Justiça vê 'afronta'
à Lei das Estatais e afasta seis VPs dos Correios
IstoÉ Dinheiro
11/01/2017
11/01/2017
O juiz federal substituto Márcio de França
Moreira, da 8ª Vara do Distrito Federal, decidiu afastar seis vice-presidentes
dos Correios por
considerar que a estatal descumpriu as exigências da Lei das Estatais.
Os nomes tinham sido aprovados em agosto do
ano passado. O magistrado atendeu ao pedido de urgência de uma ação civil
pública da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap) por entender,
segundo ele, que há risco de dano ao interesse público e ao patrimônio da
empresa pelo descumprimento da norma.
A Adcap questionou na ação a aprovação dos
novos executivos dos Correios pelo conselho de administração da estatal.
Segundo a associação, o conselho deixou de verificar se os indicados atendiam
às exigências da Lei das Estatais, sancionada pelo presidente Michel Temer em
junho do ano passado. Para evitar o aparelhamento jurídico, a nova Lei exige,
entre outros critérios, dez anos de atuação em cargos de empresas do setor ou
quatro anos em companhias similares como exigências de experiência
profissional.
"O requisito do perigo de dano é
evidente, pois a empresa pública está sendo gerida por diretores que não
comprovaram a qualificação técnica exigida em lei", afirmou Moreira na
decisão proferida na terça-feira, dia 10, mas só tornada pública nesta
quarta-feira.
Em nota, os Correios afirmaram que a
apreciação das indicações na reunião do conselho de administração se deu
"em estrita observância" dos termos da lei e que vão informar a observância,
em caráter de urgência, ao Poder Judiciário. "A decisão, como proferida,
sem, inclusive, oportunizar os Correios manifestação prévia sobre os fatos
alegados, ocasiona significativos danos à atuação da empresa de modo
geral", alegou a estatal.
Entre os seis nomes aprovados pelo conselho,
e afastados pelo juiz, apenas dois são funcionários de carreira: Eugenio Walter
Pinchemel Montenegro, para vice-presidente corporativo, e Cristiano Barata
Morbach, para vice-presidente da rede de agências e varejo.
Paulo Roberto Cordeiro, que já foi secretário
do governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria, do mesmo partido do
presidente dos Correios e do ministro das Comunicações, Gilberto Kassab (PSD),
foi indicado para vice-presidente de serviços.
Henrique Dourado, que já comandou a Loteria
Mineira e é afilhado do deputado federal Diego Andrade, do PSDB, foi aprovado
como vice-presidente do negócio postal. Francisco Arsênio de Mello Esquef, do
PR, foi escolhido para a vice-presidência de finanças. Darlene Pereira, para a
vice de encomendas.
Para o representante dos trabalhadores no
conselho, Marcos César Alves Silva, nenhum dos novos vices estava apto a
assumir o cargo se fossem respeitados os critérios da Lei das Estatais.
"As escolhas não levaram em conta a meritocracia nem critérios técnicos,
não atendem às exigências de experiência em negócios correlatos da
empresa", afirmou. Ele votou contra todas as indicações. "Nem mesmo
os funcionários de carreira que foram alçados à vice-presidência foram escolhidos
pelo destaque na carreira, mas apenas pelo respaldo de indicações
políticas", completou.
Na decisão, o juiz citou o voto contrário do
conselheiro na reunião de agosto, quando alertou que os currículos dos então
candidatos não comprovavam as exigências da lei das Estatais e que a Casa Civil
também não tinha atestado a conformidade das indicações. Na ocasião, os
Correios justificaram que ainda não havia regulamentação da lei. No entanto,
segundo o magistrado, a aprovação dos nomes dos executivos "afrontou"
a legislação.
Cada vice-presidente tem remuneração mensal
de R$ 40,6 mil. A direção anterior estava sendo ocupada, em sua maioria, por
indicados do PDT, partido do ex-presidente Giovanni Queiroz, médico e
fazendeiro.
Da gestão anterior, foram mantidos José Furian
Filho como vice-presidente de logística e Heli Siqueira de Azevedo como
vice-presidente de gestão de pessoas. O primeiro é funcionário de carreira da
estatal, mas tem o respaldo do PMDB. Azevedo é da leva do PDT.
No vermelho
Mesmo com o monopólio da entrega de cartas
pessoais e comerciais, cartões-postais e malotes, a Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT) fechou no vermelho nos quatro últimos anos, sendo
que em 2016 o prejuízo ficou em R$ 2 bilhões, resultado semelhante ao de 2015.
Em crise, a empresa vai oferecer PDV aos
funcionários em 2017. O plano já foi aprovado pelo Ministério do Planejamento
no fim do ano passado. A expectativa é que entre seis mil e oito mil servidores
deixem a estatal dentre os 13 mil que estariam em condições de aderir à saída
voluntária da empresa. O plano, antecipado pelo jornal "O Estado de S.
Paulo", prevê complementação salarial a ser paga durante oito anos aos
servidores que se desligarem. A companhia estima que, se for bem-sucedido, o
PDV trará economia de R$ 850 milhões a R$ 1 bilhão por ano para a estatal.
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