 12 mil postos, sendo metade deles próprios. Perguntado quantas
unidades serão fechadas, Fortner respondeu que o número está sendo definido
pois a empresa vai abrir novos modelos de postos de atendimento neste ano.
Faz parte da estratégia ter unidades dentro
de lojas de conveniência, supermercados e drogarias. Há ainda outro modelo, o
de "agência móvel" para atender localidades que não contam com
os postos tradicionais dos Correios.
Outro plano para este ano é investir na
abertura de "lockers" (armários) nas estações do metrô e shopping
centers em São Paulo para que os consumidores retirem suas encomendas.
Esse serviço deve ajudar a diminuir as despesas com tentativas frustradas
de entregas aos clientes dos Correios.
O valor total dos investimentos vai crescer.
No ano passado foram aplicados R$ 225,5 milhões e para 2019 o orçamento é de
R$ 600 milhões, informou a ECT.
"Será preciso andar na linha para não
ter prejuízos", diz Fortner. Para ele, a privatização não será feita se a
ECT mostrar eficiência e sustentabilidade econômico-financeira. "A
empresa está se reerguendo", diz. "A equipe econômica [do ministro
Paulo Guedes] está começando a perceber isso". Ele acrescentou que o
patrimônio líquido voltou a ficar positivo a partir de maio de 2018.
Entre 2014 e 2017, os Correios tiveram
somente três meses com lucro antes de juros, impostos, depreciação e
amortização (Ebitda, na sigla em inglês) positivo, mas a situação foi
revertida no ano passado, com apenas três meses no negativo. De janeiro a outubro, o
lucro foi de R$ 42,28 milhões, abaixo dos R$ 667,308 milhões do ano anterior.
"Temos a expectativa de um balanço
positivo [de 2018], mas menor. Especificamente como resultado de operação mais
enxuta e lucrativa", disse Fortner. O resultado de 2017 foi
beneficiado por decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que
restringiu os benefícios na Postal Saúde, empresa criada em 2014 para
gerir o convênio médico dos funcionários. Esses benefícios chegaram a
representar até 90% do prejuízo bilionário da ECT de 2014 a 2016.
No passado, a empresa enfrentou problemas
para entregar encomendas, que ficavam acumuladas nos centros de triagem,
mas Fortner garantiu que essa dificuldade foi superada. As reclamações
caíram 80% em 2018, em relação a 2017. E as indenizações, na mesma
proporção.
O principal cliente da empresa na área de
encomendas é a varejista on-line Mercado Livre. Netshoes e Amazon também
são atendidas. Fortner disse que os Correios conseguiram atingir um índice
de qualidade comparável aos serviços de concorrentes globais como DHL
Express, FedEx e UPS.
Em março próximo, a ECT deve reajustar o
preço para entrega de encomendas. O reajuste deve ficar em 8%, mesmo patamar
do ano passado. Para cartas, o aumento segue a variação da inflação
(IPCA).
A joint venture com a Azul, que criou uma
empresa de logística, deve começar a operar no primeiro trimestre deste ano,
estima Fortner. Este acordo ainda está sob análise do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Mourão diz que 'por enquanto' não é favorável à privatização dos Correios
G1
24/01/2019
O vice-presidente Hamilton Mourão, presidente
da República em exercício, declarou nesta quinta-feira (24) que “por enquanto”
não é favorável à privatização dos Correios.
Mourão, que está na Presidência devido à
viagem de Bolsonaro a Davos (Suíça), falou sobre o assunto ao ser indagado por
jornalistas após um evento alusivo aos 356 anos dos Correios e de homenagem ao
Dia do Carteiro.
Questionado se é a favor de privatizar a
empresa, respondeu: “Por enquanto, não”.
Durante a campanha eleitoral de 2018, em
entrevista à Band, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a estatal “tinha
grande chance” de ser privatizada caso ele fosse eleito.
“Os Correios têm grande chance de entrar sim
[nas privatizações], até porque o seu fundo de pensão foi simplesmente
implodido pela administração petista”, disse o então candidato. “Os Correios
têm muitas reclamações, diferentemente do passado. Então, os Correios, tendo em
vista a não fazer um trabalho, aquilo que eu acho que nós poderemos estar
recebendo, podem entrar nesse radar da privatização”, acrescentou.
Os Correios são vinculados ao Ministério da
Ciência, Tecnologia e Comunicação. Em dezembro, já anunciado como titular da
pasta, o ministro Marcos Pontes declarou que a privatização da estatal
"por enquanto" não estava na "pauta" do governo.
A administração de Bolsonaro dá continuidade
ao programa de privatização e concessões na área de infraestrutura iniciado no
governo de Michel Temer. A maior participação da iniciativa privada nesta área
é uma das bandeiras de Bolsonaro.
Governo Temer
O ex-presidente Michel Temer, durante seu governo, chegou a avaliar a proposta
de privatizar os Correios. Mas a ideia foi deixada de lado em maio do ano
passado.
Antes, diante das dificuldades financeiras da
estatal, o então ministro Gilberto Kassab (Ciência e Tecnologia) havia afirmado
que "a privatização do todo ou de parte dos Correios" seria o caminho
caso não fosse possível cortar gastos para sanear a empresa.
No momento em que o governo passado analisou
a privatização, a estatal enfrentava situação financeira delicada e vinha de
quatro anos seguidos de prejuízo. Apenas entre 2015 e 2016, as perdas da
empresa somaram R$ 3,6 bilhões.
Em maio do ano passado, Kassab afirmou que o
governo Temer havia desistido da privatização da estatal e que essa discussão
ficaria para o próximo governo.
Direção Nacional da
ADCAP.